
Há no mundo uma crise relacionada à morte em massa de abelhas. Grande parte dessas mortes é relacionada ao uso incorreto e exacerbado de defensivos agrícolas. Na Região de Jundiaí, que tem uma gama de abelhas nativas da Mata Atlântica na Serra do Japi, por exemplo, assim como abelhas exóticas para produção de mel, esse impacto chega em proporções muito melhores, mas também levanta certa preocupação.
PROPORÇÃO
Tecnólogo em Apicultura e Melipolinicultura e produtor de mel em Itupeva, Ademir Vanini conta que há várias causas para a mortandade de abelhas na região. "Na nossa região, praticamente não usam defensivos agrícolas. Alguns pequenos sitiantes usam fipronil, que é um inseticida que só atinge invertebrados. Colocam na florada de algumas culturas e a abelha que visita a flor leva para a colmeia, que morre. Com o mel desprotegido, outras abelhas levam para suas colmeias e isso gera um efeito dominó. Aqui na região, alguns produtores usam na produção de poncã. Também já falamos muito sobre o fogo, no ano passado perdi caixas por causa da formiga-correição, que antes não tinha na região. Também tem ataque de irara às vezes na Serra do Japi, um animal que come o mel."
Vanini diz que essas perdas são mais pontuais, diferentemente do que acontece em outras regiões do país. "Aqui não tem crise de abelha porque não tem monocultura. Quando tem só uma plantação em uma área muito grande, usam muito defensivo. Na própria plantação de laranja, usam muito e mata muita abelha. Muita gente se preocupa com a fruticultura, mas a maior perda é para a mãe natureza", diz.
PRODUÇÃO
Apicultor, Marçal Rozatti trabalha com a Apis melífera, conhecida como abelha africana, e diz que a região é ótima para a produção de mel. "Não tenho problema de mortandade de abelhas em Jundiaí, porque isso costuma acontecer perto de plantações grandes, como soja, milho, quando fazem aplicação aérea de agrotóxico. Em Jundiaí, as abelhas estão na Serra do Japi, e o máximo que tem lá são pomares."
Marçal percebe que a procura pelo mel vem aumentando com o passar dos anos, demandando aumento de produção. "No decorrer dos anos, a demanda aumentou porque as pessoas começaram a se alimentar melhor. O pós-pandemia alavancou ainda mais as vendas, por ser um produto ótimo para as vias respiratórias. Antigamente, eu só vendia mel para tosse. Hoje, faz parte da alimentação de muitas pessoas."
Apicultor, com uma pequena produção, mas que também trabalha com remoção de abelhas, Marcelo Prestes diz que o problema maior é a pulverização aérea de inseticidas. "Quando jogam inseticida no ar, a abelha que está voando recebe a carga de inseticida e leva para a colmeia, então mata a colmeia toda. Aqui, a região é muito boa para produzir mel, por causa da Serra do Japi, tem também a região do Caxambu, que tem bastante eucalipto."
Marcelo conta que há cada vez mais interesse pela preservação se abelhas. "Tem empresa que demonstra interesse em ter colmeia de abelha sem ferrão, por causa do ISO, tem a questão da preservação ao meio ambiente, então pensam em implantar apiário. Tem a conscientização e tentam preservar a polinização com melipolinicultura", diz ele sobre a cultura de abelhas sem ferrão.
NATURAL
Doutor em ciências biológicas, Renan Kobal de Oliveira Alves Cardoso chama atenção para a diferença entre abelhas nativas e exóticas. "Quando as pessoas falam em colapso das abelhas, pensam em todas as espécies. A espécie africanizada, Apis melífera, não está em extinção, o que acontece é que colmeias estão em colapso. Mas, quando se fala em preservação, é importante pensar em abelha nativa. Tem mais ou menos 20 mil espécies de abelha e a maioria é solitária, não produz mel e são negligenciadas, porque não são muito conhecidas e o principal problema é a destruição do habitat natural delas."
Renan lembra que cada abelha tem seu papel, visto que uma espécie não poliniza todas as plantas, sendo positiva a diversidade de espécies. "Não se sabe nem de todas as espécies que existem na Serra do Japi, então não tem como saber a população. Tem um estudo que um professor fez há 20 anos, um levantamento da população da abelha da orquídea. Uma professora minha fez esse levantamento agora e ainda não concluiu, mas já percebe menos abundância, então a população caiu um pouco."