Opinião

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29/04/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Acho que eu já falei em outra crônica dessa minha mania de escutar a conversa da mesa do lado. Não faço por mal, mas é que tenho a audição boa.

Dia desses em uma cafeteria no meio do shopping eu ouvi a conversa de duas moças onde uma falava pra outra do babaca com quem tinha saído. Que o cara tinha sido um fofo no primeiro encontro e depois simplesmente sumiu, deixando claro que só queria transar.

Mas essa nem foi a parte que me chamou atenção. O que realmente me fez pensar foi a frase da outra amiga, que disse que na vida elas vão encontrar um ou dois babacas que vão se fazer de legais só pra levarem elas pra cama. Que vão fazê-las pensar que o problema é elas, que não sabem escolher o cara certo e que ele só não quis mais.

Aí eu fiquei pensando o quanto de pontos poderiam ser adicionados a essa lista. E sai de lá com uma pergunta: Eu já fui um babaca? E por mais que eu tente enganar a mim mesmo, a resposta é que já.

Ou por imaturidade, por não saber como lidar com certas situações, ou por qualquer que seja o motivo. A verdade é que não quero me justificar, só quero entender e não ser mais esse tipo de cara que é o motivo de frustração em cafeterias, mesas de bar ou encontros fracassados.

E nem é sobre sair de um date com o carimbo de amor pra toda vida. Tem vezes que o papo não vira, o santo não bate ou o sexo não se encaixa, e tá tudo bem.

Tudo bem, não dar certo, tudo bem não querer mais, ou quem sabe querer só pra amigo. Mas é que eu ainda acredito que do outro lado tem um coração, não esses corações vermelhos de emojis do Whatsapp ou Instagram, mas um coração que pulsa.

Gosto de conhecer pessoas, conversar, rir, trocar histórias. Mas é que não quero ser motivo de tristeza.

Gosto de traduzir alegria com uma pergunta: o que coloca um sorriso no seu rosto? Nada é mais autêntico que um sorriso. Se ele não vem, melhor a gente ir, mas é que não custa nada fechar a porta sem bater. Nem é sobre amor, é sobre empatia.

Nem eu mesmo sei como lidar, admito que já ignorei mensagens, já bloqueei outras tantas e gostaria que no Fantástico, próximo domingo, a Glória Kalil nos ensinasse as boas maneiras de como dizer que não rolou. A etiqueta do fim da paquera.

Mas acho mesmo que não vai rolar, nem nesse domingo e nem nos próximos. E como é difícil achar esse "xis" da questão, esse ponto do meio.

Até onde é sinceridade e até onde passa a ser escroto?

Complicado isso de relacionamento, era tão mais fácil quando a gente só assistia aqueles filmes românticos na Sessão da Tarde, onde um final narrado com "eles viveram felizes para sempre" resolvia tudo.

Mas é que aqui do lado de fora da televisão os roteiros não têm ponto final, não se encerram com uma frase de efeito.

Do outro lado da rua a vida acontece, e do lado de cá também. E, se parar para pensar, esperar uma fórmula, um padrãozinho de como agir nesse ou naquele contexto é pura preguiça.

É bom pensar sobre isso, mas é bom eu pedir o meu café, pois as meninas até já foram embora e eu aqui, olhando para o nada pensando na vida.

Será se existe alguma norma de etiqueta sobre ouvir a conversa alheia?

Jefferson Ribeiro é autor e cronista (jeffribeiroescritor@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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