OPINIÃO

Centenário da nossa Mãe

28/12/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Oi, Mãe!

Faltam quatro dias para primeiro de janeiro. Muda o ano e a senhora, nascida em 1/1/1924, completa 100 anos.

Interessante, quando a senhora se encontrava do lado de cá, não a considerava com muito idade. Provavelmente pelo seu gosto em viver, o manter-se sempre atualizada, os comentários sobre todos os assuntos... Que coisa, agora me parece bastante tempo, mas que bom convivermos com a senhora por 97 anos.

Imaginava que comemoraríamos os seus 100 anos. Se assim acontecesse, por certo seria a Missa em Ação de Graças na Capela do Carmelo São José, com as Monjas cantando, e celebrada por "seu neto", assumido em 2007, Padre Márcio Felipe de Souza Alves. Com que intensidade ele se fez nossa família! Falando dele, a primeira imagem que me vem é de quando, ao final de uma Missa, lhe entregou uma rosa branca. Como a fez feliz! Gostaria de Dom Gil Antonio Moreira também presente e com a Mira. Enquanto ele esteve à frente da Diocese, festejava o seu aniversário conosco.

Entrariam com a senhora, enquanto eu faria a monição, o João Carlos, a Regina, o Felipe e a Renata. Surpreendente dois netos com o nome de Felipe e os dois gerados pelo coração. Depois, teríamos um lanche, no qual não faltariam os queridos todos, incluindo as mulheres da Magdala e o nosso povo da Casa da Fonte.

Que desvelo imenso o seu, da barriga molhada no tanque à sabedoria da vida. Foi da insistência e não me recordo de um momento sequer que tenha desistido de algo. Até mesmo de me corrigir, às vezes com braveza, foi até os meus 66 anos. Risos.

O termo centenário é histórico. A senhora fez história, cursando a Escola Normal Livre de Jundiaí, dando aula, trabalhando no dispensário de tuberculose e, em seguida, como esposa, mãe e testemunhando a sua fé. A Rose Ormenesi sempre me diz sobre sua fé e suas devoções.

Entre o estar aqui e a despedida houve o momento fortíssimo para sua fé. No banheiro, na madrugada, acabou a força. Como dormia de porta fechada, se me chamasse, por minha deficiência auditiva, não ouviria. O temor por uma queda cresceu. Passar a noite lá, até que amanhecesse, temia que o frio ocasionasse uma pneumonia. Devotíssima de Sant'Ana, pediu que a ajudasse. Repetia que a filha, Nossa Senhora, não deixaria de atender um pedido da mãe. Seguiu em direção à cama, como se alguém a conduzisse. Ao abaixar a mão, tocou no travesseiro. No café da manhã, contou-me em prantos. A avó de Jesus intercedeu. Dois meses depois, se cumpriu o tempo de Deus para sua partida. A senhora mesmo me disse, enquanto aguardávamos a ambulância, que me preparasse, pois estava morrendo.

Seis dias dolorosos que se seguiram para a constatação de que os anjos a vieram buscar para se encontrar com o Senhor.

Na Eternidade o tempo não conta, mas acredito que, de alguma forma, haverá comemoração com o nosso papai saudando a todos. Deus haverá de abraçá-la por sua fé no Céu. Jesus, Maria, José, Sant'Ana e São Joaquim se farão presentes, além daqueles, tão de Deus, que conhecemos aqui e já partiram, liderados por Dom Roberto, Dom Joaquim e Madre Maria Inês (Madre Mestra).

Uma súplica: no momento da festa, peça ao Senhor que envie um pingo de luz para o coração daqueles que aqui estão e sentem saudade grande sua.

Maria Cristina Castilho de Andrade é professora e cronista (criscast@terra.com.br)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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