Opinião

No limite

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Há horas nas quais considero que um número além de pessoas se encontra em seu limite e acabam por ultrapassá-lo com agressões sejam físicas ou verbais. Que difícil essa incapacidade de tolerância.

Incrível como existe gente que, por um grão de areia em seu percurso, explode. Que intensidade de casos de mulheres atacadas por um homem que se considera seu dono, seu capataz. Quantas crianças vitimadas por abuso sexual e demais tipos de violência, por agressores vários, até mesmo por colegas e dentro de casa. E no trânsito? Que esperam os detentores de cólera?

Como dizia Cartola (1908 -1980) na música "O mundo é um moinho", gravada em 1976: "Preste atenção, o mundo é um moinho/ Vai triturar teus sonhos, tão mesquinho/ Vai reduzir as ilusões a pó". Ou seja, é preciso não se deixar triturar pelo mundo com suas inquietações, suas fantasias e a busca constante de seu umbigo. Exatamente isso: seu umbigo. Os violentos e violentadores estão voltados para si mesmos. Desejam que atendam suas perspectivas e desejos, caso contrário explodem.

Que esperam os de umbigos inflados?

Que faz uma criança de 12 anos não admitir perder em uma competição e, a partir disso, encontrar um motivo para machucar, não apenas verbalmente, os vitoriosos? Chutam o outro como se fosse nada. Cria, após, uma versão diferente para os responsáveis, para quem os filhos sempre têm razão.

Que motiva determinados alunos afrontarem os professores, de maneiras diversas, como se não precisassem aprender? Umbigos dilatados, sem dúvida.

Pais que não cuidam de verdade advogam em favor dos filhos em todas as situações, mas depois se surpreendem quando a lei os detém.

E a internet, sem acompanhamento dos responsáveis, também deforma tanto, em especial crianças e adolescentes. O convívio decai e o individualismo cresce.

Pais que defendem os filhos em seus erros, enxergando-os como vítimas do próximo, independente dos erros que cometam, os predispõem a brutalidades. Não notam que as barbáries nascem da falta de limites e que os infratores serão enxergados como produto seu.

Que esperam os pais de filhos insubordinados?

"Que será, que será/ Que dá dentro da gente e que não devia", canta Chico Buarque. Que será que faz com que as pessoas não consigam se enxergar em suas fronteiras e avancem sobre o outros?

Recordo-me de uma história que Dom Gabriel Paulino Bueno Couto, primeiro Bispo da Diocese de Jundiaí, costumava contar nos movimentos de jovens da época. Creio que disse sobre ela em outra oportunidade. O príncipe observava do alto do castelo as festas organizadas pelos plebeus e ficava com muita vontade de participar. Um dia, criou coragem e perguntou se o pai autorizaria a ida dele. Concordou, mas lhe disse que não se esquecesse de que era o filho do rei. Que bom seria se os filhos, em todos os locais, tivessem o bem como perfil de sua casa.

Em sua homilia no 5º. Domingo da Páscoa, o Padre Márcio Felipe de Souza Alves, a respeito do Evangelho de São João (14, 1-12), na fala de Jesus aos seus discípulos: "Não se perturbe o vosso coração. Tendes fé em Deus, tende fé em mim também", destacou que é possível vencer o caos se esperarmos Deus.

Quem, de verdade, os violentos, os que estão no limite esperam, a não ser a si mesmos? E eu e você?

Maria Cristina Castilho de Andrade é professora e cronista (criscast@terra.com.br)

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