ENTREVISTA DA SEMANA

Casemiro de Abreu Neto: Luta pela proteção da infância

Por Tisa Moraes | da Redação
| Tempo de leitura: 5 min
Cássia Peres
Casemiro de Abreu Neto
Casemiro de Abreu Neto

Dos treinos intensos de judô ao trabalho em defesa de crianças e adolescentes, a trajetória de Casemiro de Abreu Neto, 55 anos, é marcada pelo comprometimento. Nascido em Bauru em uma família católica, foi professor de judô por quase duas décadas, mas, ao converter-se à Igreja Evangélica, iniciou a transição de carreira e passou a atuar em prol de políticas públicas na área de educação.

Na mesma época, conheceu a esposa, Cláudia, com quem teve as filhas Elisa, 20 anos, e Hadassa, 13 anos. Formado em pedagogia e teologia com pós-graduação em administração de escolas, Casemiro tornou-se pastor, função que exerceu até ser eleito conselheiro tutelar da cidade, em 2015. Determinado a fazer a diferença, em dez anos de atuação no Conselho Tutelar (CT) 1, sete deles como presidente, contribuiu para alguns avanços como a informatização dos prontuários e a padronização dos fluxos de trabalho.

Estudioso de dados, Casemiro se debruça sobre temas como gravidez na adolescência e violência na infância. Atualmente, também luta pela criação do CT 3 de Bauru e, como primeiro suplente pelo PSD na Câmara Municipal, sonha com maior representatividade de protetores de crianças e adolescentes na política. "Sou um incansável", define ele, que aprendeu no tatame a não desistir de suas batalhas. Leia, abaixo, os principais trechos da entrevista.

JC - Você nasceu em Bauru? Conte um pouco sobre sua origem.

Casemiro - Nasci em Bauru, fui criado no Bela Vista e tenho dupla nacionalidade: brasileira e portuguesa. Meus pais sempre foram ligados à Igreja Católica e estudei no Colégio São Francisco até o ensino fundamental. Fiz o primeiro ano do ensino médio no Christino Cabral e os dois últimos em São Paulo, porque fazia judô no BTC e passei em uma seletiva do Projeto Futuro, mantido pelo governo estadual. Fiquei dois anos treinando de 5h, 6h por dia com os melhores professores do Brasil. Mas, após a triagem dos atletas que seguiram para as Olimpíadas, acabei retornando a Bauru.

JC - O que passou a fazer aqui?

Casemiro - Dei aulas por cerca de 18 anos em escolas e clubes como o BTC, Bauru Country Clube, Colégio Fênix, Colégio Batista, ao mesmo tempo em que disputava Jogos Regionais, Jogos Abertos. Cheguei ao segundo dan da faixa preta e também competi pelas Forças Armadas. Mas, aos 25 anos, comecei a transição de carreira, diminuindo o volume de aulas para trabalhar na área de vendas e, depois, em prol de políticas públicas em educação. Cursei pedagogia, pós-graduação em administração de escolas, me tornei pastor e me formei em teologia. Fui presidente de conselho escolar na escola de uma das minhas filhas, participei de conferências municipais, regionais e estaduais de educação, além de duas edições da Conferência Nacional de Educação, em Brasília, a primeira representando o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil e a segunda, os pais.

JC - O que motivou a conversão à Igreja Evangélica?

Casemiro - Mais ou menos com 25 anos, fui trabalhar com vendas em Londrina (PR) e ali tive contato mais próximo com a Igreja Evangélica. Após um ano, retornei a Bauru e iniciei o processo de conversão, recebendo apoio, oração e bons conselhos dos amigos. Então, embora eu já fosse religioso como católico, assumi um compromisso maior como evangélico. Por sete anos, fui líder de jovens na Igreja Cristã Renovada, onde conheci minha esposa e me casei. E, em 2001, eu me tornei pastor e fundei a Igreja Boas Novas, que cuidei por seis anos, até ingressar no CT.

JC - Por que decidiu ingressar no Conselho Tutelar?

Casemiro - Conheci o CT de Bauru a partir de uma situação vivida por uma das minhas filhas na escola. Fui bem atendido, mas não obtive efetividade. Foi quando meus amigos me incentivaram a ser candidato, por eu ser uma pessoa que busca fazer a diferença. E, em 2015, na primeira vez em que concorri, fui eleito. Comecei a observar a falta de estrutura e, nestes dez anos, sete deles como presidente do CT 1, digo que sou um incansável, que se reconstrói emocionalmente, fisicamente e tecnicamente todos os dias para fazer o melhor, atendendo com zelo as famílias e cobrando ações dos órgãos responsáveis pelas demandas que elas apresentam.

JC - Quais considera seus principais feitos no cargo?

Casemiro - Em 2017, conseguimos informatizar o CT e, hoje, os prontuários são digitalizados, permitindo acesso rápido dos arquivos até mesmo pelo celular. Também estabelecemos fluxos de trabalho, padronizando nossa atuação até para que órgãos como as polícias Militar e Civil e o Ministério Público tenham clareza das nossas atribuições. Articulamos fiscalizações conjuntas com estes atores, como as que miram festas clandestinas, uma das minhas bandeiras. Com a informatização, passamos a ter estatísticas mensais dos atendimentos, dos direitos violados, das medidas de proteção aplicadas, que são essenciais para a elaboração de políticas públicas. E, a cada dois meses, encaminho ao Judiciário um relatório sobre os casos de violência registrados pelo CT 1.

JC - Algo nestas estatísticas chama sua atenção?

Casemiro - São muitos pedidos de vagas em creches e casos de negligência com crianças no ambiente doméstico. Além disso, há sete anos, estudo dados sobre gravidez na adolescência. O número já foi maior, mas ainda é elevado: em média, cerca de 200 meninas de Bauru dão à luz por ano na Maternidade Santa Isabel. Então, a prevenção a partir de um trabalho articulado com secretarias municipais é um desafio, assim como a criação do CT 3, que discutimos desde 2018 e esperamos ser efetivada em breve, visto que nossa demanda é muito alta, como demostram nossos relatórios estatísticos. Por todo esse cenário, considero importante termos um representante na Câmara Municipal que tenha como causa a defesa da infância e da família. Esta bandeira sempre esteve no meu coração e foi o que me motivou a ingressar na política.

Com a esposa Cláudia e as filhas Hadassa e Elisa
Com a esposa Cláudia e as filhas Hadassa e Elisa
Na Igreja Shalom, da qual faz parte em Bauru
Na Igreja Shalom, da qual faz parte em Bauru
Com as conselheiras tutelares Ana Paula, Márcia (presidente), Luciana e Camila, do CT 1
Com as conselheiras tutelares Ana Paula, Márcia (presidente), Luciana e Camila, do CT 1
Casemiro (ao centro) em competição de judô com os também atletas Tocha e Fittipaldi
Casemiro (ao centro) em competição de judô com os também atletas Tocha e Fittipaldi

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