OPINIÃO

“Um Cadáver Para Sobreviver” às vontades

Por Marieli de Souza |
| Tempo de leitura: 2 min
A autora é graduanda em História pelo Centro Universitário Sagrado Coração de Bauru

No filme "Um Cadáver Para Sobreviver", dirigido por Dan Kwan e Daniel Scheinet e lançado em 2016, são exploradas discussões sobre a existência humana, a morte e a logopatia, com uma abordagem criativa e econômica que oferece originalidade à indústria cinematográfica. O filme narra a história de Hank (interpretado por Paul Dano), um homem pessimista que se une a um cadáver chamado Manny (interpretado por Daniel Radcliffe) em uma ilha deserta, dando início a uma jornada de autoaceitação e reflexão sobre desejos reprimidos.

A obra pode ser conectada a filosofia do polonês Arthur Schopenhauer, a qual enfatiza a importância dos desejos na vida humana, representando-os como a "Vontade de Viver". Schopenhauer argumenta que essa vontade é cega e tirânica, causando sofrimento e levando benefícios à morte. O pessimismo de Schopenhauer sugere que a única solução para o sofrimento humano é o desenvolvimento de uma personalidade extraordinária, a contemplação do sublime ou da morte. Hank, no filme considera a morte como uma solução para seu próprio sofrimento e solidão. No entanto, ao encontrar Manny, ele encontra uma maneira de escapar temporariamente de sua solidão, mas ao custo de enfrentar a angústia e a dor da existência. Manny, apesar de ser um cadáver, torna-se uma companhia para Hank, e juntos embarcam em uma jornada em busca de civilização. A narrativa do filme reflete a ideia de que o mundo é uma representação do sujeito, conforme apresentado na filosofia de Schopenhauer. Hank, projeta suas emoções, traumas e ideologias em seu ambiente e em Manny. O filme utiliza conceitos de construção de cena para representar o estado psicológico do protagonista por meio de situações fantasiosas, assim, Manny adquire "superpoderes" no filme, como falar, usar gases como propulsão e criar uma bússola com suas ereções. Esses poderes servem como metáfora para as questões existenciais e filosóficas elevadas na trama, fazendo com que Hank reflita sobre sua vida e suas vontades reprimidas.

O clímax do filme revela que as supostas lembranças felizes de Hank e da ilha em que eles não eram reais O protagonista tenta manter sua fantasia, mas é confrontado pela realidade coletiva, liderando uma perseguição pela civilização. No final, Hank se liberta da dependência de Manny e encontra uma forma de expressar suas vontades reprimidas, o que é representado metaforicamente pela liberação de gases. A cena final do filme pode ser interpretada como uma contemplação do sublime, segundo a filosofia de Schopenhauer, onde a ausência de dor resulta em um momento de prazer e libertação para o homem.

Em resumo, "Um Cadáver Para Sobreviver" aborda temas filosóficos profundos, como a natureza da vontade humana, o sofrimento e a busca da felicidade, utilizando elementos criativos e cômicos para explorar essas questões de forma original. O filme oferece uma reflexão sobre a importância da autoaceitação e da expressão das vontades reprimidas como uma forma de enfrentar a existência humana.

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