OPINIÃO

Projeto de poder

Por Reinaldo Cafeo | 25/01/2024 | Tempo de leitura: 3 min

O autor é diretor regional da Ordem dos Economistas do Brasil

A política no setor público pode ser utilizada para servir a população, ampliar a representatividade da sociedade e promover o bem comum. Um político com "P" maiúsculo pensa no bem comum. Utiliza de maneira sadia o poder que a população lhe concedeu e, sem vaidades pessoais, praticando o amplo senso de servir, faz a diferença no dia a dia das pessoas. São raros os políticos com este perfil, mas é o desejável.

Mas há quem se aproxima do setor público com intenções nada republicanas. Em vez de servir, querem se servir do dinheiro público. Normalmente se aproximam de grupos de interesse, e trazem para sua base de sustentação, pessoas que as auxiliam a se manter no poder a todo custo.

Para atingir seus objetivos, inclusive de melhoria da sua vida pessoal, mascaram resultados, oferecem "pão e circo" à população e investem naquilo que dá mais visibilidade, atendendo as pessoas mais carentes que veem no político alguém que pode resolver seus problemas, afinal, de tamanha carência, elegem àqueles que podem ser considerados quase um tutor. É o político benfeitor.

Às vezes um asfalto na frente de casa ou uma vaga em hospital, até mesmo um projeto assistencial, tudo isso gera gratidão das pessoas, e quando chegam as eleições, essa pessoa que foi beneficiada, individualmente, por gratidão, vota naquele político.

O projeto de poder investe em estrategistas exatamente para essa forma de atuar. Sabe o que a pessoa quer, e trabalha exatamente para atendê-la, aí as pessoas ficam cegas e não mudam seu voto. Na história tivemos inúmeros políticos corruptos, até condenados, que eram reeleitos. É a cegueira coletiva.

Dentro do projeto de poder, normalmente quem está na linha de frente é poupado, e alguém muito próximo do político, cuida das articulações, não deixando as digitais do político. Dominam partidos políticos que irrigam recursos, financiando campanhas milionários, sempre visando se manter e ampliar o poder. Se cercam de pessoas com a mesma índole.

Alguns acabam entrando nos projetos de poder de "inocentes", e quando percebem o jogo, ou caem fora, ou se retraem. Há muitos exemplos de pessoas que entraram na política e até tendo cargo público, mas que murcharam depois de perceberam a enrascada que entraram, mas aí já é tarde: se saírem pega mal, se ficarem, correm riscos. A omissão normalmente é a melhor opção.

Vale também destacar que um bom projeto de poder tem nicho. Pode ser qualquer um, até mesmo voltado a religião. Estes nichos precisam também validar sua representatividade e se aproximam de outros grupos que talvez não tenham o mesmo DNA, mas levando em conta as vantagens que o poder pode possibilitar, fecham os olhos e entram de cabeça. Estes são os primeiros a cair fora caso algo fuja ao controle.

Vale ainda destacar que estes que comandam o projeto de poder não possuem ética alguma, e normalmente querem seus opositores em suas mãos, e para tanto, lançam mão de artifícios nada republicanos, tentando macular a imagem daqueles que podem representar ameaças. Se utilizam de todos os meios para tentar ter os opositores em suas mãos.

Não raramente se vitimizam quando são criticados. Aí a pauta de costumes é a tônica e com isso reforçam a simpatia de sua "bolha". Pouco importa se o fato é verdadeiro ou não, dentro ou fora de contexto, o que vale é a narrativa, o jogar para torcida. Os menos avisados não conseguem discernir fatos reais de "fakes news".

Será que nós, pobres mortais, estamos preparados para diferenciar quem entra na política para promover o bem comum de quem entra na política para levar vantagem dentro de um projeto de poder de longo prazo?

Sinceramente, tenho minhas dúvidas.

Se não aguçarmos o senso crítico, este modelo de projeto de poder continuará sendo reproduzido.

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1 COMENTÁRIOS

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  • Coaracy Domingues
    25/01/2024
    Na mosca !