
Mais uma família chora a dor da perda de uma provável vítima do descaso e negligência na Rede Pública de Saúde de Franca. Clésia de Araújo Novais, dona de casa de apenas 31 anos e mãe de uma menina de dez, morreu no início da tarde de ontem. Ela estava internada em estado grave, desde domingo, na Santa Casa de Franca após ser atendida e liberada duas vezes no Pronto-socorro Municipal “Álvaro Azzuz”. O encaminhamento para a internação saiu apenas depois de a dona de casa passar por atendimento particular.
Assim como fez desde o dia em que a mulher foi internada, o servente William Cabral Pinto, 34, visitou Clésia novamente na manhã de ontem. Durante a visita, os médicos já o avisaram do grave estado da dona de casa e disseram acreditar que ela viveria, no máximo, por mais 24 horas. “Meu irmão foi visitar ela às 11 horas e os médicos já a desenganaram. Menos de duas horas depois, ligaram pedindo para um familiar ir até lá”, disse Elisângela Cabral, cunhada de Clésia. “Só de falar assim, já imaginamos... Eu fui, porque meu irmão não tinha condições. O médico disse que fez o possível, mas deu uma bactéria na cabeça dela e ele não sabe se isso aconteceu antes ou depois de ela ser internada. Ele só disse que, com isso, o caso dela foi cada vez se agravando mais.”
Revolta
Willian é o mais inconformado com a morte da dona de casa e preferiu manter o silêncio. Para ele, sua filha com Clésia ainda não entendeu o que aconteceu. Elisângela concorda com o irmão e não se conforma com a posição da secretária municipal de Saúde, Rosane Moscardini. “Realmente a ficha da minha sobrinha ainda não caiu e meu irmão está muito abalado. Ainda para acabar de completar, meu celular tocou quando estava na funerária e era uma pessoa prestando os sentimentos a pedido da secretária de Saúde. Disse que ela pediu para ligar para prestar os sentimentos e se colocar à disposição caso a gente precise de alguma coisa, porque ela está sem condições de falar comigo. Isso é um absurdo, porque, quando a procurei, ela não quis falar comigo.”
Clésia foi velada durante toda a noite no velório do Leporace. Segundo informações dos familiares, o corpo segue na manhã de hoje para o município de Quibaxeira, na Bahia, onde ela nasceu e foi criada.
Sindicância
A Secretaria Municipal de Saúde informou que instaurou uma sindicância para apurar o caso. Com a morte de Clésia, segundo Rosane, a apuração terá maior celeridade. “A apuração já foi aberta, mas nós vamos avançar e apurar de fato o que aconteceu.”
Em entrevista ao programa Hora da Verdade, da Difusora, na última quarta-feira, a secretária admitiu que há falhas no atendimento. Questionada ontem sobre a afirmação, Rosane tentou se esquivar. “Eu quis dizer que a gente atende mais de 1.500 pessoas por dia no Pronto-socorro e, às vezes, podem acontecer algumas falhas, não sei se foi caso dessa paciente ou de outras... Qualquer ser humano é cheio de virtudes e defeitos, temos que apurar o que aconteceu. Pode ser que tenha tido falhas, mas eu não posso afirmar sem que essas apuração e investigação aconteçam.”
A regional do Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) em Franca também abriu uma sindicância para apurar se houve erro ou negligência médica no atendimento a Clésia. Segundo o delegado-superintendente do órgão em Franca, Carlos Riad Aoude, todos os profissionais que atenderam a dona de casa prestarão depoimentos. “A sindicância está em fase de implantação e já foi encaminhada para São Paulo. Assim que voltar para Franca, tomaremos ciência e pediremos manifestação de todos os envolvidos, os prontuários e tudo mais que for necessário para esclarecer o caso.”
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