
Bauru tornou-se o epicentro do ressurgimento do sorotipo 4 da dengue no Estado de São Paulo, com a notificação, nesta terça-feira (8), dos primeiros cinco casos autóctones da doença provocados por esta linhagem. Quatro deles foram detectados na cidade, sendo três no Parque Jaraguá e um caso na Vila Industrial, informou a Secretaria Municipal de Saúde (SMS). O quinto registro ainda está em fase de investigação.
O número de pessoas infectadas por esta variante, contudo, pode ser maior, inclusive com casos em outros municípios paulistas, visto que a identificação foi feita pelo Instituto Adolfo Lutz a partir da análise de amostras coletadas em uma das 71 unidades sentinelas mantidas pelo governo do Estado. Por semana, a instituição processa de duas a cinco amostras de pacientes suspeitos de terem sido infectados.
O retorno da circulação do sorotipo 4 ocorre em um cenário de epidemia de dengue em Bauru, que contabiliza neste ano, até o momento, 5.873 casos, com a morte de um idoso de 83 anos. Há outros dois óbitos em investigação.
Casos de dengue em comparação a 2024 e 2025 visto em semana (Gráfico: JuRehder)
Com incidência de 728 casos para cada 100 mil habitantes, a cidade figura na oitava posição entre os 80 municípios brasileiros considerados prioritários para receber ajuda do Ministério da Saúde quanto ao enfrentamento à doença. A lista, divulgada pelo governo federal nesta terça, inclui localidades com mais de 100 mil habitantes com alta transmissão ou número de casos em ascensão.
Em nota, a SMS informou ter iniciado nebulização para eliminação de criadouros e busca ativa de novos casos nas regiões do Parque Jaraguá e Vila Industrial. Revelou ainda preocupação com o surgimento do sorotipo 4, visto que, além dos sorotipos 1 e 2, endêmicos, também houve confirmação da presença do sorotipo 3 em 2025.
"Em todos os casos, assim que o paciente se recupera de uma infecção, ganha imunidade ao sorotipo adquirido, mas segue vulnerável às outras linhagens (decorrido o período de seis meses a um ano). A chegada de um novo sorotipo para a qual ninguém possui imunidade pode levar ao aumento de casos. Além disso, uma segunda infecção por dengue é sempre mais perigosa que a primeira", destaca.
Ajuda Federal
A pasta acrescentou que pretende aderir às ações anunciadas pelo Ministério da Saúde para as 80 cidades em situação mais crítica. Uma ajuda, por exemplo, será a disponibilização, por meio da Força Nacional do SUS, de centros de hidratação destinados ao atendimento de pacientes diagnosticados com a doença, que poderão ser instalados em UBSs, UPAs e até em tendas ou contêineres.
Os municípios também receberão orientação sobre como expandir a cobertura vacinal por meio de estratégias como busca ativa dos não vacinados. O imunizante é ofertado a pessoas de 10 a 14 anos desde o ano passado e, até o fim de fevereiro de 2025, em Bauru, apenas 23% do público-alvo havia tomado a primeira dose e 9%, a segunda.
O médico infectologista Marcelo Pesce reforça a necessidade de a população assumir sua parcela de responsabilidade no controle da epidemia e vacinar seus filhos, além de manter quintais, calçadas e terrenos limpos como forma de eliminar potenciais criadouros do mosquito Aedes aegypti. "Nesta época do ano, de abril a maio, os casos de dengue tendem a aumentar e só depois, com a chegada do período menos chuvoso e com temperaturas mais amenas, começam a diminuir", alerta.
No entanto, o especialista pondera que, ao menos por enquanto, não há risco de o sorotipo 4 tornar predominante e ser responsável por um aumento expressivo no volume de casos graves e mortes. "A preocupação, de imediato, é para os próximos anos, com eventual aumento de sua circulação. Para tanto, precisaremos de um número maior de amostras analisadas pelo Instituto Adolfo Lutz, que poderão apontar quais implicações este sorotipo pode ter imediatamente e no futuro", observa.