Opinião

Na Itália e em São Paulo

25/03/2023 | Tempo de leitura: 3 min

A formação de associações italianas de Mútuo Socorro no Brasil foi parte importante da experiência migratória dos milhares de italianos que se estabeleceram temporária ou definitivamente no país a partir de 1860. Assim como na Itália unificada, esse modelo se repetiu aqui simultaneamente, foram sujeitos ativos de processos agremiativos como os que estavam ocorrendo em suas regiões.

De 1870 a 1935, existiam 34 na cidade de São Paulo e quatro em Jundiaí. A maioria se extinguiu na década de 1920, tiveram grande importância na organização dos imigrantes e dos operários imigrantes italianos e suas famílias. Essas sociedades foram precursoras do SUS, pois não havia atendimento médico fora dessas associações, também tiveram um papel associativo e político importante na cidade, reivindicando obras e melhorias no bairro até participações em greves operárias.

Mesmo com a associação limitada às famílias de italianos, como foram concebidas, e os fundos sendo formado com suas pequenas contribuições mensais, o atendimento médico era prestado a qualquer pessoa que necessitasse de ajuda.

Essa história que mais parece nunca ter acontecido entre nós, está viva até nossos dias. A mais longeva delas, a "Sociedade de Muttuo Socorso Barão de Jundiaí" está em declínio. A partir de 1930, quando se exige a alteração dos nomes em italianos por medidas impostas pelo governo Vargas e até recentemente o SUS não permitir nem reconhecer esse tipo de apoio. O atual presidente Carlos Alberto Pereira, seu filho André, tesoureiro, e sócios honorários que fazem parte do conselho cuidam da instituição.

Todos os edifícios das sedes de Sociedades de mútuo socorro foram construídos pelos pedreiros que estavam trabalhando na construção da cidade de Jundiaí, especialmente no centro.

A mais evidente é o remanescente do prédio da "Fratelanzza Italiana", que fica no quadrilátero da antiga Praça das Rosas: de um lado o São Vicente, do outro a Casa da Criança Nossa Senhora do Desterro e, em frente, a sede da antiga "Fratelanzza". Esse prédio, que está ocupado pelo São Vicente, vem sendo reformado sucessivamente para atender as necessidades do hospital, o que está tornando o prédio inicial já quase irreconhecível e distante do caráter e arquitetura que pretendia mostrar. O que ocorre é a invisibilidade desses patrimônios que estão aí e insistem em ficar de pé, mesmo os protegidos não estão sendo.

O grupo que faço parte quer, de alguma maneira, fazer com que essa invisibilidade se reverta. Para isso, já se iniciou os estudos para o Centro de Memória da Imigração Italiana em Jundiaí, que com técnicos, interessados, apreciadores e artistas vão avançar e ampliar a participação de estudantes e preservar documentos.

O que é fundamental lembrar é que não se trata de sectarismo, mas ao contrário, se trata de recuperar a memória e história dessa grande parte de população que contribuiu com a presença na formação da cultura de Jundiaí, evidentemente mesclada com todas as etnias e origens. Se, por um lado, essa é a formação do país que Darcy Ribeiro explicou, o que aconteceu aqui foi exemplar, e não podemos apagar a nossa memória.

Eduardo Carlos Pereira é arquiteto e autor dos livros "Cem Anos da Imigração Italiana em Jundiaí" e "Núcleos Coloniais e Construções Rurais" (edupereiradesign@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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