INVESTIGAÇÃO

MP une relatório de CPI à investigação da morte de menina picada por escorpião

Caso é investigado como eventual negligência por parte da Organização Social de Saúde que administra a UPA

Por André Thieful | 24/04/2024 | Tempo de leitura: 3 min

Guilherme Leite/Câmara Municipal

CPI da Câmara Municipal apresentou relatório em março
CPI da Câmara Municipal apresentou relatório em março

O Ministério Público juntou o relatório da CPI do Caso Jamilly ao inquérito que investiga a morte da menina. A documentação foi enviada para o MP em março, quando foi concluída a investigação feita no legislativo. Jamilly foi picada por escorpião no dia 11 de agosto do ano passado, foi levada para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Frei Sigrist, na Vila Cristina – unidade que é referência para soro antiescorpiônico – mas não recebeu o antídoto. Ela foi transferida para a Santa Casa após duas horas na UPA, onde recebeu o soro, mas não resistiu e morreu na manhã do dia seguinte.

O caso é investigado como eventual negligência por parte da OSS (Organização Social de Saúde) Mahatma Gandhi, que administra a unidade e a UPA Nestor Longatto, na Vila Sônia. “Por ora, as investigações ainda estão em curso, aguardando resposta às solicitações endereçadas à Unidade de Polícia Judiciária, COREN (Conselho Regional de Enfermagem) e CREMESP (Conselho Regional de Medicina)”, explicou o MP.

RELATÓRIO

A CPI identificou a ocorrência de supostas tentativas de fraudes no processo documental do atendimento à menina de cinco anos. A suspeita de prática criminosa é denunciada no relatório final da apuração, protocolado na Câmara Municipal de Piracicaba No dia 15 de março, após cinco meses de investigações.

O relatório final conclui que o atendimento de Jamilly na UPA não contou com apenas um erro, mas com uma “sequência de acontecimentos que comprometeram o atendimento de forma crítica”. Os problemas tiveram início desde a inoperância do sistema no dia em que a criança deu entrada na unidade, o que resultou na classificação inadequada da paciente. O risco foi identificado com a cor laranja, que é grave, mas não na vermelha, que é grau máximo de gravidade. Jamilly também não foi encaminhada para a sala de emergência, mas apenas para a sala de observação e não recebeu o monitoramento necessário para casos graves como o que ela apresentava.

O relatório também aponta a falta de conhecimento dos fluxos de atendimento, medicamentos e procedimentos por parte da equipe da UPA, incluindo a médica responsável pelo atendimento, que, em um primeiro momento, não prescreveu o soro antiescorpiônico, medicamento fundamental para conter a ação do veneno no corpo humano. A profissional prescreveu apenas soro fisiológico, dramim (para conter vômitos) e dipirona (contra a dor).

Além disso, é citada a dificuldade da equipe em realizar novamente o acesso venoso periférico de Jamilly, que foi perdido alguns minutos depois. A equipe do Samu, acionada para transferir a paciente para a Santa Casa, também teve dificuldades para realizar a punção, que foi realizada, mas também perdida na chegada à Santa Casa.

FRAUDE 

Além das dificuldades apontadas, o relatório destaca divergências e supostas fraudes no preenchimento do prontuário da paciente, possíveis irregularidades no preenchimento do livro de registro de retirada do antídoto da geladeira de armazenamento e pontos contraditórios encontrados em depoimentos.

Dentre as divergências, a comissão identificou que o soro antiescorpiônico não teria sido prescrito pela médica até o momento da transferência da criança pelo Samu. Mas a prescrição aparece posteriormente no prontuário que permaneceu na UPA. No prontuário entregue à CPI pela OSS, consta a prescrição do soro antiescorpiônico. Já no prontuário que seguiu com Jamilly para a Santa Casa, fornecido pelo hospital, não há a prescrição do soro. Conforme os depoimentos colhidos pela CPI, o prontuário teria sido adulterado após a transferência de Jamilly.

A médica responsável pelo atendimento informou, em depoimento à CPI, que não sabia da existência do soro na unidade e que fez a prescrição após obter a informação. Membros da equipe relataram, também em depoimentos, que a médica teria informado que não sabia a dosagem a ser aplicada na criança.

Clique para receber as principais notícias da cidade pelo WhatsApp.

Siga o Canal do JP no WhatsApp para mais conteúdo.

COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.