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Os 50 anos da Catedral, a igreja-mãe da Diocese; ASSISTA

Por Heloísa Taveira e Pedro Baccelli | da Redação
| Tempo de leitura: 9 min
Dirceu Garcia/GCN
Catedral de Franca: 50 anos sede da Diocese
Catedral de Franca: 50 anos sede da Diocese

“Se Deus permitiu que nós estivéssemos aqui neste ano histórico, é porque podemos celebrar com alegria e gratidão tantas pessoas que fizeram parte desta história”. As palavras são de Dom Paulo Roberto Beloto, o quarto bispo a assumir a Diocese de Franca em 50 anos de existência.

Foi em 1971 que Franca se desmembrou da arquidiocese de Ribeirão Preto e passou a ter autonomia para “gerir” as paróquias da própria cidade e outras 18 da região, sendo 44 paróquias no total. Todas elas comandadas na época por Dom Diógenes, eleito o primeiro bispo da Diocese e que ocupou o posto por cerca de 35 anos.

Dom Diógenes somente deixou a Diocese quando, aos 75 anos, se aposentou, se tornando um bispo emérito. O padre Rogério Ruffo, pároco da Catedral de Franca, lembra que este é um procedimento comum na Igreja Católica.

“Quando ele completou 75 anos de vida, Dom Diógenes escreveu a carta de renúncia e o Papa enviou um novo bispo. No caso, foi o Dom Frei Caetano Ferrari, segundo bispo da Diocese de Franca que ficou aproximadamente sete anos na cidade”, falou o padre.

Na sequência, o Papa Bento XVI enviou Dom Pedro Luiz Stringhini para estar à frente da Diocese, onde ficou por quase três anos e foi transferido para Mogi das Cruzes. Para assumir, em 2013, o atual bispo Dom Paulo Roberto Beloto chegou a Franca, onde completa, neste mês, oito anos na cidade.

“Eu me senti muito bem acolhido aqui em Franca, graças a Deus, não tive dificuldade de adaptação. Franca é uma cidade muito religiosa, dizem as pesquisas que em média, 60% são católicas. Desses, 15% a 20% costumam frequentar (a igreja), mas a maioria tem sua devoção”, falou Dom Paulo.

Bispo Dom Paulo Roberto: oito anos na Diocese de Franca

A ‘igreja mãe’ da Diocese

A Igreja Nossa Senhora da Conceição, Catedral da Franca, é considerada a “mãe” de todas as outras paróquias da Diocese. O padre Rogério, que completa em janeiro cinco anos como pároco da matriz, afirma que o forte da igreja são as celebrações da missa e o atendimento de confissões.

“O povo nos procura muito. Vão ao Centro, ao médico, ao comércio e depois passam aqui na Catedral para fazer suas orações e aproveitam para o atendimento de confissões. A beleza de nossa Catedral manifesta, de alguma maneira, a presença e a graça de Deus”, disse Rogério. “Nada como rezar em uma igreja bonita”.

Padre Rogério Ruffo, pároco da Catedral

Mesmo sendo a principal igreja da cidade, todo o esplendor atual da matriz foi sendo aprimorado conforme os anos. O padre José Geraldo Segantim, que viveu a maior parte da história da Diocese de Franca como pároco da Catedral, esteve à frente de muitas reformas realizadas em 108 anos desde que a primeira missa foi celebrada.

“Durante alguns anos nós reformamos e adaptamos a Catedral. Começamos pelo telhado, trocamos todas as telhas, telhas já quase centenárias e que estavam dando problemas. Depois o piso, colocamos esse piso que está hoje lá e a pintura também”, disse José Geraldo.

O padre conta que a cor azul que destaca a igreja se deu a partir da ideia de uma artista plástica. “Já ouvi falar muitas vezes que a Catedral era azul por causa do manto de Nossa Senhora. Ela (a artista) propôs para que raspássemos um pedacinho da igreja externa e quem sabe não encontraríamos algum indício dessa pintura. E não é que nós encontramos a pintura azul clara da primeira vez que pintaram? Aí resolvemos pintar a igreja de branco e azul, que são as cores marianas”.

Padre José Geraldo Segantim, atual pároco da paróquia Santo Antônio

A criação da Diocese, há 50 anos, fez com que houvesse uma grande expansão em diversas atividades religiosas na cidade, com a construção do Carmelo, do Seminário e diversas comunidades. “Apareceram também as realidades, como por exemplo, o Cenáculo, o Hallel e todo um campo de evangelização que foi crescendo em toda a nossa região”, destacou Segantim.

Uma longa história
Freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Franca, Vila Franca Del Rey, Franca do Imperador ou apenas Franca. Não importa como foi chamada, a Matriz “Nossa Senhora da Conceição” esteve presente durante toda a história da cidade. A igreja centenária carrega marcas do passado, sem deixar de vislumbrar o futuro.

A primeira Matriz foi erguida no início do século XIX. Onde hoje é a Fonte Luminosa, no passado foi solo consagrado pela Igreja Católica. A construção, que durou mais de dez anos, foi concluída em 1820. Considerada freguesia, Franca foi elevada a cidade apenas em novembro de 1824.

Diferente da atualidade, a Matriz era uma simples construção que refletia as condições da época, onde as casas eram feitas a pau a prumo, com ripas e travessões, vãos com barro e as paredes rebocadas com areia fina. Os imóveis geralmente eram pequenos e revestidos com palha.

O progresso aos poucos foi desembarcando na pequena comunidade. Foram inaugurados o 1º edifício da Câmara, o Cemitério da Saudade, a Estação Ferroviária e o Colégio Nossa Senhora de Lourdes até 1890. A pequena igreja já não atendia mais as necessidades da cidade em crescimento. Até que o cônego Cândido Martins da Silveira Rosa, o Monsenhor Rosa que dá nome à rua, fez inúmeros pedidos a direção da igreja para construção de um novo templo.

A nova Matriz
A permissão para construção de uma nova Matriz foi concedida pelo Vigário Capitular da Diocese de São Paulo, cônego Exéquias Galvão da Fontoura, no dia 24 de março de 1898. A carta continha a autorização e algumas exigências: o templo deveria ser de fácil acesso e não poderia ser erguido em terreno úmido ou próximo a prostibulo.

A Pedra Fundamental, que simboliza Jesus Cristo, foi colocada em 1898. O início da obra aconteceu em meados do ano de 1900. Após demarcação da área, os trabalhadores abriram valas para sustentação das paredes, seguindo projeto do Dr. Joaquim Mariano de Amorim Carrão, engenheiro da Cia. Mogiana de Estrada de Ferro.

Início da construção da Igreja Matriz, em 1900 | Colorização Marcelo Fradim

A comissão responsável, em acordo com o engenheiro, decidiu reduzir em dez metros o tamanho da construção, pelo alto custo do projeto, em 1902. Aos 65 anos, Monsenhor Rosa faleceu em setembro do ano seguinte. Após sua morte, o Padre Luís de Góis Conrado continuou os trabalhos de arrecadação de fundos para a construção.

Apesar de inacabada, a nova Matriz recebeu sua primeira missa no dia 8 de dezembro de 1913. A inauguração marcou o fim do antigo templo, que terminou demolido em 1915 após decisão das autoridades religiosas da época. O repasse do terreno ao município aconteceu mediante algumas condições. Confira trecho retirado de escritura pública:

“O terreno occupado pela dita egreja matriz velha só poderá ser utilizado pela Camara Municipal para ser ajardinado, podendo a outorgada Camara Municipal alli construir um coreto (cobertura ao ar livre em praças ou jardins) ou herma (local solitário), não podendo ser entregue ao público antes de ser feita a exhumação dos ossos de cadaveres alli sepultados”
Franca, 25 de fevereiro de 1913.

O novo templo permaneceu sem reboque durante anos. A parte interna foi finalizada apenas na década seguinte (1923), contendo o altar, pinturas altocrevesca e uma réplica da obra “Anunciação”, de Bartolomé Esteban Murillo. Posteriormente, as colunas internas das três naves, os arcos góticos no teto e os altares laterais foram planejados e colocados.

A então Igreja Matriz, em 1911 | Colorização Marcelo Fradim

Sob os cuidados do pároco Frei Roque Yabar iniciou o levantamento da torre central, de 70 metros de altura, e o revestimento externo, em 1938. Na última etapa da construção, com supervisão do Frei Manoel Gonzales, foram colocados doze apóstolos em doze colunas da parte externa e vitrais coloridos representando momentos divinos. Com os trabalhos encerrados, durante governo do prefeito José Guerrieri de Resende, a primeira missa de celebração aconteceu em 8 de dezembro de 1944.

A então Igreja Matriz, em 1912 | Colorização Marcelo Fradim

Construída em estilo neogótico, a igreja possui 1.062 metros quadrados e 60 metros de altura. “A antiga Matriz estava velha, pois era de pau a pique e já não comportava mais a comunidade. Era uma igreja antiga para uma cidade em crescimento”, disse o historiador José Chiachiri Filho, já falecido, em entrevista ao jornal Comércio da Franca em dezembro de 2012.

De acordo com Chiachiri, o modelo da Matriz foi inspirado na Catedral de Colônia, na Alemanha. “Ela é um monumento bonito, majestoso e que foi construído em etapas”.

A então Igreja Matriz, em 1922 | Colorização Marcelo Fradim

A igreja-mãe da Diocese
Franca fazia parte da Diocese de Ribeirão Preto. O crescimento da região acarretou na necessidade do desmembramento da unidade. Dom Felício César da Cunha Vasconcelos encaminhou o pedido de criação de uma nova Diocese à CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). A proposta foi aprovada pelo colégio, reunido em Brasília (DF), e encaminhado até o Vaticano, na Itália, onde aconteceria o estudo.

O Santo Padre o Papa Paulo VI assinou o documento oficial nomeando bispo da Diocese de Franca Monsenhor Diógenes Silva Matthes, no dia 18 de março de 1971. Nascia, através daquele telegrama destinado ao Núcleo Apostólico do Brasil, a Diocese de Franca. Compõe a arquidiocese os municípios de Aramina, Buritizal, Cristais Paulista, Franca, Guará, Igarapava, Jeriquara, Nuporanga, Orlândia, Patrocínio Paulista, Pedregulho, Ribeirão Corrente, Rifaina, Sales Oliveira, São Joaquim da Barra e São José da Bela Vista. Além dos municípios citados, Ituverava, Itirapuã e Restinga estão inseridos atualmente, totalizando 19 cidades.

A então Igreja Matriz, em 1947 | Colorização Marcelo Fradim

Com a criação da Diocese de Franca, a Matriz foi elevada a Catedral “Nossa Senhora da Conceição” pelo Papa Paulo VI. O nome Catedral é dado porque lá existe a cátedra, que é a cadeira do bispo.

A já Catedral Nossa Senhora da Conceição, em 1975 | Colorização Marcelo Fradim

A mãe da Diocese de Franca assumiu três diferentes cores até voltar à cor original (azul claro). Durante o tempo, sofreu algumas modificações, com a retirada de altares laterais e a construção de novos nichos. A principal interferência foi a implantação das colunas dentro da igreja, que, de acordo com registros históricos, não faziam parte do projeto original.

A Catedral, em 1980 | Colorização Marcelo Fradim

Em 50 anos de Diocese e da transformação de Matriz em Catedral, a igreja teve seis párocos, incluindo o atual, Rogério Ruffo, que assumiu a posição em janeiro de 2017.

Essa reportagem especial foi possível graças ao apoio institucional da Hapvida.

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