
SAMBA PULSA NAS VEIAS
Vinda de uma família com tradição no Carnaval, Larissa Cristina da Silva Santos, a Lari Cris, 21 anos, seguiu os passos de seus antepassados e ainda criança começou a desfilar no Sambódromo de Bauru. Atual Rainha de Bateria da Coroa Imperial, ela participou, recentemente, do Miss União das Escolas de Samba Paulistanas (Uesp) 2024, em São Paulo, ficando entre as 16 melhores do concurso.
Apesar de não ter ganhado o título, viu seu talento - um combo de beleza, habilidade para se comunicar, elegância e samba no pé - ser reconhecido pela plateia. Nascida em São Manuel, ela mudou-se para Bauru aos 3 anos, quando foi adotada por Ana Cristina e Jailton (em memória), família que aumentou com a chegada de Gabriel, hoje com 14 anos.
Neta de um dos fundadores da Mocidade Independente de Vila Falcão, Lari desfilou em diversas agremiações - inclusive a Unidos do Samba, criada pelos Silva - e encontrou neste universo uma forma de conexão com suas raízes.
Apesar de não descartar a possibilidade de alçar novos voos no Carnaval, ela constrói uma trajetória que vai além das fantasias e do ritmo da bateria. Estudante de enfermagem, a jovem tem planos audaciosos para a carreira na área da saúde. Nesta entrevista, Lari revela estes sonhos, além de seus feitos no meio carnavalesco, e conta como tem administrado o foco nos estudos com o empenho em cuidar do físico para aprimorar, cada vez mais, sua performance na avenida. Leia os principais trechos.
JC - O amor pelo samba veio por influência familiar?
Larissa - A arte sempre esteve presente em casa. Meu pai foi bancário, mas, depois, tornou-se pintor de quadros. E o samba veio da família materna. Meu avô, João Batista da Silva, foi um dos fundadores da Mocidade Independente de Vila Falcão, hoje Mocidade Unida. E minha família fundou, em 2009, o bloco Unidos do Samba, onde desfilei pela primeira vez. Meu pai era adventista e acompanhava porque era nosso. Depois, quando paramos, em 2011, ele não foi mais. Aí, desfilei pelo Azulão do Morro, Indepa, Ritmeira, Mocidade Unida e Coroa Imperial. Sempre estive nesse meio, fui rainha de bateria e meu negócio, até hoje, é desfilar com os ritmistas.
JC - É o orgulho dos pais e do irmão também?
Larissa - Sim. Nós dois fomos adotados e viemos de pais biológicos diferentes. Fui adotada quando tinha 3 anos e, aos 6, 7, pedi um irmão. E eu o escolhi, assim como o nome dele. Quando fomos ver a certidão de nascimento, descobrimos que ele fazia aniversário em 13 de abril, sendo que faço em 14 de abril. Minha mãe era bancária e trabalhava muito, então, eu ficava cuidando dele. Ele é minha alma gêmea, é uma relação gostosa. Somos muito parecidos fisicamente e no jeito de ser.
JC - Já sabe em que área vai seguir na enfermagem, quando se formar?
Larissa - São cinco anos e estou no quarto. Ainda não tenho certeza, mas só quero trabalhar em hospital se for em UTI de queimados. Outras possibilidades são atuar como socorrista ou enfermeira da Marinha ou em usina de petróleo. E não pretendo ficar em Bauru. Quero buscar novos ares, conhecer lugares, pessoas e culturas diferentes, ter novas experiências. Isso me motiva muito. Espero, aliás, em algum momento da carreira, ter a oportunidade de trabalhar em outro país.
JC - Você considera seguir carreira no samba?
Larissa - Existem profissionais de samba show, mas o valor das apresentações é mínimo. Tem quem trabalhe no meio vendendo a imagem, com ganhos muito bons. Mas, neste momento, depois de me formar, penso em prestar concurso e seria difícil conciliar as duas coisas. Carnaval, no entanto, sempre será parte da minha vida, sempre vai me remeter à minha origem. Carnaval me dá paz, toca minha alma, é luz, alegria, entrega. E, felizmente, muita gente em Bauru ama Carnaval.
JC - Como foi a experiência de participar do Miss Uesp 2024?
Larissa - Foi minha primeira participação, em 13 de janeiro. São escolhidas a Rainha do Samba, 1.ª e 2.ª Princesas, além dos Passistas de Ouro e de Prata, que recebem valores em dinheiro e, neste ano, também uma moto elétrica. Eles são escolhidos a partir dos critérios comunicação, elegância, estética corporal e samba no pé e, depois, desfilam nas escolas dos grupos de acesso de bairros e especial de bairros. Neste ano, 60 pessoas se inscreveram, sendo 28 meninas e fiquei entre as 16 selecionadas, mas não entre as três. Mesmo assim, fiquei muito feliz, porque, quando comecei a sambar, todo mundo gritava. Senti meu desempenho reconhecido, sem conhecer ninguém ali. Neste ano, também fui Musa da escola Unidos da Jaçanã, no Butantã, em São Paulo.
JC - Tem algum sonho dentro do Carnaval?
Larissa - Participar do concurso da Liga das Escolas de Samba de São Paulo, que forma a Corte Oficial do desfile das escolas de acesso ao Grupo Especial, no Sambódromo do Anhembi. Mas, para tanto, é preciso ser rainha de uma dessas escolas e pretendo ir, sempre que puder, a São Paulo para manter contato com o meio, nem que seja para desfilar na frente de um carro, como passista. Ainda não me sinto pronta, mas quero me preparar para isso. Meu sonho é ser Rainha da Mocidade Alegre. Quase todos os anos, vou com a São Paulo para assistir ao desfile das campeãs e, neste ano, tive a oportunidade de ficar no camarote, a convite dos meus professores de lá, Victor e Marcus Prado, que dão aulas de samba para vários famosos, como a Sabrina Sato.
JC - E como se prepara para encarar os desfiles e estas apresentações?
Larissa - Comecei a treinar há um ano e, hoje, gosto muito de ir à academia. Estava com acompanhamento nutricional, mas dei uma parada. Tenho dificuldade para me alimentar, mas sempre fui muito magrinha e estou entendendo que, se não comer, não vou conseguir ganhar massa muscular. Preciso ganhar mais resistência, que é importante para o Carnaval. Há dois anos, quando fazia apresentações, samba show ou desfilava na avenida, cansava muito rápido. Neste ano, não cansei tanto, mas vou melhorar ainda mais.
O que diz a Rainha de Bateria
'A arte sempre esteve presente em casa. Meu pai foi pintor de quadros e o samba veio da família materna'
'Quero buscar novos ares, conhecer lugares, pessoas e culturas, ter novas experiências. Isso me motiva'
'Carnaval sempre será parte da minha vida, sempre vai me remeter à minha origem. Carnaval toca minha alma'



