
O que macrófagos têm a ver com sua vida? Tudo. Os microplásticos são partículas muito pequenas que cabem dentro das células e são encontradas em quase todas as partes, incluindo cérebro e tecidos penianos. Isto tem assustado muita gente com as possíveis repercussões na saúde.
MACRÓFAGO = VIDA
No corpo tem células residentes e migrantes. Na medula óssea se produz o sangue e suas células, quase todas são viajantes inveteradas. Os neutrófilos alcançam o sangue e só saem dele para os tecidos, nas emergências como nas inflamações, e por isto são as mais numerosas.
Já os macrófagos lançados no sangue, atravessam as paredes de pequenos vasos e vão morar em quase todos tecidos, como na pele, mucosas, ossos, fígado, pulmão, cérebro, rins e demais. Em cada lugar, recebem um nome diferente, mas todos são macrófagos, verdadeiros andarilhos.
O QUE FAZEM
Pelo nome macro = grande, e fagos = comedor. Ele é grande perto de outras células, e fagocita tudo que estiver na sua frente em tamanho e natureza. Se for algo muito grande, não fagocita, mas não desiste e fica tentando o tempo todo. Quando envelhece, tende a se fusionar com outros macrófagos jovens e formam células gigantes multinucleadas para prolongar sua vida.
Macrófagos são as células que selecionam o que deve ser apresentado ao sistema imunológico. Se for algo que tenha proteína, o macrófago apresenta para os linfócitos e inicia-se a resposta imunológica. Neste caso, ele tende a ficar no local e cessa de viajar pelo corpo, para que não dissemine bactérias, fungos, parasitas ou vírus captados.
Se não tem proteínas, ele tenta digerir, decompor e destruir com suas próprias ferramentas moleculares, como acontece com silicone, carvão, resinas, metais, pigmentos etc. Mas, ele continua a viajar pelo corpo como um incorrigível viajante, carregando consigo as partículas que fagocita e não apresenta ao sistema imunológico. Muitas, ele consegue eliminá-las, outras fica com ele dentro de si mesmo, até morrer e liberá-las.
DESTINO
A natureza colocou macrófagos em tudo, inclusive dentro dos epitélios de mucosas e pele. Entrou, ele pegou! É o componente mais externo do sistema imunológico. Dentro dos epitélios são chamados de células de Langherans. No osso são os clastos, no fígado células de Kupffer, no cérebro células microgliais e sucessivamente. Os macrófagos do corpo formam o Sistema Fagocitário Mononuclear ou SFM.
No pulmão, os macrófagos fagocitam as partículas de carvão e outros poluentes; na pele, come o que se passa por ali, como os pigmentos das tatuagens. Com as partículas que não estimulam o sistema imunológico por não ter proteínas, circulam com elas e ao mesmo tempo, esparramam-nas no corpo. Ao morrerem, estas partículas ficam soltas no local, até que outro macrófago fagocite.
O que o macrófago não destrói, pode se encontrado em algum lugar dentro dele, no fígado, rim, cérebro e outros locais. Quando se ingere as partículas de microplásticos no dia a dia, serão levadas a várias partes do corpo pelos macrófagos e seus outros nomes. Usamos plástico, e engolimos partículas dele que são absorvidas com os alimentos, o dia inteiro.
REFLEXÃO FINAL
1. O que pode acontecer ao redor destas micropartículas de plásticos deixadas no meio ou dentro das células, ninguém sabe ao certo. Fibroses, talvez? Atrapalhar alguma função importante, se fixar em nervos, vasos e outras estruturas? Ainda é mistério, mas sabemos que ajudam espessar as paredes dos vasos e obstruir as artérias.
2. Nos mares e rios, sabemos o que fazem os plásticos em canudos e garrafas ingeridos por peixes, baleias, e outros animais. E o que acontecerá conosco com tantas micropartículas de plásticos acumulando-se dentro e fora de nossas células? Qual será o limite?
3. Na época de Adão e Eva, as células não aprenderam a digerir o microplástico que ficam acumulando agora em nós, "ad aeternum", até quando? Algumas doenças apareceram depois que o plástico foi inventado.
Alberto Consolaro – Professor Titular da USP e Colunista de Ciências do JC.