
O ex-prefeito Gilmar Dominici (PT) esteve em Franca no mês passado. Acompanhado do presidente municipal do partido, o ex-vereador Marcial Ignácio, aproveitou a pausa na extensa agenda de compromissos para visitar amigos e discutir a estratégia do PT nas eleições que se aproximam.
Desde que assumiu a Subchefia de Assuntos Federativos da Secretaria de Relação Institucionais, órgão ligado à Casa Civil, Dominici tem trabalhado de 12 a 14 horas por dia. “Ainda não tive tempo para pensar sobre a minha nomeação.”
Foi entre um compromisso e outro que o ex-prefeito visitou a sede do Comércio da Franca numa tarde de quinta-feira. Falou sobre o fato de ser hoje o único francano a fazer parte do alto escalão do Governo Dilma Rousseff e sobre sua rotina na capital federal. Confessou ainda ter o sonho de voltar a ser prefeito de Franca e deu um conselho ao atual ocupante do cargo, Alexandre Ferreira (PSDB). “Mais humildade. A humildade é importante porque permite a você abrir oportunidade para o diálogo. Isso é fundamental para um bom governo. Você não pode achar que, porque é o prefeito, você é o dono da cidade e que os outros não valem nada.”
O petista retornou a Franca neste fim de semana para ser homenageado pelo cargo que assumiu em Brasília.
Em 2007, depois de uma derrota nas urnas na disputa por uma vaga de deputado federal, o senhor decidiu deixar Franca e se mudou para Brasília. Como foi ter de recomeçar?
Primeiro, queria deixar claro que nunca deixei Franca. Franca é a minha cidade e sempre vai ser. A cada 20 dias, sempre venho para cá. Decidi ir trabalhar em Brasília porque recebi um convite do então presidente Lula. Tinha muita vontade de servir ao governo do ex-presidente por toda a nossa trajetória. Conheço o Lula desde a década de 80, participei e o apoiei em todas as eleições. Era um sonho meu ajudá-lo a governar o Brasil. Quando ele me convidou, resolvi viver essa experiência de trabalhar na capital federal. Recomeçar foi bem diferente. Mas aprendi muito. Tinha uma rotina de muito trabalho.
Nestes quase oito anos na capital federal, quais foram as grandes lições que aprendeu?
Acho que a coisa mais importante que aprendi foi de fato a olhar o país em que vivemos com novos olhos. Por ser do interior, por ter sido prefeito, tinha o conhecimento do que era viver no Estado de São Paulo, mas não fazia ideia da realidade enfrentada por outros Estados e municípios. Hoje quando alguém diz que o Brasil é um país de contrastes sei exatamente do que ele está falando. A primeira viagem que fiz quando assumi o cargo lá foi para a Ilha de Marajó e levei um susto quando desci do avião. Parecia que estava em outro país. Depois conversando com os prefeitos que foram nos encontrar, descobri que a maioria, para estar ali, tinha viajado 12 horas de barco. Muitas coisas que já resolvemos aqui no Sudeste ainda são uma realidade distante na maioria dos municípios de outras regiões do Brasil.
Como é para o senhor que se mudou de Franca depois de uma derrota nas urnas voltar à cidade hoje como o único francano a fazer parte do alto escalão do governo federal?
Na verdade, queria ter algum francano no cargo que ocupo hoje na época em que era prefeito de Franca. Seria tudo muito mais fácil.
Mas e em relação ao fato do senhor ter saído daqui derrotado e hoje voltar, de certa forma, como um vitorioso?
Então, para ser sincero, ainda não fiz essa reflexão. É verdade, naquela época poderia ter ido a Brasília pelo voto, mas não fui. Tempos depois, recebi o convite e, agora, neste cargo que ocupo tenho condições de ajudar muito a cidade, até mais do que como deputado.
De novo, o senhor está falando sobre a função. Mas a pergunta é sobre seus sentimentos.
Não me senti melhor por estar neste cargo. Para mim, foi uma consequência natural. Em nenhum momento, eu me senti envaidecido por ter sido nomeado subchefe. Acho que estou tranquilo. Já desenvolvia muito do que faço hoje quando era assessor. Me sinto confortável e com vontade de trabalhar. Não tenho sentimentos de revanchismo ou coisa assim.
Recentemente, o senhor enfrentou uma prova de fogo como subchefe de Assuntos Federativos. Na abertura da XVII Marcha dos Prefeitos, foi vaiado ao anunciar a ausência da presidente Dilma Rousseff. Como foi esse momento?
Não esperava, é claro. Na verdade, já sabíamos que a presidenta não poderia comparecer, mas o ministro Ricardo Berzoini iria abrir o evento. O problema é que no dia da abertura ele começou a passar mal. Teve uma infecção pulmonar que o levou para o hospital. Não tinha condições de participar. Sobrou para mim de última hora fazer o discurso de abertura. A hora que comecei a falar e disse que a presidenta e o ministro não iriam comparecer veio uma vaia fenomenal. Eram 4,5 mil pessoas reclamando ao mesmo tempo e eu lá no palco. Então, comecei a falar sobre as minhas experiências. Falei que já havia estado do outro lado, que havia sido prefeito de Franca por oito anos e só fui conhecer o Palácio da Alvorada no meu penúltimo ano de governo. Disse que sabia o que estavam sentindo. Eles começaram a se acalmar e a prestar atenção no que eu dizia. Sei que no fim estavam me aplaudindo. Mesmo com os pré-candidatos da oposição à presidência lá. Foi um grande desafio, mas no final deu tudo certo e hoje me sinto mais preparado para o cargo do que ontem.
Por falar sobre a experiência como prefeito, que avaliação o senhor faz da trajetória de Alexandre Ferreira (PSDB) neste um ano e meio à frente da Prefeitura de Franca?
A cada 20 dias estou por aqui, sempre leio os jornais pela internet, converso com os amigos e com o vereador do nosso partido, o Márcio do Flórida. Não vou analisar essa ou aquela área do governo Alexandre. O que acho que precisa ser dito é que, como liderança aglutinadora, há problemas na atual administração. Um exemplo foi quando o Alexandre venceu as eleições. Ele nem havia tomado posse e eu o convidei para um evento em Brasília organizado para os prefeitos recém-eleitos. Ele foi. Conversamos, apresentei Brasília a ele, passei alguns contatos e me coloquei à disposição para qualquer coisa que ele precisasse quando assumisse. Depois disso, ele nunca me ligou, nunca me procurou para nada nem para agradecer a atenção. Agora penso, como um prefeito que tem acesso à pessoa que faz a ponte entre as cidades e o governo federal não aproveita? Para mim, precisamos avançar muito neste quesito.
Se o senhor fosse avaliar o governo Alexandre dando uma nota de zero a dez, qual seria?
Sei o quanto é difícil administrar uma cidade como Franca, em que a arrecadação é baixa. Não sei que nota daria. É muito complicado atribuir uma nota quando não se está dentro do governo, acompanhando em detalhes.
Gilmar, o senhor agora foi muito político. Estou perguntando a nota que o cidadão Gilmar Dominici daria à atual administração.
(pensa um pouco) Talvez seis.
Em 2011, em uma entrevista concedida ao Comércio, o senhor disse que não descartava a possibilidade de voltar a administrar Franca. Essa possibilidade do senhor disputar uma eleição para a Prefeitura ainda existe?
Sou filiado a um partido político. Ainda estou com 54 anos, uma idade que para a vida política ainda representa muitas oportunidades, que ainda permite sonhos. Gostaria muito de um dia voltar a governar Franca. Não sei quando. Principalmente aproveitar a experiência que adquiri. Uma coisa é governar do modo como governei no passado, sem experiência no Executivo, com muita dificuldade, sem apoio externo. Gostaria de um dia voltar porque tem muita gente maldosa que faz uma avaliação equivocada do nosso governo. Tudo o que fiz foi para melhorar a qualidade de vida dos francanos. Qualquer um que estivesse no meu lugar governando a cidade passaria pelas mesmas dificuldades que passei. Claro que houve um ou outro erro. Somos seres humanos, mas no geral era um problema de conjuntura e não de gestão como dizem. Se eu fosse prefeito hoje, tenho certeza de que teria condição de fazer muito pela cidade. Mas antes que falem algo, não está no meu horizonte a curto prazo essa ideia de disputar uma eleição para a Prefeitura de Franca.
E se fosse dar uma nota para os seus oito anos de governo, qual seria?
Nota oito. Pelo esforço e pelas dificuldades que nós passamos e ainda conseguimos realizar muita coisa. Só quem passou o que eu passei sabe o quanto foi difícil.
O senhor já acumula quase três décadas de experiência política. Qual conselho o senhor daria ao prefeito Alexandre Ferreira?
Humildade. A humildade é importante porque permite a você abrir oportunidade para o diálogo. Isso é fundamental para um bom governo. Você não pode achar que, porque é o prefeito, você é o dono da cidade e que os outros não valem nada. Um bom prefeito tem que reconhecer o papel dos vereadores e o trabalho da imprensa. Quem acha que é dono da verdade dá muita cabeçada, cria resistência.
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