Opinião

Das possibilidades de Deus

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Passada a festa de Santa Rita de Cássia, tenho mais coisas a escrever. Deixei-me envolver pela atmosfera dela no Santuário Diocesano desta Diocese. Conforme disse à minha querida Marisa Marquesim, improvável estar no Santuário e não se encantar com a Padroeira. Chama-me a atenção a sua vida inserida no Calvário e irradiada em mel de abelhas brancas, rosas, perfume, parreira em flor, orações, paciência nos sofrimentos, insistência, conversão do marido e dos filhos, ser levada de maneira miraculosa para dentro do convento das Agostinianas, a alimentação, durante quatro anos, somente da Eucaristia...

Padre Márcio Felipe de Souza Alves, Reitor do Santuário, Sacerdote da Cruz de Jesus e da Ressurreição, disse: "Através do testemunho de Santa Rita de Cássia, podemos contemplar no mistério da Cruz uma certeza: Deus nunca desiste de nós. A nossa dor pode ser unida à cruz dEle. Assim como Santa Rita, devemos estar com os nossos olhos fixos na cruz".

Como afirmou Dom Vicente Costa, nosso Bispo Emérito, ela viveu as dores da mulher de hoje e conhece os papeis femininos de filha, esposa, mãe, viúva e religiosa. Acrescento o da mulher só, já que da chaga na testa do espinho da cruz (ela pediu a Nosso senhor uma dor de Sua crucificação), exalava mau cheiro e a deixava isolada das demais. Transformou sua solidão em intimidade com Deus e preces.

O estigma em sua testa, desperta-me. De acordo com os estudiosos, o pensamento tem início no córtex cerebral. Não é palpável, mas possui uma base física que é a rede neural, no nosso encéfalo. Foi pelo pensamento que Lúcifer quis ser mais do que Deus e se entregou às penumbras do mal através da soberba.

Santa Rita era toda da humildade. A sua ferida me convida a conter os pensamentos que possam me envaidecer. Como escreveu São João Clímaco em "Escada do Céu": "Humildade é torre de fortaleza contra a qual não será poderoso o pensamento da maldade. (...) Nunca deixemos de examinar-nos e inquirir nossas faltas, se desejamos realmente conhecer-nos. E se de todo o coração tivermos sempre o próximo por melhor do que nós, justa é para conosco a divina misericórdia".

Um acontecimento da vida de Santa Rita que me enternece: bebê, enquanto os pais trabalhavam, um enxame de abelhas brancas a envolveu. Entravam em sua boca e depositavam gotas de mel. Enquanto isso, um lavrador, ferido por uma foice, passou por ela e agitou as mãos para livrá-la do enxame. No mesmo instante o ferimento de sua mão cicatrizou.

Um fato dentre outros que me convida à perseverança: a cicatrização de sua ferida para participar, em 1450, do jubileu de toda a Cristandade em Roma. A ferida reapareceu na volta e também uma enfermidade incurável. Na cela onde faleceu, apareceu uma luz de grande esplendor e um perfume especial. A ferida do espinho, brilhante, limpa. Seu corpo continua conservado intacto.

No Santuário, tenho encontrado, na Mesa da Palavra e da Eucaristia, tão bem cuidada pelo Padre Márcio Felipe, que é do entendimento da Cruz que salva, a perseverança na oração, o amadurecimento espiritual e um povo lindo que busca Santa Rita como vida de inspiração de que aquilo que é impossível aos homens, a Deus é possível.

E o possível de Deus que busco é permanecer em pé diante da Cruz.

Maria Cristina Castilho de Andrade é professora e cronista (criscast@terra.com.br)

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