OPINIÃO

Olá, dezembro!

Por Claudia Zogheib | 05/12/2023 | Tempo de leitura: 2 min

A autora é psicóloga clínica pela USC, psicanalista, especialista pela USP

Quando chega dezembro inicia o corre-corre. Tentamos acomodar os compromissos numa agenda curta, mas cheia de afazeres: pensar na ceia, nos presentes, na roupa que vamos usar nas comemorações de fim de ano, como tudo será, sobretudo pensando como administrar o tempo diante das tarefas que nos impomos.

Tudo é urgente e nada pode ficar para depois. Entramos no "modo atrasado e corrido" como presas de um tempo voraz onde a abundância de estímulos e bombardeio de informações de efeitos nocivos afetam nossa maneira de se relacionar com os outros e, quase sempre, nos distanciamos da forma que mais apreciamos de nós mesmos.

O excesso de demandas que nos impomos acabam por empobrecer as experiências significativas típicas da época, sobretudo com as pessoas que fazem sentido para nós numa pressa que não encontra intervalo para digerir os acontecimentos significativos e, independentemente da crença, a pausa, reflexão e sobretudo avaliação do ano e de onde nos encontramos neste processo seria o grande norteador significativo. Correndo, sem tempo, cheios... e vazios por dentro.

Freud dizia que o inconsciente não conhece o tempo, concebendo-o como eterno, inalterável, qualificado como atemporal. No entanto é no inconsciente que estão todos os registros que experenciamos, estes que afetam nosso ser no mundo e que quando não lhe damos tempo e voz, gritam em forma de somatizações, manias, atropelos, atos falhos, chistes, etc.

Na transmissão transgeracional replicamos memórias e ensinamentos impressos que reportam como aprendemos a ser no mundo, e enquanto corremos, reproduzimos sem pensar no quanto este comportamento é nosso ou carregado como ima que adere sem pensar no quanto disto queremos ser.

À medida que a família vai crescendo, depois diminuindo, depois crescendo de novo, o efêmero tempo tenta nos ensinar que a cada época um modo será e que construir memórias é também estar aberto as demandas do momento presente.

A importância de viver o presente se traduz em qualidade, e nas intenções que colocamos diante daquilo que se apresenta somos levados a pensar no que nos move, e o porquê disto ou daquilo acaba sendo medido em como nos portamos frente às situações, sobretudo no tom que damos em relação ao nosso olhar diante das festividades de fim de ano.

Dezembro é o último mês do ano e sobre ele recai um peso de finalização onde temos a oportunidade de fazer importante os momentos sejam eles quais forem, com quem e onde, e se conseguíssemos entender do que se trata não teríamos necessidade de correr tanto, aproveitando cada momento, buscando dentro o que verdadeiramente faz sentido para cada um de nós, sobretudo pensando em "como" vamos construir as memórias do futuro. Porque na verdade a vida não é o que, com quem e onde, mas sim como!

Música, "Abri a Porta", com Dominguinhos, Gilberto Gil, Arismar do Espírito Santo, Heraldo do Monte e Roberto Silva.

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