
Wildnei Teodoro
da Redação
Enquanto a maioria dos calçadistas de Franca sofre com a invasão do mercado internacional pelos sapatos produzidos na China, há quem saiba ganhar com a situação. “Se você não pode com eles, alie-se a eles”, diz um adágio que aparece em várias línguas. O ditado representa bem o caminho, no mínimo surpreendente, trilhado pelo empresário francano Lauro Pimenta de Oliveira, 40, dono da Mercantil Shoes. Lauro importa e revende com sua marca calçados chineses há oito anos. Mas a capital do calçado brasileiro se rendeu ao sapato fabricado na China? É uma pergunta que o leitor estará se fazendo neste instante. A resposta é assertiva. E não é uma realidade apenas local. Lauro garante que distribui a produção chinesa para várias partes do País e sempre com boa aceitação.
O preço, obviamente, tem muito a ver com isso. Atualmente, sapatos francanos custam, em média, US$ 20. Produtos similares podem ser importados da China por U$ 15. Se o item for sintético, o preço cai para menos de US$ 5. Essa competitividade imbatível é responsável por uma verdadeira “febre chinesa” no mercado internacional. Mas, mesmo antes disso, Lauro já mantinha relações comercias com fabricantes daquele país.
No ano passado, 30% dos negócios da Mercantil Shoes foram feitos com sapatos oriundos da China. Lauro não revela números exatos, mas menciona dezenas de milhares de pares importados. Em sua maioria, calçados esportivos. “Não é o maior lucro que justifica a importação, é a maior competitividade final real”, diz Lauro.
A lógica do lucro do empresário é inversa à dos exportadores francanos. Enquanto os calçadistas de Franca reclamam dos baixos valores atingidos pelo dólar, os interesses de Lauro em relação ao assunto têm motivação contrária. Para ele, quanto mais desvalorizada a moeda americana estiver em relação ao real, maior é o seu poder de compra. “Com o dólar em baixa, estou feliz”.
A frase deve encher de inveja os colegas calçadistas de Lauro que torcem e reivindicam todos os dias valorização do dólar. Mas pode servir de consolo saber que o dono da Mercantil Shoes também tem reivindicações em relação ao governo. A ausência de uma política definida para as importações incomoda. “Falta ao governo definir se impede ou libera a importação. Ou sobretaxa e evita, ou permite realmente, para que o produto comprado tenha efeitos no giro de capital interno e crie empregos aqui também”. Ele se diz inseguro em relação aos negócios. “Estou com quatro contêineres (cheios de calçados) vindos da China. Cada vez que importo, sinto um frio na barriga”. Talvez para atenuar essa insegurança é que o empresário esteja diversificando seus negócios. Ele possui três postos de gasolina na cidade e já constrói mais três.
Os calçados que Lauro importa chegam do Oriente por meio do porto de Santos. “Mesmo com todos os encargos de importação (taxação de 27%), ainda consigo um produto mais barato. Muito mais barato”, diz Lauro. Do litoral, os sapatos seguem para depósitos da empresa em Franca e em São Paulo, onde aguardam o fechamento dos negócios e seu destino final. A produção oriunda da China é revendida no mercado interno.
Mas a Mercantil Shoes não tem apenas relação de compra com o mercado internacional. A fábrica mantém sua produção própria em Franca. Para inúmeros países da Europa, para os Estados Unidos e para a América Latina são exportados os calçados produzidos no Brasil, mais sofisticados, garante Lauro. “Hoje tenho 56 representantes de vendas. Seis deles fora do País”, disse.
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