OPINIÃO

Sem bobagens, a devida ciência

Por Adilson Roberto Gonçalves |
| Tempo de leitura: 2 min
O autor é pesquisador na Unesp – Rio Claro

Algumas avaliações sobre o livro de Natália Pasternak e Carlos Orsi, Que bobagem!, confundem aceitação do público com resultados científicos. O livro possui o subtítulo "Pseudociências e outros absurdos que não merecem ser levados a sério" e pode pecar pelo excesso, mas não pela omissão ao tocar a fundo em questões que não são ciência, mas assim "vendidas" ao público. Lembrando que da dúzia de exemplos de pseudociências, apenas três (acupuntura, homeopatia e psicanálise) foram objeto de controvérsia. Ou seja, a obra contém 75% de consenso, mesmo entre não especialistas. Há muitas formas de conhecimento, sem dúvida, mas Natália e Carlos pretendem apenas resgatar os limites do que é ciência, tal qual Carl Sagan já havia feito.

Dois temas dizem respeito a "discos voadores" e "pseudoarqueologia e deuses astronautas". Considerando novos arquivos que a Agência Espacial Norte-Americana (Nasa) está analisando acerca de "fenômenos anômalos não identificados", a questão torna-se pertinente. Com o perdão do trocadilho, o espaço ficou pequeno para os analistas dissecarem o palavratório norte-americano acerca dos rebatizados óvnis. Nem nos grupos de ficção científica os relatos/denúncias de David Grusch, ex-funcionário do Pentágono, são levados a sério ou a eles é dada alguma importância. Parece que alguma resposta burocrática solicitada foi transformada em "acontecimento" e, agora, os conspiracionistas alienígenas ficaram ouriçados. E vai a Nasa e cientistas perderem tempo em explicar "a vida, o universo e tudo mais". A resposta é 42, antecipo (dica: leiam Douglas Adams).

De qualquer forma, é necessário o devido letramento científico para não cair em armadilhas explícitas, tanto as gerais denunciadas no livro, quanto as mais específicas do dia a dia. Por exemplo, a de rotular alimentos ultraprocessados como sinônimo de tudo o que tem "adição de produtos químicos". Sal e açúcar para alterar ou intensificar o sabor são produtos químicos, da mesma forma que é produto químico a água que é colocada para cozinhar arroz e feijão. A distinção deve ser feita de outra maneira, saindo do senso comum não científico, pela adição de substâncias que não sejam as já constantes em alimentos de forma geral e, principalmente, pela intensidade e quantidade delas. Alerta e denúncias devem ser feitos, mas a Química deve ser preservada, pois, afinal de contas, é a ciência que pode resolver a questão da qualidade alimentar. E não com crendices e outras bobagens.

Comentários

Comentários