RISCOS

Alagamentos e deslizamentos expõem falhas estruturais em Jundiaí

Por Camila Bandeira |
| Tempo de leitura: 3 min
Divulgação
Noite de domingo (29) teve chuvas intensas em Jundiaí, gerando alagamentos
Noite de domingo (29) teve chuvas intensas em Jundiaí, gerando alagamentos

Nos últimos dias de 2024, Jundiaí foi atingida por chuvas intensas, que causaram deslizamentos de terra, alagamentos e sobrecarga nos rios, expondo as fragilidades da infraestrutura urbana. A falta de vazão nos rios e o crescimento urbano aumentaram a intensidade dos problemas em várias regiões da cidade, ampliadas pela crise climática mundial. O transbordo do Rio Jundiaí, na Região da Vila Rio Branco, não acontecia há décadas, com a gravidade que vimos nos últimos dias de dezembro.
 
No meio do ano passado, a Defesa Civil de Jundiaí realizou um levantamento apontando várias áreas sujeitas a alagamentos e deslizamentos. Em 2024, o vereador e atual presidente da Câmara, Edicarlos Vieira, sugeriu a criação de um Plano de Gestão de Águas Pluviais, que incluía o mapeamento de áreas alagáveis e estratégias de prevenção. A emenda ao Plano Diretor visava tornar a cidade mais preparada para lidar com esses problemas, mas foi negada pelos vereadores.

O presidente da Câmara de Jundiaí, Edicarlos Vieira, afirma que o assunto é de extrema importância por conta do aquecimento global. “Precisamos ampliar nossas áreas permeáveis nas cidades.” Edicarlos pretende envolver os municípios de Campo Limpo Paulista, Várzea e Itupeva na discussão e articular junto à Prefeitura de Jundiaí soluções comuns. “Sabemos que iremos precisar de recursos estaduais e federais para estas obras, mas é de extrema importância olharmos para este tema urgentemente.”


Presidente da Câmara, Edicarlos Vieira, já propôs projeto de gestão de águas pluviais

O arquiteto e urbanista Bruno Gobi afirma que as modificações no curso dos rios, realizadas ao longo da história da cidade, contribuem para o agravamento das enchentes. A retificação e o encanamento de trechos de rios, como o Rio Jundiaí, o Córrego das Valquírias e o Córrego do Mato, ocorreram ao longo dos anos para facilitar o crescimento urbano. Essas práticas, no entanto, têm sobrecarregado o sistema de drenagem e piorado os alagamentos, especialmente em bairros como Varjão, Jardim Cica, Vila Rio Branco e Jundiaí-Mirim.

"Essas intervenções, embora feitas para expandir a cidade, acabam impedindo o fluxo natural das águas, resultando em um escoamento deficiente durante as chuvas intensas", afirmou Bruno. Ele também destacou que o crescimento desordenado nas áreas próximas aos rios, especialmente em regiões de várzea, tem sido agravado pela falta de saneamento básico e construções irregulares, que despejam esgoto diretamente nos corpos d'água.

Em 2014, a Secretaria de Serviços Públicos elaborou o "Plano Municipal de Gestão Integrada e Drenagem", com a proposta de combater as enchentes através de reservatórios e ampliação das calhas dos rios. Já em 2019, o Concurso para o Vale do Rio Jundiaí trouxe ideias de revitalização da região, como a recuperação das várzeas e a ampliação da calha do Rio Jundiaí e do Rio Guapeva. Entretanto, esses projetos não foram implementados.


Arquiteto Bruno Gobbi afirma que é preciso revisar o plano de drenagem municipal

A implementação do projeto para o Vale do Rio Jundiaí, segundo o arquiteto, teria um grande impacto na contenção de enchentes. "Recuperar as várzeas e criar um parque linear poderia não só melhorar o controle das enchentes, mas também promover benefícios sociais e ambientais para a cidade", afirmou. Ele também pontuou a necessidade urgente de revisar o Plano de Drenagem, incluindo áreas que não foram consideradas no estudo original.

Monitoramento
Em Jundiaí, há 20 áreas de alagamento monitoradas,  divididas entre o risco baixo (1), médio (5), alto (6) e muito alto (8). Essas áreas podem ter riscos minimizados com ações de limpeza, desassoreamento e estabilização do talude marginal. Já entre as 16 áreas que têm risco de deslizamento, há prioridades média (3), alta (9) e muito alta (4), que podem ter como prevenção a instalação de taludes. 

Além dos locais indicados, há outros em Jundiaí que sofrem com alagamentos e deslizamentos e não estão previstos no monitoramento, como é o caso do Jardim Novo Horizonte e da avenida Luiz Latorre, por exemplo, que estão às margens do  Rio Jundiaí e tiveram casos de alagamentos recentes. Ou, no caso de deslizamento, há pontos na Vila Marlene.

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