ENTREVISTA DA SEMANA

Entrevista com Maurilio Teixeira, co-CEO do laboratório NAOS

Por Guilherme Matos | da Redação
| Tempo de leitura: 5 min
Divulgação
Maurilio Teixeira é co-CEO do laboratório NAOS
Maurilio Teixeira é co-CEO do laboratório NAOS

Interior lhe deu jogo de cintura para o mercado global

"A cultura do brasileiro, do Interior paulista, me deu 'jogo de cintura' e agilidade para tomar decisões rápidas e avaliar os riscos e benefícios dessas escolhas" — características essenciais no mercado global. As palavras são de Maurilio Teixeira, atual co-CEO do laboratório NAOS, empresa francesa que deve faturar um bilhão de euros em 2024. Nascido em Dois Córregos em 1981, ele veio com a família para Bauru no ano seguinte e, agora, tem a incumbência de tomar decisões rápidas em nome de uma empresa presente em mais de 100 países.

Para chegar à função na Europa, apostou em uma gestão que valoriza a diversidade e a inclusão. Acredita, inclusive, ter sido selecionado para o cargo justamente por acreditar que os melhores resultados são alcançados coletivamente. Começou a formar repertório em Bauru, onde estudou no CTI e Instituição Toledo de Ensino (ITE). Iniciou como programador, mas considerou fundamental cursar administração pelo tipo de ofício que exercia. Com empatia, passou a liderar e a engajar profissionais experientes ainda muito jovem e não abriu mão mais desse estilo de gestão, que é colaborativa. A seguir, leia os principais trechos da entrevista.

JC: Como foi a sua infância e adolescência?

Maurilio: Nasci em Dois Córregos em 1981 e, em 1982, meu pai foi transferido para Bauru, onde cresci na Vila Industrial, perto do campo do Noroeste. Vindo de uma família grande, de cinco irmãos, de classe média baixa. Tive uma infância tranquila e harmoniosa. Sempre estudei em escola pública, incluindo o ensino médio e o curso técnico na Unesp, no CTI de Bauru, onde fiz programação de sistemas.

JC: O que motivou a sua transição do curso técnico de programador de sistemas para administração?


Maurilio: Durante o curso técnico na Unesp, estagiei numa empresa local de programação. Atendendo diversas empresas, de diferentes segmentos, percebi que o conhecimento em administração poderia complementar minha visão, já que eu tinha que programar sistemas para processos de empresas. Assim, decidi cursar Administração na ITE, em Bauru, o que foi crucial para minha formação.

JC: Qual papel a família exerceu em sua trajetória?

Maurilio: Minha família sempre morou na mesma casa em Bauru. Meu pai era ferroviário e minha mãe dona de casa e sou o caçula dos cinco irmãos. Cresci em um bairro tranquilo e pude acessar os recursos que Bauru tem para oferecer.

JC: Em entrevista, você mencionou que o inglês foi um desafio quando se mudou para Londres. Como foi superar esse e outros desafios impostos por ser um brasileiro na Europa?

Maurilio: Mudar para a Inglaterra em 2011 para um cargo de diretor global de marketing foi um grande desafio. A cultura brasileira é bem aceita, mas sempre há um estigma de ser latino. A gente tem o desafio de sempre se provar um pouco mais do que os europeus. Tem que mostrar o potencial, mas depois de um tempo tudo é equalizado. Ser brasileiro tem seus desafios, mas não é nenhum bloqueio. A adaptação ao inglês nativo também foi difícil, exigindo um período de imersão cultural para alcançar a proficiência necessária.

JC: Como sua experiência inicial moldou sua carreira? Como?

Maurilio: Meu primeiro emprego, na verdade, foi como programador de sistemas enquanto cursava o técnico na Unesp. Posteriormente, fui indicado para uma vaga de propagandista em um laboratório farmacêutico. Fui selecionado entre 300 pessoas e saí direto da programação para a área. Nesse emprego, aprendi muito sobre a parte técnica, comercial e a importância das viagens e do relacionamento com clientes.

JC: Aos 22 anos, você foi promovido a gerente de território, liderando pessoas mais experientes que você. Como você conquistou o respeito e a confiança da sua equipe?

Maurilio: Aos 22 anos, fui promovido a gerente de território em Campinas, liderando minha própria equipe. O desafio de ser jovem e liderar pessoas mais experientes foi superado com empatia, adaptação e um estilo de liderança inclusivo. Essa experiência inicial moldou minha capacidade de liderança, essencial em toda a minha carreira.

JC: Quais são os maiores desafios que você enfrenta atualmente como co-CEO de uma empresa global?

Maurilio: Como co-CEO de uma empresa presente em mais de 100 países, o maior desafio é lidar com a pluralidade de dinâmicas de cada mercado. A rápida tomada de decisões, baseada em informações ágeis, é crucial. A cultura do interior paulista me deu esse "jogo de cintura" e essas características, que são essenciais no mercado global.

JC: Na sua avaliação, como seu estilo de gestão influenciou a escolha da NAOS para que você assumisse o cargo?

Maurilio: Meu estilo de gestão é inclusivo e colaborativo, sempre buscando engajar a equipe no mesmo objetivo. Essa abordagem, que valoriza a diversidade e a inclusão, foi um dos fatores que a NAOS considerou ao me selecionar para o cargo de co-CEO. Acreditamos que os resultados são melhores quando alcançados coletivamente.

JC: Você acha que só é possível exercer uma gestão humana democrática em modelos de negócios sem fins lucrativos?

Maurilio: A gestão humana é possível e benéfica em qualquer modelo de negócio, seja lucrativo ou sem fins lucrativos. Um ambiente que valoriza o bem-estar e o engajamento das pessoas resulta em alta performance e crescimento. Acredito que os chefes estão sendo substituídos por líderes que inspiram e motivam suas equipes, independentemente do tipo de negócio.

O QUE DIZ CO-CEO:

"A cultura do brasileiro, especialmente do paulista do Interior, me ajuda bastante na rápida tomada de decisões. A agilidade e a flexibilidade que desenvolvemos no Brasil são essenciais para avaliar riscos e benefícios rapidamente e agir de forma eficaz"

"Quando o resultado é conquistado em equipe, a celebração é intensa, o que estimula novos desafios, aumenta a motivação, o engajamento e acelera o sucesso da equipe e da empresa"

"O meu estilo de gestão é esse estilo mais humano de liderar pessoas e não de chefiar. Os chefes estão sendo substituídos por líderes que inspiram e motivam suas equipes"

"Incluir a diversidade e a pluralidade de pensamentos na equipe potencializa os resultados"

Maurilio em uma loja da Bioderma, que pertence ao laboratório NAOS (crédito: Arquivo Pessoal)
Maurilio em uma loja da Bioderma, que pertence ao laboratório NAOS (crédito: Arquivo Pessoal)
Maurilio Teixeira junto aos seus quatro irmãos e seus pais (crédito: Divulgação)
Maurilio Teixeira junto aos seus quatro irmãos e seus pais (crédito: Divulgação)
Maurilio, seu filho Noah e sua esposa Pamela (crédito: Arquivo Pessoal)
Maurilio, seu filho Noah e sua esposa Pamela (crédito: Arquivo Pessoal)

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