Prometi ao jornalista João Jabbour que não escreveria mais textos, para Tribuna do Leitor, isso já faz alguns meses, mas hoje volto com muita tristeza, agonia, derrotado, porque se algum dia perguntarem ao senhor/senhora: "E o Curso de Teatro Paulo Neves, ele existe ainda?". A resposta sem medo de errar deverá ser: "Foi pra caçamba em um sábado de carnaval de 2025". Uma outra pergunta pode surgir: "E os livros valiosos de teatro?". Resposta seca e sem encantamento: "Foi doado ao meu amigo Reginaldo, o homem do Sebo de Bauru".
Aguentamos o quanto deu. Fizemos Cultura, sim, senhores/senhoras, na maioria das vezes gratuito, outras vezesa R$ 10,00 e a R$ 5,00, durante 20 anos. A verdade é que a Casa de Cultura Celina Neves também foi para a caçamba. Ela foi com um pedaço do Paulo Neves, da Talita Neves e do grande Thiago Neves. E por que escrevo grande? Porque foi ele que teve a ideia. Foi ele que modernizou o sobrado, fez as salas de aula, a mini-arena com 80 lugares, ajudado pelo grande amigo Claudio. Sempre lotado, principalmente aos sábados, passaram por ali desde o Grupo Lume, de Campinas, até dupla de palhaços. De palestras até danças populares. De workshops até cenas curtas. De uma peça de Plínio Marcos, "Balada de um Palhaço", até uma peça do Rafael Martins, "Lesados". "Adultério", de Woody Allen, até um texto do romeno Matéi Visniec, "O Último Godot".
Passaram por ali textos de Talita Neves e seu aprendizado na Faculdade de Artes de Curitiba. Textos suaves, profundos, filosóficos com um elenco de alunos/alunas de muita categoria, lembrando agora da pesquisa e dos textos do poeta mato-grossense Manoel de Barros. Quanta ternura, quanta suavidade, quanta beleza ela passava para os alunos/alunas e para o público que lotava a Arena da Casa de Cultura.
O Thiago Neves fez uma edícula com espelho para aulas de dança, laboratórios teatrais, exercícios corporais. Uma cozinha para receber os amigos que chegavam ali para tomar um café e contar histórias. Constantemente a Casa recebia os grandes amigos, incentivadores como Adriano Garib, Edson Celulari, Arieta Corrêa, Tina Kara, Fábio Nogueira, entre outros.
Senhoras e senhores, fomos para a caçamba. Lutamos até onde deu pela cultura bauruense. Uma família de 3 pessoas perdeu e o Curso de Teatro Paulo Neves acabou.
Estou triste, solitário, vivendo o último terço da vida, mas eu tentei passar para os alunos e alunas a busca por um mundo mais justo e mais feliz, valorizando muito a profissão de diretor e ator de Teatro.
Nosso trabalho foi um trabalho cultural de 3 pessoas visionárias para todos interessados em arte.
Me reporto a Plínio Marcos: "Um povo que não ama e não preserva a suas formas de expressão mais autênticas, jamais será um povo livre".