
No contexto da criação de aves rapinantes no Brasil, há uma série de nuances legais e práticas que os entusiastas e criadores precisam considerar. As corujas, reconhecidas por suas cabeças arredondadas, olhos grandes e penas macias, são animais delicados que pesam entre 60 gramas e um quilo. Apesar do porte aparentemente pequeno, são exímias predadoras, adaptando-se facilmente a ambientes com pouca iluminação e desempenhando voos noturnos, característica marcante dessa espécie.
No entanto, a decisão de ter uma coruja de estimação vai além da admiração por suas características visuais únicas. De acordo com Thiago Navarro Vilalta, médico veterinário especialista em animais silvestres e exóticos, a legalidade dessa prática é de extrema importância. É permitido ter uma coruja em casa no Brasil, contudo, a aquisição deve ser feita por meio de criadores credenciados pelo IBAMA. A autorização do Instituto é fundamental para evitar complicações legais e multas.
"Essas aves são adquiridas em criatórios comerciais especializados em rapinantes. Ao contrário de aves comuns, como papagaios, as rapinantes vêm equipadas com anilhas. O processo de reprodução dessas aves é notadamente mais demorado e complexo em comparação com espécies como os psitacídeos", comenta o veterinário.
Existem algumas espécies autorizadas para criação doméstica, tais como a Coruja suindara, Coruja orelhuda, Coruja buraqueira e Corujão-da-Virgínia. O interessado deve conferir as credenciais antes de adotar uma dessas aves.
A compra pode ser feita presencialmente ou online, com a entrega do animal em casa. No Brasil, existem apenas dois criatórios legalizados, localizados em Minas Gerais e Paraná, com custos variando de R$ 1.200 a R$ 10.000.
A alimentação das corujas envolve uma dieta carnívora, sendo comum a oferta de pintinhos ou camundongos pré-abatidos, adquiridos congelados. Os tutores precisam adquirir e estocar esses alimentos, mantendo-os congelados e retirando uma porção diariamente para oferecer às aves. Além disso, o ambiente em que essas aves são mantidas é especialmente projetado, incluindo o uso de braceletes feitos de couro, métodos de falcoaria que evitam o corte das asas.
"Um aspecto distintivo na criação dessas aves é o treinamento para o voo livre. Ao invés de cortar as asas, utiliza-se um método que condiciona a ave a retornar à mão do treinador, geralmente para se alimentar. Esse processo é necessário para estabelecer uma relação de confiança entre o criador e a ave rapinante".
Apesar de peculiar, a prática de criar corujas de estimação está se tornando mais comum, especialmente entre aqueles familiarizados com a criação de animais exóticos. "A jornada de cuidar dessas aves requer não apenas admiração por sua beleza singular, mas também um compromisso com as responsabilidades legais e de cuidado que envolvem a criação de aves tão especiais", conclui Thiago.