OPINIÃO

Sorriso mais lindo

02/11/2023 | Tempo de leitura: 3 min

As moças lindas chegaram ansiosas à sede da Associação Maria de Magdala, que atua junto a mulheres em situação de vulnerabilidade social, para um trabalho da faculdade. Estão no segundo ano da Faculdade de Psicologia da Unianchieta. O trabalho foi sobre "Emoções", com o propósito de identificá-las e perceber que promovem sobrevivências e adaptações.

Quem estaria preocupada com as emoções delas, nascidas nas periferias e assistindo a histórias de desconstrução para a sobrevivência? Emoções foi o que menos interessou ao seu entorno de falta de respeito com crianças e adolescentes; ao seu entorno de busca impublicável de homens-instinto.

Feliz as moças: Patrícia P. Ventroni Brombal, Kriziely Bertok, Vania Katzenwadel e Daniela Duarte Tavares por, nem mesmo as conhecendo, apenas por ouvir falar, foram ao encontro delas para refletir de maneira muita didática sobre tantos impactos internos como aborrecimento, desaprovação, submissão, repugnância, ira, terror, assombro, agressividade, tédio e, em contrapartida, amor, confiança, alegria, admiração...

Quando nos consultaram sobre a possibilidade de um momento com elas, de início achamos melhor que não acontecesse. Há alguns anos, um grupo de alunas da mesma área, durante um semestre, desenvolveu com elas um trabalho semanal. Concluído o projeto, viram duas das estudantes na rua e foram cumprimentá-las. Fingiram que não as conheciam. Ou seja, repetiram a atitude de uso, abuso e descarte. Ficamos mais cuidadosas e as próprias integrantes da Magdala disseram que não participariam mais de um trabalho como aquele.

Dessa vez, parecia haver algo diferente e foi mesmo. Muitos sorrisos e entusiasmo por parte das universitárias, num ritmo de querer colaborar para vencer sentimentos como melancolia, tristeza, aversão, ódio, fúria, terror... As integrantes da Pastoral/ Magdala escolhiam as cores com que se identificavam para depois ser refletido sobre elas, como vencê-las e como ampliar as emoções que fazem bem. Um jeito encantado de abordarem o tema, colocando, atrás de cada cor, um sonho de valsa e uma bala, além de uma frase como: "Sempre parece ser impossível até ser feito", "A grande glória da vida não está em não cair, mas em se levantar cada vez que caímos"...

Ofereceram muitos tons a quem não foi dado o direito de ganhar uma caixa de lápis colorido ou uma aquarela. Doaram de si muita doçura, não pelas guloseimas, mas pelo jeito de olhar, falar sorrir, para mulheres, com algumas exceções, que foram surradas por sua história.

Um momento fantástico na avaliação de quem participou. Fizeram-lhes um bem imenso! Vieram desfeitas de qualquer sentimento de superioridade. Colocaram-se no mesmo patamar para repartir aquilo que a vida e a faculdade lhes ensinam.

Conversando, no dia seguinte, com a Patrícia – foi ela que fez o primeiro contato para a realização do trabalho – comentou ter trabalhado dezesseis anos em odontologia, sendo formada em prótese dentária e cuidando da parte estética. Destacou que, na Magdala, encontrara, naquela noite, os sorrisos mais lindos, vindos da alma, até mesmo das que não possuem ou possuem poucos dentes.

Parabéns, moças lindas! Vocês serão responsáveis por novos matizes em histórias desbotadas.

Maria Cristina Castilho de Andrade é professora e cronista (criscast@terra.com.br)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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