OPINIÃO

'Tesouros de papel'

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Os "esconderijos" de livros na capital. Com esse título a Veja São Paulo entra no assunto e desvenda o enorme interesse em se manter esses acervos de livros raros e especiais.

Ao mesmo tempo, em que aqui, ao contrário, se discute que nosso gabinete está obsoleto, lá coleções de livros estão sendo aumentadas e expostas, livros ainda são um meio de grande interesse para pesquisa, para leitura e para consulta e mais: grande parte deles não podem estar disponíveis para uso já que são protegidos e precisam de agendamentos.

Aqui a Biblioteca Nelson Foot tem êxito pelo movimento de empréstimo e atividades em seu edifício na Argos. Lá um programa moderno de uso vem comprovando que é bom ler, e gostam sim. Mas ainda assim não se justifica levar para esse lugar o acervo do Gabinete.

Não existe lugar mais popular do que onde o edifício do Gabinete está, que foi tombado em 2010 pelo Condephaat! É o endereço perfeito para inclusão e programas de valorização da leitura, literatura e de divulgação de seu acervo. Está num lugar de diversos pontos de ônibus da periferia de Jundiaí.

Agora será necessário desconstruir a relação importante entre o fim e o edifício, já que se cogita afirmar que não é um lugar para livros e documentos. São, segundo a diretoria, 55 mil livros, provavelmente boa parte de interesse histórico, cientifico e de tecnologia. Esse acervo por si só já precisaria ser estudado e analisado in loco e depois colocado para consulta; alguns com agendamento, outros de maneira que se possa acessar.

Julia Rodrigues, na Veja São Paulo, identificou bibliófilos que como o casal Romulo Pinheiro e Patrícia Peck tem uma das maiores bibliotecas particulares do Brasil. São cerca de 22 mil obras, e entendem que é importante incentivar outras pessoas a formarem suas próprias coleções. Nessa edição, descreve lugares escondidos com milhares de livros conservados e lembra da maior biblioteca da América Latina, a Biblioteca Mario de Andrade, na seção de livros raros com 43.000 obras. O acesso aos raros é restrito e as consultas com justificativa e hora marcada.

O nosso tem essas características: "O Gabinete de Leitura de Jundiaí, cuja ata de fundação remonta ao ano de 1882, juntamente com o de Rio Claro e o de Sorocaba, constitui exemplar remanescente das primeiras bibliotecas públicas da província de São Paulo. O projeto paulista - de ideário liberal de propagação da república e da abolição da escravatura - previu a implantação de uma rede de casas de leitura, com escolas de primeiras letras anexas, nas cidades de economia pujante, que vivenciavam a modernidade introduzida pelo trem de ferro. Diferente das bibliotecas tradicionais, situadas em algumas capitais do Império, destinadas à frequência de poucos e consulta de livros no local, os gabinetes seguem matriz francesa como loja de aluguel de livros, a serem retirados para leitura domiciliar. De caráter laico, até então predominavam, para essa finalidade, as associações religiosas." (CONDEPHAAT 2010).

Com essa forte justificativa do tombamento, não será fácil para os interessados mudar esse caráter e o fim. O edifício perde a identidade sem seu acervo.

Eduardo Carlos Pereira é arquiteto e urbanista (edupereiradesign@gmail.com)

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