OPINIÃO

Que bicho louco é o carnaval?

Por Roberto Magalhães | 13/02/2024 | Tempo de leitura: 2 min

O autor é professor de redação e autor de obras didáticas e ficcionais

Quando a palavra carnaval surgiu, ela significava exatamente o contrário do que significa hoje. Pasmem! "Carnaval", palavra latina, significava simplesmente a proibição de comer carne. Isso mesmo, interdição, abstinência. Hoje, a gente sabe que a coisa não é bem assim. Ao contrário, é uma festa de nenhuma dieta, uma explosão de libido, num clima de liberou geral, com exposição apetitosa de corpos nus, suados e grudados de confete, rebolando na avenida. O jornalista Sergio Rodrigues - Folha de S. Paulo - estudioso da etimologia, ensina que "carne vale" significava exatamente a proibição de consumir carne.

Claro, não estamos falando de carne humana, mas de bichos, desses que a gente adora comer em churrasquinhos de domingo. Enfim, era o dia de dar adeus à carne, porque, no outro, começava a "quaresma". "Nada mais humano do que consagrar a véspera do início do jejum de carne a um festival de chuletas, maminhas, lombos suculentos, confere?" É o que diz o jornalista com fino humor. Faz sentido. Carnaval é alegria, fantasia, sexualidade e, se quiserem, até pureza de alma. Mas carne também é. Ah, isso é. Aliás, está gravado no próprio nome.

Todavia, não dá pra reduzir o carnaval a essa imagem simplista e estereotipada da sexualidade carnal, com que muita gente azeda tenta desqualificá-lo. Ele é infinitamente mais. "Meu Deus, vem olhar, vem ver de perto uma cidade a cantar a evolução da liberdade até o dia clarear". Tá aí o convite do Chico para quem quiser entender - melhor ainda seria sentir - a estonteante energia que move carnaval. É só medir o tamanho do sorriso tatuado em cada rosto, entender o samba eletrizante de cada corpo, perceber, enfim, o orgasmo transbordante da avenida, que parece ter encontrado a sua melhor serventia: tapetar a alegria, ainda que fugaz, dessa gente tão sofrida.

O carnaval é um grito coletivo contra o individualismo teimoso e doentio. É mensagem - quem sabe um dia seja ouvida? - de que só unidos faremos a vida valer a pena. Triste saber que se há de viver aporrinhado o ano inteiro, esperando o carnaval chegar. Se não é terapia, terapêutico o carnaval é. É uma questão de saúde. Quem não gosta de samba, disse o Caymmi, "bom sujeito não é, ou é ruim da cabeça ou doente do pé." E o Chico completou: "Ai, que vida boa, olerê, ai, que vida boa, olará, o estandarte do sanatório geral vai passar!"

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