OPINIÃO

Desenvolvimento sem trabalho

Por Zarcillo Barbosa | 07/10/2023 | Tempo de leitura: 3 min

O autor é jornalista e articulista do JC

Em 1952, a Câmara Municipal de Bauru instituiu a chamada Semana Inglesa, para o comércio local. As lojas passaram a funcionar com meio expediente aos sábados. O descanso ampliado para os trabalhadores também agradou aos comerciantes, que nada perderam em vendas.

Na Inglaterra, a semana reduzida vigorava desde 1825, com a Revolução Industrial e o progresso tecnológico. Em Marília, aqui perto, a Semana Inglesa só foi introduzida 15 anos depois da promulgação da lei bauruense. Nos anos 1960 muitos ainda moravam na roça e aproveitavam o sábado para as compras na cidade.

As empresas britânicas, recentemente aprovaram a semana de quatro dias de trabalho. O programa piloto demonstrou que não houve queda de produtividade, os custos operacionais caíram, os funcionários se demonstraram mais criativos com seu bem-estar possibilitado por um maior equilíbrio entre a vida profissional e pessoal.

A experimentação, chamada de "4X3" - quatro dias de trabalho e três de folga - vem se repetindo nos Estados Unidos, Canadá, Austrália e mais de duas dezenas de países, inclusive o Brasil. Famoso pelo seu livro "O Ócio Criativo" (1995), o sociólogo italiano Domenico De Masi, sempre sustentou essa possibilidade de se trabalhar menos e produzir mais. Ócio nada tem a ver com preguiça. O autor, recentemente falecido, grande amigo do Brasil, garantia que o fato de se estar feliz aumenta a capacidade do cérebro de criar coisas, melhorando nossa performance. Isso só é possível com o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. Quem tem tempo de ver um filme, ouvir música, ir ao teatro, ler, curtir a família, se inspira de maneira natural, o que é bom para o empregado e para o empregador.

Diferente do ócio alienante, onde o indivíduo passa o tempo livre sem criar nada, acomodado, com aquela sensação de vazio e inutilidade.

Aristóteles assegurava aos seus discípulos que "para ser sábio é preciso ser ocioso". Bem por isso, nenhum dos filósofos da Grécia Antiga foram contra a escravidão. Os prisioneiros de guerra é que faziam os trabalhos cansativos, brutais ou entediantes. O avanço tecnológico, subtraiu a fadiga não apenas no trabalho industrial, mas também no trabalho doméstico. Um estudioso (Haymond G. Rickover), calculou que se antes eram necessários vinte homens para substituir a força muscular de um cavalo, hoje os modernos eletrodomésticos fornecem a cada dona de casa uma ajuda comparável à que na Grécia era prestada por 33 escravos.

O criador da organização científica do tralho, Frederick Taylor (1856-1915), pai da linha de montagem, conseguiu aumentar a produção em 35% com os mesmos operários e as mesmas máquinas. Na sua época, enquanto o marxismo considerava que o trabalho era a própria essência do homem, enquanto o catolicismo encarava o trabalho como uma forma de expiar o pecado original, Taylor julgava um mal que podia tecnicamente ser eliminado pela organização e a engenharia. Quando o homem estivesse liberado dessa fadiga a atividade humana finalmente se traduziria no prazer do ócio ativo, isto e, do estudo e da invenção.

Os norte-americanos chamam de "skilled-people" - pessoas qualificadas - aquelas que produzem ideias. São cada vez em maior número do que as pessoas que produzem coisas. A informação e o conhecimento oferecem a quem os detém os cidadãos.

Nem trabalhadores super ocupados até o enfarte, nem desempregados totalmente excluídos do mundo da produção e, portanto, da sociedade civil. Este nó, Domenico De Masi garante que dá para desatar: em vez de pagar o trabalho e não o tempo livre, como acontece hoje, será pago o tempo livre e se deixará trabalhar gratuitamente aqueles poucos que ainda teimam em fazê-lo.

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