OPINIÃO

Irineu Azevedo Bastos, historiador

Por Alfredo Enéias Gonçalves d'Abril | 20/03/2024 | Tempo de leitura: 3 min

O autor é professor universitário, aposentado

Enfrentando uma doença insidiosa durante um bom tempo, o historiador Irineu de Azevedo Bastos a ela sucumbiu na primeira quinzena deste mês. Sendo um homem de boa índole e isto era percebido em meia hora de conversa por alguém que não o conhecia, chegando até a ser cerimonioso perante os amigos, cercado de princípios que nortearam toda sua vida, a lacuna dolorosa aberta aos filhos também produziu direta consequências no reduto local das letras, posto que a ausência de Irineu coloca em risco a continuidade da história da cidade de Bauru e sua sociedade e, ao que se sabe, foi o último escritor de obras versando sobre o assunto e a pessoa que gostava de comentá-las nas rodas de amigos.

Possuía bom domínio sobre os acontecimentos do passado de Bauru e conhecia suas vias públicas e localizações; fatos históricos marcantes eram descritos nas suas minúcias; nome das famílias e suas posições na sociedade, e daí por diante.

Ocupou cargos públicos e empregos da iniciativa privada de relevâncias, tendo o seu nome como credencial de pessoa séria e competente que foi.

Faço parte de um pequeno grupo de amigos idosos que se reúne aos sábados pela manhã na lanchonete das lojas Havan. A atmosfera do ambiente fica carregada de episódios descritos pelos companheiros e, quando surge alguma dúvida ou equívoco sobre fatos antigos em comento, da década de 50 ou mais recente, é prontamente desfeita pelos demais companheiros, servindo como exemplos que a memória envelhecida e enriquecida por constantes leituras se torna "memória de elefante", aquela com extraordinária fonte de armazenamento de eventos, demonstrando a capacidade viva do ser humano de terceira idade retê-los na memória.

Em nossos encontros não há nenhum memorialista que assim possa ser chamado, todavia, com o passamento de três deles, Gabriel Ruiz Pelegrina, historiador; João Francisco Tidei de Lima, professor universitário e historiador; e Irineu Azevedo Bastos, advogado e historiador, será necessário encontrar alguém que reúna condições de dar sequência à história da cidade, o que será na sua falta uma imperdoável privação imaterial para o município a ser somada a outras tantas perdas (materiais) que se escoaram no ralo, dada ao comodismo do município, ou sua participação dificultando as coisas ao contribuinte.

Sendo o nosso grupo de café situado num cantinho da lanchonete da Havan, composto de idosos interessados na revelação de fatos históricos, não seria temerário apontar nomes em condições de dar sequência ao acervo acumulado, evitando que a demora dessa sugestão se torne amiga do esquecimento. Ino Alvarez e Luiz Augusto de Oliveira Castro são as pessoas mais qualificadas para assumirem uma comissão onde o assunto será tratado e formatado, tomando rumo da impressora e se tornar livro na estante da biblioteca municipal. Como o campo de escolha de nomes é limitado, ainda assim é possível indicar suplentes nas pessoas de Jadyr José Gabrielli, Luiz Carlos Primo Balallai, Antônio Carlos Duarte e Murilo Aiello. Aí está formado um sexteto amadurecido pelo conhecimento de fatos reais, esquecidos pela imposição temporal, porém, revividos no bate-papo da lanchonete.

Todos possuem interesse na matéria e estão aptos a complementar um trabalho paralisado, retalhado em poucos livros e artigos publicados no Jornal da Cidade, sem prejuízo de consultar o interesse de outras pessoas bem informadas na questão aqui focalizada.

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