OPINIÃO

O DAE tem que cuidar do desperdício

Por Zarcillo Barbosa |
| Tempo de leitura: 3 min
O autor é jornalista

Metade da água tratada em Bauru não chega ao consumidor. Para encher três caixas d´água de mil litros, a quantidade capaz de encher outras duas são perdidas pelo caminho, seja por conta de vazamentos, furtos, erros de leitura e outros problemas entre a estação de tratamento e as residências dos 370 mil bauruenses que recebem água potável encanada.

Imagine se, na indústria automotiva, as montadoras tivessem que desprezar cinquenta por cento dos carros e caminhões produzidos. O mundo estaria andando a pé por impossibilidade técnica e financeira de se produzir automotores. No caso do DAE, temos um prejuízo econômico, social e ambiental. Gastam-se energia elétrica para bombear e elementos químicos para tratar a água. Tudo faz parte do custo de operação da autarquia, ou seja, está na tarifa paga pelo munícipe.

Cobra-se pela ineficiência na distribuição e as pessoas bem intencionadas, preocupadas com o problema crônico no abastecimento de água em Bauru, discutem a necessidade de perfurar poços artesianos, construir reservatórios e interligá-los. Há os que vão mais longe. Sonham em buscar água a quarenta quilômetros, no Rio Tietê, ou opinam por se construir nova barragem no Rio Batalha. Atualmente o DAE se dedica a limpar as plantinhas aquáticas da lagoa de acumulação do Batalha. A captação e bombeamento de mais água que o necessário impacta, também, a flora e a fauna.

Muita gente não gosta de estatística. Alegam que é a arte de torturar os números até que eles digam o que você quer. A verdade é que eles sempre confessam. Em matéria de desperdício de água tratada, o DAE joga fora quase 50% do que produz. Ou seja, o dobro do suportável, igual a 25%, em termos de Brasil. A média nacional é de 36%, o que já é um número pornográfico. Em Tóquio, é de 2 por cento e os japoneses ainda pretendem zerar. Se baixarmos a bola para estes tristes trópicos, em Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, a perda é de 7%. Qualquer pessoa sensata conclui que é possível, em Bauru, o DAE economizar os 480 litros que perde por ligação dentro do universo de seus consumidores.

Em Bauru, que foi "Cidade Sem Limites" e hoje está mais para "Cidade Sanduíche", não há baixa disponibilidade hídrica. Há vazamentos, muitos deles não visíveis, que não afloram na superfície, mas podem ser detectados com tecnologia adequada e disponível no mercado. O presidente do DAE, engenheiro Leandro Joaquim, cidadão acima de qualquer suspeita e de comprovada competência demonstrada quando trabalhou como secretário de Obras, deveria ir atrás desses equipamentos, formar esquadrões de caça a vazamentos e arrumar a casa. Começaria pela própria Estação de Tratamento, cheia de fissuras e canos mal acoplados ou apodrecidos.

Depois viriam as inspeções de adutoras, calçadas, cavaletes, hidrômetros com defeito e "gatos", as ligações clandestinas. Os geofones de ultrassom detectam qualquer avaria hidráulica em tubulações de qualquer tipo. Segundo o Google, o hidrofone é bom para escutar sons sob calçadas, ruas asfaltadas e pisos cerâmicos. A Sabesp vem realizando esse patrulhamento, com sucesso. O desperdício de água não é privilégio de Bauru. Ninguém tem que se envergonhar. O volume perdido com vazamentos e furtos nos municípios poderia abastecer 54 milhões de brasileiros. Este ano, pela primeira vez em sete anos, as estatísticas demonstram números em queda.

Aqui, ninguém é culpado, somos todos inocentes, mas alguém tem que fazer alguma coisa. Cerca de 30% das casas não têm caixa d´água. Quando há corte no abastecimento, a torneira seca de imediato e a grita acontece. Alguém já pensou, no DAE, em distribuir reservatórios grátis à população carente. Acho que faltou a ideia prosperar. Poderíamos ter outra lagoa de captação nas residências e grandes reservatórios públicos. Teremos ainda outra represa se o DAE diminuir substancialmente o que é jogado fora.

Desnecessário grandes investimentos como a da Estação de Tratamento de Esgoto, que a gente pensa que são "obras", e já são ruínas.

Comentários

1 Comentários

  • LADISLAU VENCESLAU FLORIAN 15/06/2024
    Quando construi minha primeira casa ( nos idos de 1967/1968 ) para obter a ligação da água, o DAE FISCALIZAVA para saber se o munícipe havia instalado seu reservatório e a ligação não era efetivada se não havia o reservatório ( a famosa caixa d\'água compativel com o tamanho do imóvel ). Se isso continuasse ocorrendo, não haveria o que o articulista menciona, ou seja \" Cerca de 30% das casas não têm caixa d´água. Quando há corte no abastecimento, a torneira seca de imediato e a grita acontece.\"