POLÍTICA

A retratação e recado para a base

Com a chave completamente virada, Rodrigo da Farmadic agora afirmou: “no que depender de mim e do partido União Brasil, nós vamos trabalhar para uma campanha vitoriosa.'

Por Flávio Paradella | 27/02/2024 | Tempo de leitura: 4 min
Especial para a Sampi Campinas

Divulgação/PMC

A expectativa para a sessão ordinária desta segunda-feira na Câmara de Campinas era pelo retorno de Rodrigo da Farmadic (União) à tribuna após o duro discurso contra o que chamou de falta de compromisso do prefeito Dário Saadi (Republicanos) para solucionar problemas apontados na área de atuação do parlamentar, o distrito do Ouro Verde.

Na semana passada, Rodrigo elencou vários pontos “esquecidos” como pavimentação de vias, o caótico e degradado Hospital Ouro Verde e o sucateamento do transporte público, somando tudo isso as obras inacabadas do BRT. Farmadic foi além e disse que não faria campanha pela reeleição de Dário e que o próprio partido poderia rever, em agosto nas convenções, a destinação de apoio.

De quarta para cá, um cataclisma na vida política de Farmadic. A começar pela reunião emergencial convocada pelo vice-prefeito e secretário de relações institucionais, Wanderley de Almeida, com a cúpula do União Brasil, que tem cargos no primeiro escalão. Rapidamente, uma nota de esclarecimento tirou da legenda e do colo de Valter Greve, presidente do partido e da Ceasa-Campinas, e Fernando de Caires Barbosa, vice da sigla e secretário municipal de transportes, a responsabilidade. Tratava-se de uma opinião pessoal do vereador.

E os sinais de que Rodrigo da Farmadic não aguentou a enorme pressão foram ficando cada vez mais claros. O vereador tinha postado nas redes sociais um trecho do discurso incendiário, porém apagou.

Já no final de semana, um comedido e obediente Rodrigo da Farmadic apareceu ao lado de Wandão, que na condição de prefeito em exercício, coordenou trabalhos de mutirão contra a dengue na região do Vida Nova.

Rodrigo voltou às redes para postar um vídeo ao lado de Wandão, no qual o secretário é protagonista. O prefeito em exercício ainda fez questão de comentar a postagem agradecendo o apoio e demonstrando a vigilância.

Com todo esse contexto, o discurso de Rodrigo era o mais aguardado desta noite de segunda-feira no plenário e ninguém tinha dúvida que seria um pedido de desculpas, tanto faz se consciente ou forçado.

E foi. Rodrigo da Farmadic pediu os mesmos 15 minutos, a duração de sua fala que estremeceu o Quarto Andar, e de início já deu o tom: “regra de grandeza ainda maior é ter a humildade de reconhecer quando errou. E se retratar do erro”.

A tensão era nítida no vereador que, pisando em ovos e escolhendo as melhores palavras, buscou justificar o discurso, agora, “desmedido e injusto” a problemas pessoais vividos no dia da fala.

O vereador refutou os problemas apontados que o deixaram tão revoltado a ponto de ameaçar romper com o governo e, diferente da última sessão, leu um script com explicações e uma lista de obras da administração Dário na região do Ouro Verde.

Com a chave completamente virada, Rodrigo da Farmadic agora afirmou: “no que depender de mim e do partido União Brasil, nós vamos trabalhar para que a gente tenha uma campanha novamente vitoriosa esse ano”.

Com anuência do Farmadic, o líder de governo, Paulo Haddad (Cidadania), interveio durante o discurso para parabenizar a atitude do vereador em se retratar. Mais do que uma congratulação, um ato de marcar posição com protocolar alerta de que o governo puxou as rédeas para conduzir a base.

Recado Dado
A crise causou preocupação do Palácio dos Jequitibás com a possibilidade de atitude se espalhar por outros parlamentares considerados mais fisiológicos.

O Quarto Andar quis cortar pela raiz antes que vereadores da base “esfregassem as mãos” em busca de cargos em meio ao caos que “estava só começando”.

O núcleo político de Dário agiu rápido e cobrou fidelidade do vereador e do partido com cargos no alto escalão e indicados que compõem o quadro em setores da prefeitura.

Na avaliação do Palácio dos Jequitibás, a crise foi contornada e o recado foi dado para todos da base. Basta saber se foi entendido.

Pastoreio
Vale lembrar que todo o rebuliço ocorreu na ausência do prefeito Dário Saadi que estava na Dinamarca, em um evento para debater políticas de tratamento de diabetes.

Coube a Wandão pastorear o rebanho de volta ao cercado na expectativa de que nenhuma ovelha empolgada queria novamente se desgarrar.

Dário voltou e reassumiu a prefeitura de Campinas nesta segunda-feira. Na protocolar retransmissão de cargo, a presença do presidente da Câmara, Luiz Rossini (PV), foi considerada como outro sinal da “rédea mais curta” a partir de agora.

Prefeitos no ato de Bolsonaro
O grande ato que tomou conta da Avenida Paulista convocado pelo inelegível ex-presidente Jair Bolsonaro, investigado por atos golpistas, teve a presença de políticos da região de Campinas, mas alguns nomes chamaram a atenção, principalmente por se tratar de chefes do executivo.

Os prefeitos de Americana, Chico Sardelli, e de Jundiaí, Luiz Fernando Machado, estiveram entre os manifestantes na capital paulista neste domingo e publicaram conteúdos nas redes sociais.

Sardelli afirmou que estava no ato “em defesa de um Brasil livre”. Já Luiz Fernando Machado escreveu: “Por Jundiaí, pelo Brasil, fora PT”. O post do prefeito de Jundiaí no instagram teve cerca de 7,5 mil curtidas, uma delas do perfil da Secretaria de Serviço Públicos de Campinas (@zeladoriacampinas).

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Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada na Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.

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