Ministério da Cultura: A volta por cima

17/12/2022 | Tempo de leitura: 3 min

Margareth Menezes, Ministra da Cultura de 2023.

O Ministério da Cultura vem com a gana de mudar pra valer com uma mulher preta na sua direção, que coloca imediatamente em dia o propósito do acerto de contas com a história brasileira.

Seu renascimento, depois de extinto por 4 anos, de ignorarem o patrimônio histórico, de desmontarem e subestimarem lugares ancestrais com inscrições rupestres e até a volta da censura com restrições morais de salvaguarde dos costumes, volta com expectativas de êxito, mas já enfrentando críticas de caciques céticos, até do PT.

Quando assistimos à queima do acervo do Museu Nacional, por azar dos gestores que ficaram com a responsabilidade de ter acompanhado isso, independentemente de culpa, assistimos também a um marco, símbolo do erro na consideração da gestão da cultura deste século 21.

Música, shows, teatro, e todas as possíveis demonstrações culturais fazem parte da cara do brasil e do sorriso do brasileiro. Caracterizam com absoluta unicidade a alegria do povo brasileiro e essa marca é uma economia de distinção que é nossa e vai rolar com ou sem o ministério de cultura, como foi demonstrado mesmo na pandemia; é resistente e a gente precisa disso.

Pra quem não gosta das cotas para negros, agora é a hora de acertar as contas. País de população negra predominantemente, mas de direção branca por séculos, até hoje como se fosse normal. Meneses representa essa ocupação dos lugares da cultura com o foco nessa mátria preta. Em continuação a Gil, essa gestão terá a missão de sistematizar a produção cultural brasileira.

Domenico De Masi, que lança seu livro "O trabalho no século XXI: Fadiga, ócio e criatividade na sociedade pós-industrial", fala que o mundo seguiu o exemplo da Itália, que em 1901, com 40 milhões de habitantes, se trabalhava 70 bilhões de horas por ano. Depois de um século, com a população de 60 milhões de habitantes, diminuiu o trabalho para 40 bilhões de horas. Tem-se na redução de horas o desarranjo dos objetivos. Se trabalha menos e se produz muito mais do que antes! Como se preparar para o que fazer nas horas vazias? A cultura é uma potente e fundamental resposta pra isso.

Não se pode perder o lugar nessas transformações que a revolução tecnológica propiciou. A produção de arte e o consumo é de todos os itens o de maior valor nessa conta. Ocupar essas horas será uma missão que não se pode negligenciar: gera serviços, produtos e empreendedorismo. Alteração profunda na educação, que ainda está baseada na era industrial, precisa ser revolucionada contemplando a produção de bens imateriais, segundo De Masi.

Meneses já estava envolvida nesses ensaios e bem sucedida. Seu trabalho na ONG Associação Fábrica Cultural teve reconhecimento da ONU, onde é embaixadora do Folclore e da Cultura Popular do Brasil pela IOV/UNESCO. Já tem repertório pra trabalhar com o que já lhe é familiar. O que pode conspirar contra essas coisas são as maquinas de Brasília que ela não está habituada a lidar. É necessário um quadro de técnicos competentes pra arrumar esse burocrático e intrincado sistema de Brasília, um obstáculo que terá que enfrentar e superar.

Por ser cantora, todos se concentram na música que fez dela um símbolo internacional. Mas seu governo só vai premiar o país com sua imagem forte e de poder de mudança. Sucesso pra ela e que se retome rapidamente o IPHAN, nossos patrimônios, nossa produção cultural, e a identidade brasileira, não só na música o que ela faz tão bem, mas também na arquitetura, no planejamento, nas salvaguardas dos patrimônios construídos bem como na sua ocupação e êxito econômico, com a recuperação do respeito e da proteção do espaço ambiental.

Eduardo Carlos Pereira é arquiteto (edupereiradesign@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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