
Um áudio extraído do celular da ex-comissionada do governo municipal Damaris Pavan, autora das denúncias de supostos desvios no Fundo Social de Solidariedade durante a gestão Lúcia Rosim, atual secretária de Assistência Social, compromete o depoimento da ex-assessora Andréa Storolli à Comissão Especial de Inquérito (CEI), na segunda contradição envolvendo sua oitiva.
Andréa depôs à CEI do Fundo Social na semana passada e disse não ter conhecimento de que Márcia Maria da Silva, irmã de Lúcia Rosim, retirasse cestas básicas do Fundo Social.
Ela admitiu conhecê-la, sobretudo porque Márcia comparecia a reuniões partidárias do grupo governista, mas afirmou que "não fiquei sabendo de nenhuma retirada [de cestas básicas da parte dela]". Reiterou a informação ao ser novamente questionada pelo relator, André Maldonado (PP).
As afirmações vão em sentido oposto ao que a própria Andréa mencionou em áudio enviado por WhatsApp a Damaris Pavan após as denúncias. O arquivo foi divulgado nesta terça-feira (17) pela vereadora Estela Almagro (PT) em vídeo publicado nas redes sociais. Ao JC, Andréa afirmou ontem que a mensagem está fora de contexto.
No áudio, a ex-assessora diz que "não, a gente nunca dava [baixa] como entrega da Marcinha". Segundo ela, "era só saída de cesta [básica], a gente colocava que saía cesta. Isso que é foda, não tinha descrição para onde iam [as cestas básicas]".
Andréa disse ao JC que o áudio está fora de contexto e que Damaris a procurou após denunciar o caso.
"Em vários momentos nas conversas que a gente teve, eu falei 'Damaris, eu posso até ir lá [à CEI] explicar como era feito a entrada e saída, os tipos de controle que a gente fazia, mas eu fiquei só o primeiro ano lá, não vi nada, então não tenho como falar que aconteceu nada'", disse a respeito do áudio.
"No meio da conversa a Damaris me falou que 'teve as cestas da Marcinha, você não tem aí nos relatórios a saída de cesta da Marcinha?' E foi onde eu respondi isso aí, que 'não, as cestas da Marcinha eu não tenho, não tem saída", acrescentou.
"A gente colocava, você me trazia para colocar cestas sem destinação, que era o que acontecia e o que eu informei durante a CEI também", continuou Andréa. A reportagem indagou se Márcia Maria da Silva, então, retirava de fato as cestas.
"Cara, quem afirmou isso para mim foi a Damaris. Eu acabei de explicar. Eu não posso afirmar que a Marcinha retirava porque eu nunca vi a Marcinha retirar a cesta do fundo e eu nunca vi a Damares entregar as cestas para ela", disse Andréa.
"Eu nunca afirmei que a Marcinha retirava cestas. Até porque eu nunca vi, e ninguém nunca me falou que ela retirava cestas. Quem afirmou isso foi a Damaris. Ela diz que ela entregava cestas pra Marcinha", complementou posteriormente.
Andréa indagou também "por que não mostram todos os áudios [da conversa], principalmente os anteriores?". A reportagem pediu os documentos, mas não obteve resposta.
O JC procurou o advogado Jeferson Machado, que defende a família Rosim, mas não obteve retorno até a conclusão desta edição.
Estela diz que o áudio confirma a prática de desvios de cestas básicas. "A ex-servidora assume a responsabilidade de acobertar os desvios de bens do Fundo Social para proteger Marcinha [irmã de Lúcia] e a Lúcia Rosim, incorrendo em crime de falso testemunho, previsto no art. 342 do Código Penal", escreveu a petista.
Esta é a segunda contradição em torno do depoimento de Storolli. A primeira, também apontado pela vereadora, gira em torno de sua filiação partidária. No depoimento à CEI na semana passada, Andréa afirmou que nunca foi filiada a partido político - informação que documentos da Justiça Eleitoral desmentem.
Andréa, na verdade, foi filiada ao antigo Patriota (hoje PRD) até migrar em 2024 ao PP de Dozimar Rosim, pai da prefeita Suéllen, legenda pela qual chegou a ser candidata a vereadora em 2024.
O Progressistas é o mesmo partido do vereador André Maldonado, relator da CEI, que afirmou na tribuna da Câmara na segunda que "acreditar que ela mentiu é complicado". "Quem conta uma mentirinha, conta um mentirão", mencionou.
Ao JC, ela disse que "se não em engano durante o depoimento fui questionada se naquela época em que afirmei que fui em uma reunião para mulheres no escritório, me questionaram se eu participava do partido e eu disse que não, porque realmente não participava". A pergunta foi se "a senhora nunca foi filiada a nenhum partido?". A resposta, "não".
Dozimar e Márcia negam convite
Pai e tia da prefeita Suéllen Rosim (PSD), Dozimar Rosim e Márcia Maria da Silva encaminharam ofício à Comissão Especial de Inquérito (CEI) que apura desvios de bens do Fundo Social informando que não vão comparecer à reunião agendada para esta quarta-feira (18) em que o colegiado esperava ouvi-los a respeito das denúncias. O instrumento de convocação é restrito a ocupantes de cargos públicos. Em documento assinado pelo advogado Jeferson Machado, que defende os Rosim, ambos afirmaram que ratificam o que disseram à Polícia, onde negaram quaisquer irregularidades.