OPINIÃO

Desafios tecnológicos, lei e ética

Por Zarcillo Barbosa | 20/01/2024 | Tempo de leitura: 3 min

O autor é jornalista

O Google e a Meta (dona do Facebook, Instagram e WhatsApp) são processadas na Califórnia, acusadas de se utilizarem de conteúdos de empresas jornalísticas sem o devido pagamento.

Em várias partes do mundo ocorre esse mesmo movimento em defesa da propriedade intelectual, inclusive no Brasil, onde já existe projeto de lei em tramitação no Congresso Nacional.

Ganhar dinheiro com jornalismo sem trabalhar, é o mesmo que reinventar o papel de gigolô, sem cabaré. Os jornais, revistas e sites que sobraram, estão ainda produzindo informações de qualidade, a um custo alto e não é justo que empresas multimilionárias disso de aproveitem sem remuneração. A Austrália começa, ainda neste ano, a pôr fim a esse tipo de rapinagem por parte das chamadas big techs.

O Google ofereceu umas migalhas à imprensa australiana. Só fez por acirrar a raiva dos legisladores, que emendaram o projeto com regras de responsabilização por veiculação de notícias falsas, discursos de ódio e teorias conspiratórias.

Tem mais... senadores daquele país acusam essas plataformas de não pagarem impostos como deveriam. Marc Zuckerberg e Larry Page, donos do Face e do Google, e Bill Gates, da Microsoft, figuram entre os mais ricos do mundo e recolhem muito pouco em tributos. Por enquanto estão ganhando do fisco que não encontram meios de acabar com a "zona cinzenta" em que transitam. Lembram o Chapolin Colorado que não cansava de se gabar: "Não contavam com a minha astúcia".

A trapaça consiste em pegar (roubar) a propriedade intelectual de outros e reutilizá-la, com lucro sobre o ativo recriado. A astúcia "chapolínica" está em alegar que não estão roubando nada, só pegando emprestado o que está aí, nas nuvens.

O Facebook convence os usuários a produzirem conteúdos, vende-os aos anunciantes para que eles possam vender produtos aos usuários que os criaram. Cada vez que você posta uma foto da família na praia, o computador processa a informação, o anunciante lhe oferece mais viagens para o litoral e o operador informa que sua postagem foi vista por muita gente e convida-o a postar outros conteúdos, para que eles possam continuar lucrando.

Tudo é comandado pelo algoritmo. Nada mais é que uma receita para atingir um determinado resultado, receita esta que pode ser executada por um ser humano ou por um computador. O primeiro algoritmo que aprendemos foi na escola primária. É o algoritmo da adição. Usando essa receita (algoritmo), qualquer pessoa pode facilmente somar dois números, por maiores que eles sejam, usando a sequência de passos ensinada a todas as crianças. Os computadores da Netflix, e de todas as outras operadoras, sabem o tipo de filme que você gosta e oferece produções de gêneros parecidos. Sempre aqueles de menos sucesso. Os blockbusters (arrasa-quarteirão), os filmes mais populares, deixam menos lucros às operadoras e não são oferecidos.

Agora temos o ChatGPT, programa de computador que usa Inteligência Artificial capaz de criar textos com uma boa estrutura, poemas, teses acadêmicas e abordar assuntos de qualquer complexidade. A Open AI, dona do Chat GPT, e que tem a Microsoft como grande investidora, armazenou no computador todo o conteúdo do New York Times dos últimos cinquenta anos. Desses textos saem o que o cliente quiser, quem sabe um livro para se ganhar prêmio literário. Milhões de artigos foram utilizados para treinar chatboats - robôs que conversam com os usuários e respondem perguntas dos clientes. O NYT exige direitos autorais e alega "bilhões de dólares em prejuízos". A briga vai ser boa.

Os desafios tecnológicos surgem em muito maior velocidade do que a nossa capacidade cognitiva pode acompanhar. O desafio é também político e social. A utilização cada vez mais intensa dos algoritmos para processar informação e tomar decisões precisam, sim, ser compatíveis com os valores éticos e morais, que são essenciais para o bom funcionamento da sociedade.

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