
Nascido em Lisboa, Portugal, José Miguel Lupi Alves Caetano, 61 anos, tem o dom de empreender. Começou a organizar eventos aos 17 anos, mas desenvolveu a carreira no ramo imobiliário, em que acumula experiência de quase quatro décadas.
Com a crise financeira internacional de 2008, o empresário encontrou no Brasil uma oportunidade de expandir os negócios. Dez anos depois, já estava empreendendo em Bauru como diretor-presidente do Grupo Guestier Participações.
Na empresa, Miguel comanda uma equipe de 80 pessoas, a maior parte delas no município, onde funciona a base operacional. A matriz, que abriga o centro administrativo e financeiro, fica em São Paulo, onde o empresário reside com a esposa, Paula, engenheira civil brasileira que também trabalha no Grupo Guestier.
Pai de José Maria, 32 anos, e Joana, 28 anos, frutos de seu primeiro casamento, Miguel ainda mantém laços com Portugal, mas fincou raízes no Brasil. Em Bauru, conduz, com expertise europeia, a implantação do primeiro e bem-sucedido empreendimento do grupo, o Guestier, que traz às margens da Bauru-Piratininga o conceito de morar em condomínio fechado com infraestrutura de resort cinco estrelas.
Nesta entrevista, ele revisita sua trajetória em Lisboa, fala sobre os desafios enfrentados nos anos iniciais no Brasil e sobre os motivos que o levaram a investir do Interior paulista.
JC - O que motivou a mudança ao Brasil?
Miguel - De 2008 a 2010, Portugal e o mundo viveram uma grande crise (provocada por uma "bolha" imobiliária nos Estados Unidos) que derrubou as economias, mas o Brasil conseguiu estabilizar-se rapidamente. Eu morava em Lisboa e, pela facilidade de comunicação e pelas relações comerciais e culturais com o Brasil, decidi ampliar meus negócios aqui. Fiquei por dois anos indo e voltando, mas ficou mais interessante fazer negócios aqui e decidi me mudar para São Paulo, onde moro até hoje, embora, neste momento, eu fique 15 dias por mês em Bauru. Não tenho mais negócios em Portugal, mas vou para lá três, quatro vezes ao ano para ver meus pais, irmãos, filhos e, agora, netos, além dos amigos. Eu me tornei avô em março e meu segundo neto vai nascer em dezembro. Agora, sou turista lá.
JC - O que fazia em Portugal antes de vir para o Brasil?
Miguel - Desenvolvia negócios imobiliários ligados ao turismo e trabalhava em outros setores ligados à exploração de propriedades rurais. Mas comecei a ser empresário com 17 anos. Acho que é algo que nasce com a pessoa. Somos oito irmãos e nenhum é empresário, meu pai fez direito, é economista e entrou na política, minha mãe é educadora infantil. E meu primeiro negócio foi fazer eventos. Organizava festas jovens de universidades, fornecia som, DJs, segurança, luzes, toda a estrutura. Depois, fiquei no Exército por dois anos e, na sequência, trabalhei por três anos em uma empresa. Quando saí, comecei a empreender no ramo imobiliário.
JC - Foi difícil empreender em um País cujo modo de vida desconhecia?
Miguel - Os dois anos na ponte aérea foram de muito aprendizado, porque o modo de pensar é completamente diferente. Aqui, as oportunidades aparecem todos os dias de forma espontânea, grande parte delas não tão bem estruturada, que fazem do Brasil um país com uma dinâmica muito própria. Além disso, não existe condomínio fechado em Portugal, porque não precisa. E, no Brasil, as pessoas precisam de moradia cercada por muros, portaria e segurança. Mas as diferenças são interessantes, porque se transformam em desafios.
JC - Por que escolheu Bauru?
Miguel - Criamos o produto, a marca e fomos fazer pesquisa de mercado para saber quais cidades teriam um nível de desenvolvimento, com universidades e estruturas culturais, que permitisse aos moradores entender e ter a expectativa de um empreendimento como este. E esta pesquisa apontou as regiões metropolitanas de Campinas, Bauru, São José do Rio Preto e Piracicaba. Começamos a construir primeiro em Bauru por termos, de forma mais rápida, encontrado a área e desenvolvido os processos. Lançamos o primeiro loteamento em 2020, já estamos no terceiro e vendendo muito bem. Também estamos empreendendo em Jaguariúna, Rio Preto e Londrina (PR) e procurando área em Piracicaba.
JC - Como surgiu a ideia de construir um resort dentro de um condomínio?
Miguel - A inovação da Guestier foi buscar entender qual é a expectativa de morar nos dias atuais, considerando que houve um aumento brutal do conhecimento da pessoas sobre o que há disponível no mundo, devido à facilidade em viajar - por exemplo, para a Tailândia pagando em 24 meses - e à Internet. E elas começaram a entender que há coisas diferentes do que as ofertadas aqui. Além disso, passaram a ter mais tempo para lazer, tanto que o turismo é um dos maiores negócios do mundo.
JC - Que diferenciais o empreendimento tem?
Miguel - A empresa permanece no loteamento, oferecendo serviços como de limpeza e jardinagem nas casas, passeio com o cachorro do morador. Temos o melhor nível de infraestrutura urbana e trouxemos o conceito de morar todos os dias em um resort cinco estrelas a partir do meu conhecimento sobre centros de turismo do Sul de Portugal, Sul da Espanha e do que existe na Flórida (EUA). O clube tem cinema, academia, spa, restaurante, bar molhado, salão de festas, clube teen para adolescentes, espaço para crianças com monitor, pista de skate, piscina com toboágua, piscina de 40 metros com borda infinita, piscina coberta.
JC - Quais são os próximos passos?
Miguel - Ainda teremos um ambiente de praia e restaurante com comida nordestina; bosque com espaço pet, brinquedos, academia ao ar livre, quadras esportivas. E os moradores terão à disposição um mall e o Mercadão Gourmet, abertos ao público em geral, mas colados ao condomínio. Também teremos mais três loteamentos temáticos e o primeiro será lançado em 2025. Ao final, serão 2.300 moradias construídas no que chamamos Destino Guestier, a sete minutos da avenida Getúlio Vargas.
O que diz o empresário
- 'Comecei a ser empresário com 17 anos. Acho que é algo que nasce com a pessoa'
- 'As diferenças (entre Brasil e Portugal) são interessantes, porque se transformam em desafios'
- 'A inovação da Guestier foi buscar entender qual é a expectativa de morar nos dias atuais'



