COLUNISTA

Os sete pecados capitais - Parte II: Gula

Por Carlos Brunelli | 02/09/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Igreja Batista do Estoril

É automático; basta falar em gula e súbito vem à mente a figura de alguém comendo de forma descontrolada, a ponto de sofrer desconforto, dores ou mesmo adquirir alguma severa doença por conta do excesso. Poucos sabem, mas o beber de forma exagerada, qualquer que seja o tipo de líquido, também é classificado como gula, embora para as bebidas alcoólicas normalmente sejam atribuídos outros adjetivos.

De toda forma, a gula é entendida como um exagero no comer ou beber, e normalmente a compreensão para por aí. Mas esse pecado, tido como um dos sete pecados capitais, deve ter um entendimento mais amplo, referindo-se à tentativa ou necessidade do guloso em apoderar-se de tudo para si, não importando a carência do próximo.

Neste particular já encontramos um contraponto aos ensinamentos de Jesus que, perguntado pelos fariseus sobre qual dos mandamentos constantes da Lei era o mais importante, respondeu: "Ame o Senhor, seu Deus, de todo o coração, de toda sua alma e de todo seu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Ame seu próximo como você ama a si mesmo". Ora, a transgressão no ato da comilança está estabelecida na inobservância do amor ao próximo, por não repartir; na desimportância dada ao semelhante, por não compartilhar.

A gula também se revela uma manifestação em busca da satisfação do corpo, esquecendo do mais importante que é o alimentar-se espiritualmente. Não à toa, a Bíblia traz um valioso conselho aos que querem se desviar da tentação de cometer tal pecado: "Não ande com os que se encharcam de vinho, nem com os que se empanturram de carne. Pois os bêbados e os glutões se empobrecerão, e a sonolência os vestirá de trapos" (Provérbios 23:20,21).

Observe que a sabedoria bíblica associa a gula à sonolência, à indolência, à moleza, à inatividade, ou seja, à preguiça - outro delito considerado na lista dos capitais - deixando claro que um pecado pode levar a outro, e assim por diante, fazendo do indivíduo um insistente pecador e, por isso, afastado de Deus.

Contrariamente ao pecado da gula, aqui entendida no seu sentido mais amplo de egoísmo, agir com temperança, com moderação, sobriedade e comedimento freia o impulso de agir pensando somente em si, dando espaço gradativo a enxergar o próximo como um igual, com demandas idênticas e carências paralelas. Ao assumir essa visão, o agora ex-guloso, o ex-egoísta, o ex-desinteressado no semelhante vai se tornando um compartilhador, um ser humano solidário e preocupado com o bem-estar do outro, do irmão em Cristo.

As Escrituras Sagradas estão repletas de trechos onde a idolatria, a adoração a ídolos é especialmente abominada pelo Criador. Desde o Êxodo, onde nas tábuas da Lei entregues a Moisés estava escrito que o povo não deveria adorar ou prestar culto a qualquer outro que não a Deus, que a idolatria é condenada. A gula, o egoísmo em querer tudo só para si é um concreto egocentrismo que desembarca na egolatria, ou em outras palavras na adoração de si próprio. O guloso é egocêntrico; o egocêntrico é um ególatra e, portanto, um pecador.

O antídoto ao pecado do egoísmo está na generosidade, e ela tornará o generoso rico em bênçãos, pois como está em Provérbios 11:25, "O generoso prosperará; quem dá alívio aos outros, alívio receberá". E ao que era triste por não repartir, a felicidade o invadirá e acompanhará, pois como disse o apóstolo Paulo, citando palavras que decerto foram ouvidas de Jesus e repetidas pelos demais apóstolos, "Há maior felicidade em dar do que em receber" (Atos: 20:35).

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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