O Natal constitui a festa mais alegre do mundo cristão porque em cada data do nascimento de Jesus se celebra o próprio milagre da vida humana. Essa celebração como a feita pelos Reis Magos carrega, além da religiosidade, gestos mundiais de generosidades marcados pela troca de presentes, com os ancestrais dos marketeiros criando a figura fantástica e fantasmagórica do emblemático Papai Noel (Nast, 1862).

Esse personagem, símbolo universal da generosidade humana, morador da Lapônia ou do Alaska, carrega nos seus velhos ombros, afinal, já está mais que centenário, a responsabilidade de receber pedidos de crianças de todo o mundo, geralmente brinquedos e entregá-los num curto espaço de algumas horas sempre e rigorosamente nas noites de 25 de dezembro e isso exige extraordinários mecanismos e esforços logísticos para atingir em poucas horas e em todos os pontos do planeta nossas ansiosas crianças.

Necessário receber os pedidos, providenciá-los, embalá-los festivamente, colocá-los em ordem no trenó e desde o momento da partida dirigir-se casa por casa, esgueirar com invisível silêncio por chaminés ou por alguma discreta entrada sem acordar seus moradores e ali deixar as encomendas desejadas e pedidas por todas as crianças do mundo nas suas respectivas casas. Tudo isso em poucas horas e sem qualquer auxílio a não ser o esforço das velozes renas que puxam seu trenó. Esforço hercúleo, generoso e fantástico que criança alguma consegue imaginar o quanto de energia, trabalho e dedicação são necessários para que assim seja feito com sucesso. Tarefa e missão de um único velho, tão generoso quanto solitário, sem duvida alguma grande, talvez o maior, herói de um mundo fantástico.

Com a missão realizada nosso herói certamente descansa e festeja a alegria de cada criança ao abrir a festiva embalagem de sua encomenda como fora solicitada, imaginando a imensa e gratificante satisfação pelo seu imediato e eficiente manuseio com diversão. No mundo fantástico de Papai Noel encomenda alguma deixa de ser entregue e não existe remotíssima hipótese de eventual fracasso ou indesejável erro. Isso lhe conforta a alma, enriquece o espírito e lhe dá forças renovadas para continuar fazendo pela sua eterna vida aquilo - exatamente aquilo - que justifica sua existência e missão de vida. É trabalho real, importante e válido num mundo irreal e fantástico.

Mas no nosso mundo real, marcado por guerras, injustiças e, principalmente, desigualdades Papai Noel na solidão de seu pequeno reino não tem acesso, ignora e muito se frustraria se viesse saber que imenso contingente de crianças esparramadas por esse mundão de Deus, não lhe mandam pedidos, não recebem as suas visitas e seus alegres e necessários presentes e, sem alegria alguma permanecem órfãs de momentos de mínima felicidade infantil tendo por causa e motivo único as terríveis desigualdades socioeconômicas ainda alastradas por todas as comunidades mundiais.

Isso exige de todos os governos deste mundo e de cada um de nós projetos de políticas públicas e projetos pessoais de vida bem programados e melhor executados para ajudar na eficiente e nobre superação de desigualdades que possa permitir que se realize missão importante e fundamental destinada a cumprir aquilo que Papai Noel por ignorar e por não saber não tem a felicidade e alegria de cumprir pessoalmente.

No mínimo deixaríamos Papai Noel, mesmo sem o saber, ainda mais feliz e satisfeito. Então por quaisquer formas ou modos metamos nossas mãos nesta nobre e generosa obra que vale muito para valorizar sonhos, despertar alegrias e engrandecer a humanidade. Papai Noel, afinal, deve servir em cada Natal todas as crianças do mundo. Sempre e indistintamente.

Um mundo justo é dever de todos.

Nota de férias. Depois de hoje e após um ano ininterrupto de colaboração neste valioso espaço sempre nas sextas-feiras, inicio férias. Se a vida profissional e a saúde permitirem, retornaremos em fevereiro se o JC assim desejar. Saudáveis comemorações e bom 2024 para todos.