
Investidor americano hoje baseado em Shenzhen, Taylor Ogan já testou o novo sistema operacional da Huawei, HarmonyOS Next, mas não tem como transferir imagens. "Todos os que estão usando esse Beta [versão de teste] carregam uma impressão digital", diz ele. "Se você tirar uma foto ou captura de tela, no fundo, tem o que parece ser uma impressão digital humana. Se vazar, a Huawei vai saber quem foi."
O HarmonyOS Next será lançado comercialmente junto com o smartphone Mate 70, nas próximas semanas ou meses - ainda não tem data. É o modelo que vai ocupar o lugar do Mate 60, cujo lançamento pela Huawei há um ano chocou o setor de tecnologia. Foi o retorno da empresa chinesa aos celulares de ponta, com conexão 5G, vencendo o embargo de chips imposto há mais de quatro anos pelos Estados Unidos.
Mais do que o novo celular, é o novo sistema operacional que causa expectativa. Diferentemente do HarmonyOS usado no celular Pura 70 lançado há seis meses, o Next abandona de vez os aplicativos desenvolvidos para o sistema operacional Android, do Google. Um diretor da Huawei falou no mês passado, durante uma feira do setor em Pequim, que ele foi "desenvolvido de maneira totalmente independente e autônoma".
Ogan descreve a experiência com o Next como semelhante àquela com os chamados "super apps" chineses, WeChat e Alipay, que incorporam outros aplicativos como mini-programas internos ou mini-apps. No Next, os aplicativos não trazem mais os códigos "inchados" do Android, rodando de forma mais leve. "A Huawei basicamente passa a ter seus próprios mini-programas, o que é um grande negócio."
Um aplicativo que ele ainda não testou no novo sistema operacional é o próprio WeChat. Nesta semana, a Tencent, dona do "super app", finalmente anunciou seu acerto com a Huawei, embora sem detalhar, e o início dos testes. A falta de acordo entre as duas gigantes de tecnologia vinha adiando o lançamento do próprio smartphone, já que o WeChat é imprescindível para o cotidiano dos chineses.
As duas empresas são de Shenzhen. "Muito desta cidade gira em torno da Huawei e da Tencent", diz o investidor, CEO do fundo Snow Bull Capital. "A Tencent tem meio que um monopólio e não queria [o acordo]. O Mate 70, em hardware, na verdade estava pronto para sair. A única coisa segurando era essa resistência, porque não podiam lançar sem WeChat. Foi o principal motivo do atraso. Os outros aplicativos foram reescritos rapidamente, meses atrás."
Além do WeChat, o acerto com a Tencent garantiu o início dos testes com os videogames populares "Honor of Kings" e "Game for Peace", cuja ausência vinha sendo outra sombra para o novo sistema operacional. Mas ele ainda precisa melhorar vários dos aplicativos em teste há meses, como o Douyin - o TikTok original -, que estaria sem ferramentas importantes como a busca, segundo relatório do site inglês Tech Tech China.
"Ele era um pouco bugado, mas no último mês está superlimpo", contrapõe Ogan. "Eu diria que está pronto. Não sou especialista em tecnologia, mas para uso diário parece completamente pronto. E eu acho que vai ser algo grande. Tínhamos o Android e o iOS [da Apple] e agora há oficialmente um terceiro que não é baseado no Android, como o primeiro HarmonyOS. Este é totalmente, totalmente da Huawei."