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Exposição de crianças nas redes leva a debate sobre cautela

Por Nathália Sousa |
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Divulgação
Fabio Juliate Lopes alerta para os crimes virtuais cometidos contra crianças
Fabio Juliate Lopes alerta para os crimes virtuais cometidos contra crianças

Com o mundo cada vez mais conectado, o uso da internet e o compartilhamento da rotina nas redes passa a ser natural para muitas pessoas. No entanto, há pais que evitem que fotos dos filhos sejam postadas em redes sociais, pois acreditam que a imagem das crianças pode ser usada de maneira indevida por criminosos. Além disso, esses pais geralmente restringem o acesso dos filhos à internet, pelo mesmo motivo, visando protegê-los de possíveis pessoas com más intenções.

O assunto virou pauta há algum tempo e, em 2021, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) lançou um guia, a fim de orientar médicos a identificarem casos de abusos contra crianças, inclusive os praticados on-line. A exposição exagerada de informações sobre crianças representa uma ameaça à intimidade, vida privada e direito à imagem, como dispõe o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Além disso, no futuro, crianças que foram excessivamente expostas podem desaprovar isso.

Jornalista, Teresa Orrú tem dois filhos, de 8 e 9 anos, e evita a exposição de ambos. “Pra mim é muito complicado expor fotos de crianças, principalmente pela questão da pedofilia. Não dá para ter certeza de que as imagens não serão copiadas por pessoas com más intenções. Pra você ter uma ideia, há algumas semanas, as imagens falsas de crianças nuas geradas por inteligência artificial chocaram uma cidade da Espanha. Os retratos foram criados a partir de fotos das jovens totalmente vestidas, muitas delas retiradas de suas próprias contas nas redes sociais”, conta.

Teresa tomou a decisão ainda na gestação do primeiro filho e também decidiu restringir o acesso dos filhos à internet. “Eles usam bem pouco celular e internet. Quando usam, é para jogar algum joguinho que eu baixei, com conteúdo didático, ou ver algum vídeo de animais ou natureza ou algo engraçado. Mas sempre sob minha supervisão. Redes sociais eles não têm. Ainda são muito pequenos pra isso.”

RISCOS

Advogado e professor, Fabio Juliate Lopes diz que há problemáticas relacionadas ao tema. “A exposição de crianças e adolescentes na internet, além de facilitar o acesso de pedófilos a essas imagens, pode trazer outras consequências. Uma delas é o uso indevido das fotos pelos criminosos, que, através de programas de edição, transformam um registro qualquer do cotidiano em conteúdo pornográfico, posteriormente distribuindo esse conteúdo em locais como a deep web.”

“Outra preocupação que se deve ter, é com a identificação dos locais onde as fotos foram tiradas, já que marcar uma localização em uma publicação em rede social pode acabar revelando a rotina da família e da criança, facilitando a ação de criminosos, seja para a prática de crimes sexuais, como de crimes patrimoniais, a exemplo da extorsão mediante sequestro”, explica.

O advogado lembra que é importante orientar sobre o uso da internet, para evitar que a falta de informação seja perigosa para as crianças, e diz que pais podem ser responsabilizados em casos em que o excesso de exposição venha a causar danos à criança. “A legislação brasileira determina que os pais são responsáveis pela segurança e orientação dos filhos menores, e se essa exposição indevida causar danos à criança ou ao adolescente, pode haver a responsabilização dos pais. Os pais também podem responder civilmente em caso de conduta praticada pelos filhos, como, por exemplo, no cyberbulling.”

ROTINA

Psicóloga, Patrícia Cavassani diz que, a partir da vivência profissional, percebe que as postagens de fotos de crianças e as feitas por crianças são maioria ante aos pais que evitam o hábito. “Tem pais que não querem postar fotos dos filhos na internet, mas vejo muito mais crianças expostas, youtubers, do que as que têm a imagem contida. E tem adultos aproveitando essa exposição, as fotos. Seria interessante a cautela em relação a essa exposição.”

A profissional lembra que as crianças que têm redes sociais e acesso aberto a um celular podem postar qualquer coisa. “A criança com acesso à rede pode postar foto da escola, com uniforme, do carro do pai, então alguém com má intenção sabe tudo. Não acho que a criança não pode mexer na internet, mas também é importante evitar mostrar o que faz, não ir para rede social tão novinho. Os pais precisam deixar a criança ter uma certa maturidade e ir liberando acessos. Quando chegarem na adolescência, que tiverem mais consciência, aí sim deixar usar mais à vontade.”

Patrícia diz que, tanto para o uso da criança quanto em relação à exposição, a internet tem riscos que precisam ser observados. “Não dá para falar que a criança só vai postar fotos e usar o celular com alguma idade. Mas também não acho que é certo um bebê usando celular. Tem vários vídeos bacanas para o aprendizado da criança, mas é importante ter momentos para que a criança acesse supervisionada e existem controles do que a criança pode ou não ver e por quanto tempo. Você vai monitorando, vê o que a criança faz no WhatsApp, com quem conversa. Faz parte do mundo, hoje as crianças são tecnológicas, mas fechar os olhos para o acesso e deixar tempo demais é complicado”, alerta.

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