Nos últimos dias de 2024, Jundiaí foi atingida por chuvas intensas, que causaram deslizamentos de terra, alagamentos e sobrecarga nos rios, expondo as fragilidades da infraestrutura urbana. A falta de vazão nos rios e o crescimento urbano aumentaram a intensidade dos problemas em várias regiões da cidade, ampliadas pela crise climática mundial. O transbordo do Rio Jundiaí, na Região da Vila Rio Branco, não acontecia há décadas, com a gravidade que vimos nos últimos dias de dezembro.
No meio do ano passado, a Defesa Civil de Jundiaí realizou um levantamento apontando várias áreas sujeitas a alagamentos e deslizamentos. Em 2024, o vereador e atual presidente da Câmara, Edicarlos Vieira, sugeriu a criação de um Plano de Gestão de Águas Pluviais, que incluía o mapeamento de áreas alagáveis e estratégias de prevenção. A emenda ao Plano Diretor visava tornar a cidade mais preparada para lidar com esses problemas, mas foi negada pelos vereadores.
O presidente da Câmara de Jundiaí, Edicarlos Vieira, afirma que o assunto é de extrema importância por conta do aquecimento global. “Precisamos ampliar nossas áreas permeáveis nas cidades.” Edicarlos pretende envolver os municípios de Campo Limpo Paulista, Várzea e Itupeva na discussão e articular junto à Prefeitura de Jundiaí soluções comuns. “Sabemos que iremos precisar de recursos estaduais e federais para estas obras, mas é de extrema importância olharmos para este tema urgentemente.”
Presidente da Câmara, Edicarlos Vieira, já propôs projeto de gestão de águas pluviais
O arquiteto e urbanista Bruno Gobi afirma que as modificações no curso dos rios, realizadas ao longo da história da cidade, contribuem para o agravamento das enchentes. A retificação e o encanamento de trechos de rios, como o Rio Jundiaí, o Córrego das Valquírias e o Córrego do Mato, ocorreram ao longo dos anos para facilitar o crescimento urbano. Essas práticas, no entanto, têm sobrecarregado o sistema de drenagem e piorado os alagamentos, especialmente em bairros como Varjão, Jardim Cica, Vila Rio Branco e Jundiaí-Mirim.
"Essas intervenções, embora feitas para expandir a cidade, acabam impedindo o fluxo natural das águas, resultando em um escoamento deficiente durante as chuvas intensas", afirmou Bruno. Ele também destacou que o crescimento desordenado nas áreas próximas aos rios, especialmente em regiões de várzea, tem sido agravado pela falta de saneamento básico e construções irregulares, que despejam esgoto diretamente nos corpos d'água.
Em 2014, a Secretaria de Serviços Públicos elaborou o "Plano Municipal de Gestão Integrada e Drenagem", com a proposta de combater as enchentes através de reservatórios e ampliação das calhas dos rios. Já em 2019, o Concurso para o Vale do Rio Jundiaí trouxe ideias de revitalização da região, como a recuperação das várzeas e a ampliação da calha do Rio Jundiaí e do Rio Guapeva. Entretanto, esses projetos não foram implementados.
Arquiteto Bruno Gobbi afirma que é preciso revisar o plano de drenagem municipal
A implementação do projeto para o Vale do Rio Jundiaí, segundo o arquiteto, teria um grande impacto na contenção de enchentes. "Recuperar as várzeas e criar um parque linear poderia não só melhorar o controle das enchentes, mas também promover benefícios sociais e ambientais para a cidade", afirmou. Ele também pontuou a necessidade urgente de revisar o Plano de Drenagem, incluindo áreas que não foram consideradas no estudo original.
Monitoramento
Em Jundiaí, há 20 áreas de alagamento monitoradas, divididas entre o risco baixo (1), médio (5), alto (6) e muito alto (8). Essas áreas podem ter riscos minimizados com ações de limpeza, desassoreamento e estabilização do talude marginal. Já entre as 16 áreas que têm risco de deslizamento, há prioridades média (3), alta (9) e muito alta (4), que podem ter como prevenção a instalação de taludes.
Além dos locais indicados, há outros em Jundiaí que sofrem com alagamentos e deslizamentos e não estão previstos no monitoramento, como é o caso do Jardim Novo Horizonte e da avenida Luiz Latorre, por exemplo, que estão às margens do Rio Jundiaí e tiveram casos de alagamentos recentes. Ou, no caso de deslizamento, há pontos na Vila Marlene.
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