DIA DO ÍNDIO

Caiapós: os primeiros habitantes de Franca e região

Por Victor Linjardi | da Redação
| Tempo de leitura: 3 min
Estadão Conteúdo
Raoni Metuktire, atual líder Caiapó, é conhecido internacionalmente por sua luta pela preservação da Amazônia e dos povos indígenas
Raoni Metuktire, atual líder Caiapó, é conhecido internacionalmente por sua luta pela preservação da Amazônia e dos povos indígenas

O 19 de abril é marcado como o Dia do Índio no Brasil. A data é para relembrar e homenagear as tradições indígenas que fazem parte da formação étnica-cultural do país. A data comemorativa foi decretada em 1943, por Getúlio Vargas, e foi escolhida em menção ao Primeiro Congresso Indigenista ocorrido no México, em 1940.

Para contextualizar a influência dos povos nativos da região, o GCN conversou com a chefe do Departamento de História da Unesp Franca, Ana Raquel Portugal. Ela narrou a história dos Caiapós, tidos como os primeiros habitantes de Franca e das cidades ao redor.

De acordo com a professora, os Caiapós viviam entre os rios Pardo e Sapucaí, que hoje é a região de Batatais. A cidade foi batizada com este nome justamente por uma das especialidades deste povo: a plantação de batatas. Além de batatas, eles cultivavam milho e mandioca. Até hoje uma das principais características dos Caiapós é o uso de boquetes no lábio inferior e nas orelhas. Eles também pintam seus corpos, de acordo com a idade.

As mulheres eram responsáveis por cuidar dos plantios e afazeres domésticos. Os homens se empenhavam na caça, guerra, rituais e em questões políticas. As aldeias possuíam vários chefes. Cada um em uma casa comunitária. Não era uma questão hereditária, mas sim de aprendizado com os mais velhos. Era tradição também a relação de respeito com a floresta, com a natureza. Antes de sair para caçadas, os homens Caiapós realizavam rituais de proteção. Na volta, era preciso fazer um novo ritual. Este, de agradecimento.

Apesar do Censo de 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) contar 305 pessoas em Franca que se autodeclararam indígenas, Ana Raquel afirma que não há mais povos na região. “Eles foram paulatinamente sendo empurrados para outras áreas, principalmente para o Centro-oeste e Norte do Brasil. Possivelmente estes 305 são descendentes e não povos originários”, afirmou.

Outra atividade comum para os povos Caiapós era a construção de igaraçavas, as urnas funerárias. Segundo Portugal, há diversas destas construções em Patrocínio Paulista e também no caminho para Ibiraci, mas que não são facilmente exploradas. “Infelizmente são poucas as pessoas que poderiam auxiliar na localização desses locais. Pessoas idosas que quando partirem levarão esse conhecimento com eles”, lamentou.

A historiadora ainda conta uma curiosidade sobre herança dos povos indígenas na região. O sobrenome “Carrijo” é de origem Caiapó.

Por fim, a professora levantou uma reflexão sobre o Dia do Índio. “Infelizmente, há uma tendência a negar raízes indígenas Triste, mas é um fenômeno de todo o continente. Raros são os povos nativos que têm orgulho de sua ancestralidade.”


Moara, quando criança junto de sua bisavó, descendente de índios

Quem se contrapõe à questão levantada por Raquel é a francana Moara Cristina Fernandes Ribeiro, de 22 anos. Com fortes características físicas, ela tem ligação direta com indígenas. A mãe de sua bisavó era indígena. Ela relata que a família de sua “bisa” vive em tribos no Norte do país. “Não tenho muito contato com eles, mas sempre que um parente vai visitar, nos mandam fotos.”

Apesar da distância, Moara afirma que a cultura indígena é predominante em sua vida, tanto pelas características físicas, quanto na relação com a natureza. Para ela, isso é uma questão ancestral.

“Quando tenho contato com a natureza, seja em uma roça ou fazenda, sinto que estou em um lugar a que pertenço. Mesmo sempre morando na cidade, eu preciso manter esse contato para me deixar bem. Me orgulho de ser descente de índio”, concluiu.

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