OPINIÃO

O mercado de Startups além da Faria Lima

Por Gabriel Magalhães Comegno |
| Tempo de leitura: 3 min
O autor é sócio e fundador do Magalhães Comegno Advogados, escritório especializado em Direito Empresarial, com foco de atuação em Direito Societário, M&A e Venture Capital

O ano de 2023 se mostrou desafiador para os founders que buscaram investidores para suas startups. Puxado pela quebra do Silicon Valley Bank (SVB), guerra na Ucrânia, além da incerteza com uma nova liderança política e seus impactos na economia, a tomada de decisões no mercado de M&A e Venture Capital foi diretamente afetada por esses e outros eventos, representando uma queda de 56,8% nos investimentos realizados nesse modelo de negócio, segundo a Distrito.

Em um novo ano, 2024, ainda existe muita dúvida no ar, muito tem se discutido sobre a perspectiva do mercado, política fiscal e os reflexos da taxa de juros na economia em geral, trazendo ainda muita incerteza para os mercados em geral. Apenas no primeiro trimestre de 2024, a B3 já registrou a saída de mais de R$ 24 bilhões oriundos de capital estrangeiro.

No entanto, para os atuantes na área, há um otimismo crescente para 2024, principalmente no mercado de Venture Capital (investimentos de risco em startups).

E apesar do momento promissor, pouco se fala do potencial e a tração que este mercado vem tomando nos polos longe da capital paulistana, maior centro financeiro do país e referência neste setor.

De fato, a proximidade com a Faria Lima pode ser um fator diferencial, aproximando partes interessadas, founders e investidores em constante contato e potenciais oportunidades, sendo considerada a cidade com o melhor ecossistema para startups da américa latina, de acordo com a Global Startups Ecosystem Report.

No entanto, o mercado vive em constante evolução e outros polos começam a se movimentar, trazendo maiores incentivos e iniciativas importantes, que impulsionam os negócios em suas próprias regiões, mas com alcance nacional e internacional.

Cidades como Campinas e Barueri, são exemplos notáveis, que ao final de 2023 contavam com 239 e 344 startups respectivamente, de acordo com o mapeamento sobre as startups no Brasil realizado pela Cortex em parceria com a Endeavor.

Ainda, fora do estado de São Paulo, Florianópolis se destaca com mais de 7.300 empresas do setor de tecnologia, abrigando cerca de 37% das startups de Santa Catarina, ao lado de Belo Horizonte com 476 startups abertas.

Embora comum, se engana quem associa as startups apenas com empresas com finalidades estritamente tecnológicas. De acordo com dados da PwC, estima-se um crescimento de 20% a 25% nas transações de empresas no setor agro através das "AgTechs" (startup do agronegócio), mercado com forte presença no interior paulista e na região centro oeste, com destaque para os estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

Exemplo recente nesse setor, podemos mencionar o aporte de R$15 milhões recebidos pela Smartbreeder, startup localizada na cidade de Piracicaba/SP, que chamou a atenção do fundo norte-americano EcoEnterprises.

Ainda, podemos mencionar a recente aquisição parcial da Witzler Energia pela gigante Ultragaz no importe de R$ 110 milhões, que muito embora não seja um startup, reforça o potencial do ambiente de negócios fora da Faria Lima.

O avanço desse mercado se deve muito ao conjunto de dois principais fatores: (i) as iniciativas regionais, como eventos e a presença crescente de aceleradoras e incubadoras, criando um ambiente cada vez mais propício à inovação e criação de negócios; (ii) aliado à qualificação crescente de empresários e mão de obra, os quais passam a dotar cada vez mais as melhores práticas do mercado, retendo talentos e estruturando-se da melhor maneira possível para o recebimento de aportes.

Entretanto, é importante reconhecer que estamos diante de um mercado que exige muito dos envolvidos (financeira, técnica e até mesmo juridicamente), seja em razão da concorrência, seja por despreparo ou mesmo pelo dinamismo exigido.

Como atuante no mercado, é comum notar deficiências nesses novos players, muitas vezes decorrente de questões culturais ou mesmo ausência de experiência em determinados temas, principalmente quando diante de early stages de primeira viagem.

Não são raros os casos de empresas, que na busca por investidores, não possuem um plano de negócios ou mesmo um pitch bem estruturado, financeiro desorganizado, cape table poluído, entre outras questões básicas que são deixadas de lado, mas que podem refletir negativamente no desenvolvimento da empresa.

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