OPINIÃO

O caso Americanas

Por Caio Coube | 17/01/2024 | Tempo de leitura: 4 min

O autor é empresário

Há exatamente um ano uma bomba explodiu no ambiente empresarial do Brasil. O executivo Sérgio Rial em sua segunda semana no cargo de CEO da Americanas, informou a descoberta de "inconsistência contábeis" no valor de R$ 20 bilhões, e que as tais inconsistências alteravam a situação patrimonial e os resultados financeiros da empresa.

Uma semana após o anúncio, Rial; famoso por sua gestão como CEO do Banco Santander no Brasil, renunciou ao cargo.

Imediatamente após o anuncio, alguns bancos credores; cujos os empréstimos financiavam a operação da varejista; tomaram medidas protetivas e bloquearam o acesso das Americanas ao dinheiro depositado em conta corrente.

Diante desta situação de perda de folego financeiro, oito dias após o anúncio de Rial, a empresa pediu Recuperação Judicial (RJ), com dívidas declaradas de R$43 Bilhões, que engloba dívidas com bancos, com fornecedores e obrigações trabalhistas. Este valor total da dívida informado no pedido de RJ coloca a Americanas em terceiro lugar no ranking de maiores RJs do Brasil, superado apenas pela Telefônica Oi e pela Odebrecht.

Os principais acionistas da Americanas são Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, conhecidos por serem os maiores empresários do Brasil, controladores da Inbev, a maior fabricante de cervejas do mundo. Pressionados, o trio de acionistas informou que não tinha conhecimento das inconsistências contábeis.

O Conselho de Administração, de que os principais acionistas são membros, afastou todos os diretores e contratou uma investigação externa, que constatou que houve sim fraude contábil e que o valor era de R$25,6Bilhões, portanto superior aos R$20Bilhões informados inicialmente.

A investigação apontou o CEO anterior, Miguel Gutierrez; e outros diretores, como responsáveis pela fraude. A fraude envolvia a omissão de despesas financeiras e contabilização de receitas fictícias.

Em fevereiro de 2023, um mês após o deferimento pela justiça do pedido de RJ, teve início as negociações envolvendo os bancos credores; que inclui todos os principais bancos brasileiros e os representantes de Lemann, Telles e Sicupira.

Os Bancos, que em conjunto possuíam em torno de R$ 20 bilhões de empréstimos, exigiram que o poderoso trio fizesse um aporte de R$10 bilhões, para viabilizar a continuidade da operação e os custos de reestruturação da empresa.

O trio concordou com o aporte imediato de R$2 bilhões e compromisso de R$6 bilhões a médio prazo, o que os bancos não aceitaram. As negociações neste primeiro momento, não avançaram.

Este caso da fraude contábil da Americanas é um enorme problema pra CVM - Comissão de Valores Mobiliários; órgão fiscalizador das empresas de capital aberto e, portanto, responsável pelo bom funcionamento do mercado de ações no Brasil.

A CVM abriu vários inquéritos, mas ainda não tornou pública nenhuma decisão sobre o caso.

Não foi só a reputação da Americanas como empresa centenária e do icónico trio de acionistas que foi abalada. As empresas de auditoria KPMG e PWC responsáveis pela checagem das informações divulgadas nos relatórios financeiros da Americanas assinaram um atestado de incompetência.

A demonstração de resultados do exercício de 2022 publicada com as "ferramentas" da fraude indicaram um lucro de R$ 5 bilhões. A demonstração retificada e expurgada da "contabilidade criativa", apresentou para o mesmo exercício de 2022 R$ 12,8 bilhões de prejuízo.

Em 27 de novembro. Bancos e acionistas chegaram a um acordo. Os acionistas se comprometeram a fazer um aporte de R$12Bilhões, superior aos R$10Bilhões solicitados pelos bancos em fevereiro.

Os bancos concordaram em converter R$ 12 bilhões de empréstimos em ações, tornando-se sócios da empresa. A conversão de dívidas em ações foi um pedido dos acionistas aos bancos e havia sido negado no início das negociações.

Em 19 de dezembro o plano de Recuperação Judicial da Americanas foi aprovado em assembleia de credores; uma exigência da lei de RJ, e está prestes a ser homologado pela justiça.

Neste um ano, a Americanas fechou 126 lojas, demitiu milhares de funcionários e o seu valor de mercado despencou de R$ 10,3 bilhões para R$ 776 milhões, uma impressionante redução de 92,8%.

Em entrevista ao Estadão o atual CEO da Americanas, Leonardo Coelho, afirmou: "A Americanas continua no jogo, sem a arrogância do passado".

Como demonstração de arrogância ele mencionou, impor aos fornecedores condições de pagamento, de entrega e condições negociais sem uma conversa de alto nível. Disse também que tem consciência que são relevantes para os fornecedores e que precisam deles.

O caso Americanas é um dos maiores escândalos do mundo empresarial do brasileiro.

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