
Ir a um spa para emagrecer? Não se trata mais apenas disso. As pessoas estão buscando esses locais para comer direito, recuperar o condicionamento físico, reduzir o estresse e a fadiga, lidar com a ansiedade e a depressão, cuidar de problemas gastrointestinais e até aprender a dormir melhor. (leia mais na página 30)
A meta é a busca por um equilíbrio do corpo, da mente e do espírito. Perder alguns quilos, quando desejado, acaba sendo consequência de uma série de autocuidados em saúde, e não o objetivo principal.
Em spas médicos como o Lapinha, no Paraná, o Kurotel, no Rio Grande do Sul, e o Rituaali, no Rio de Janeiro, pacientes se hospedam por dias (e até meses) para alcançar os objetivos.
No Lapinha, primeiro spa médico do Brasil, fundado em 1972, o hóspede passa por avaliação de fatores como má nutrição, estresse, sedentarismo e má qualidade do sono e recebe orientação individualizada de uma equipe multidisciplinar de médicos, fisioterapeutas, educadores físicos, nutricionistas e enfermeiras. Também faz exames de sangue e de bioimpedância, método que estima a composição corporal por meio de parâmetros como a porcentagem de gordura corporal e massa muscular.
Instalado em uma fazenda de 550 hectares no município de Lapa (80 km de Curitiba), em meio a um bosque de araucárias e uma floresta de mata nativa, o local oferece semanas temáticas com foco em mudanças no estilo de vida e na prevenção de doenças.
A reportagem participou entre os dias 5 e 11 de janeiro da semana voltada ao detox físico e mental. Todos ali seguem uma dieta ovolactovegetariana, adaptada para cada hóspede. As atividades começam a partir das 6h30, com uma caminhada por estradas rurais e bosques.
Aulas de ioga, de hidroginástica, de circuito funcional e de standup paddle fazem parte da lista. Também são oferecidas oficinas de culinária, de ikebanas, de jardinagem e momentos de meditação. Não há TV, e o sinal de celular é fraco. A internet é grátis, mas a ideia é se manter longe do mundo digital.
Um dos pilares do spa é a espiritualidade de inspiração cristã. As refeições são sempre precedidas de uma oração. Hóspedes de outras religiões ou ateus que não se sentem confortáveis em participar do ritual costumam esperar o término para se sentar às mesas. E tudo bem.
Segundo Margareth Novaes Brepohl, diretora de qualidade do Lapinha, no pós-pandemia, houve uma mudança no perfil de hóspedes. "A maioria tem vindo para se reencontrar, reaprender a dormir, a comer de forma mais saudável e para encontrar pessoas que buscam os mesmos valores na vida."
A psicóloga Angela Zanardini, 43, de Curitiba (PR), conta que se deu de presente cinco dias no Lapinha como agradecimento por ter conseguido se livrar de medicamentos controlados para dormir, após 14 anos de uso contínuo. "Aqui é um lugar de paz e de conexão."
Com ajuda médica, ela iniciou um desmame da medicação e, em outubro passado, parou de vez. "Passei a cuidar mais da alimentação, de atividade física, da parte espiritual, adotei técnicas para dormir melhor e muita psicoterapia e terapias alternativas. Hoje falo com orgulho: 'sou uma ex-paciente psiquiátrica'."
A chefe de cozinha Maria Marta Fragoso, 60, que vive em Paris (França), estava no Lapinha com a meta de não perder peso. Ela emagreceu muito após o diagnóstico de um linfoma de Hodgkin em estágio avançado, há sete anos. Passou por 43 sessões de quimioterapia e por um tratamento de imunoterapia.
"Aqui, me reconectei comigo mesma. Nunca tive vontade de adotar uma dieta mais natural, mais orgânica, menos cetogênica [com menos ingestão de gorduras e proteínas], mas agora pretendo incorporá-la."
* A repórter Claudia Collucci viajou ao Lapinha a convite do spa; Victoria Damasceno também viajou ao Kurotel a convite do estabelecimento.