Foi com curiosidade de criança que a programadora, educadora e criadora de conteúdo digital Giovanna Moeller, 24 anos, começou a explorar o computador de sua casa por conta própria. Da vontade de aprender nasceu uma paixão, que hoje a leva a vencer prêmios da Apple, da Meta e, no mês passado, da Google, que contou com mais de 10 mil participantes.
Nesta última competição, o Agent Development Kit Hackathon, foi campeã da América Latina ao criar, em apenas 48 horas, a Edu.AI, plataforma com uso inteligência artificial (IA) voltada ao preparo para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Nascida em Bauru, filha única de Avatá e Claudia, Giovanna mora desde janeiro em São Paulo, onde trabalha na startup Nero.AI e na plataforma educacional Alura, além de ter a oportunidade de participar de eventos na área e ampliar sua rede de contatos. Movida pelo desejo de mudar vidas por meio da tecnologia, está concluindo o curso de sistemas de informação na Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Bauru, ao mesmo tempo em que viraliza com vídeos sobre programação em suas redes sociais.
Em um universo ainda dominado por homens, Giovanna desponta como referência feminina na tecnologia e inspiração para milhares de meninas. Com os pés em São Paulo, olhos no mundo e o coração em Bauru, onde seus pais ainda residem, Giovanna mostra, nesta entrevista, que tecnologia também pode ser sinônimo de afeto e transformação. Leia os principais trechos.
JC - Como descobriu sua aptidão com programação?
Giovanna - Criança, eu ficava pedindo para meu pai me ensinar a mexer no computador em casa, mas faltava tempo, porque ele tinha dois empregos. Então, resolvi aprender sozinha. Fui fuçando, explorando, até que, em 2017, consegui ingressar no Colégio Técnico Industrial (CTI), onde fiz ensino técnico integrado ao ensino médio. Como já gostava muito de computador, escolhi o curso de informática e, apesar das dificuldades no início, eu me apaixonei pela área. Concluí o curso em 2019 e, em 2020, iniciei a graduação em sistemas de informação na Unesp de Bauru, que estou terminando agora, mesmo morando em São Paulo.
JC - Como lidou com os estudos durante a pandemia?
Giovanna - Fiquei dois anos em casa e comecei a estudar além do que o curso exigia, porque gosto aprender novas coisas. Também passei a criar conteúdos na Internet para compartilhar meus conhecimentos em programação e ajudar pessoas, além de conhecer gente da área. Alguns vídeos viralizaram e, além de criadora de conteúdo, eu me tornei educadora, porque entrei na Alura, a maior escola de educação e tecnologia. Lá, fiz estágio e hoje sou instrutora com mais de 3 mil alunos e mais de dez cursos na plataforma, a maioria para desenvolvimento de aplicativos para o sistema operacional iOS (iPhone).
JC - Onde divulga seus conteúdos na Internet e qual tem sido o alcance?
Giovanna - No Instagram, YouTube, TikTok. Já fiz vídeos de 15 segundos em timelapse (velocidade acelerada), programando algumas coisas, que bateram 7 milhões de visualizações. Fico feliz e sinto que me torno fonte de inspiração para outras mulheres - e ainda são poucas na área. Quando entrei na faculdade, eram quatro meninas em uma turma de 40 alunos. No mercado de trabalho, a gente só vê referências masculinas em posição de destaque. Então, quero que o meu exemplo incentive outras mulheres a acreditarem no seu potencial.
JC - Como foi ser premiada pela Google?
Giovanna - Na competição, precisávamos desenvolver soluções multiagentes com IA, utilizando ferramentas da Google. Fiz uma plataforma para preparo para o Enem com algumas funcionalidades, como correção de redação por IA, geração de questões parecidas com as do Enem, simulados, conteúdos explicativos, flashcards. A ideia surgiu entre os meninos da startup de IA em que trabalho, a Nero.AI, incubada pelo Insper. Eu os conheci na competição da Meta da qual participei em 2024, acabei integrando a startup e tentei reuni-los para essa competição da Google até o último momento. Mas não deu certo e acabei desenvolvendo a ideia sozinha, do zero, em 48 horas. Foram mais de 10 mil participantes em todo o mundo e minha plataforma foi nominada a melhor da América Latina, creio que pelo impacto social da ideia. Mas ainda não foi disponibilizada para o público, até porque foi um mínimo produto viável (MVP). Então, além da premiação em dinheiro, de US$ 8 mil, a Google marcará uma reunião virtual para conversarmos sobre como melhorar o projeto.
JC - Como foram as premiações da Apple e da Meta?
Giovanna - A Apple promove anualmente o Swift Student Challenge, que reúne estudantes do mundo todo. Na competição, temos que construir um aplicativo (app) utilizando as tecnologias da Apple. São nomeados 350 vencedores e, destes, 50 são escolhidos como Distinguished Winners pelos projetos de maior destaque. Eu fiquei entre estes 50 no ano passado com um app na área de educação e pude conhecer o Apple Park, na Califórnia, além de assistir à Conferência Anual de Desenvolvedores da Apple, onde conheci o CEO, Tim Cook. Foi uma conquista muito importante. Já na Meta, também em 2024, foi uma imersão presencial em que conheci os meninos da Nero.AI e desenvolvemos um aplicativo para correção da redação do Enem com uso dos modelos de IA da Meta. Entre 200, 300 participantes, ficamos em terceiro lugar.
JC - Como seus pais reagiram a estas conquistas?
Giovanna - Eles mal acreditam no tamanho da repercussão e nem eu imaginava dar entrevista para o Metrópoles, a Superinteressante. Mas estão muito felizes e foram fundamentais para que tudo acontecesse. Sempre estudei em boas escolas boas e pude aprender a falar inglês, o que é indispensável na minha área. Meus pais me deram todas as oportunidades e me apoiaram em todas as minhas decisões. Morro de saudade deles, assim como dos meus dois cachorros, mas volto sempre a Bauru e estarei com eles neste fim de semana do Dia dos Pais.
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