Qual é a relação entre ciência e poder?

Por Wellington Anselmo Martins | 02/12/2022 | Tempo de leitura: 2 min

O autor é mestre em Filosofia (Unesp/Marília), mestre em Comunicação (Unesp/Bauru), especialista em História, Cultura e Poder (Unisagrado), graduado em Pedagogia (Unisagrado), graduado em Filosofia (Unisagrado)

O Brasil é o 13º maior produtor de conhecimento científico do mundo, segundo dados recentes, de 2021, do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), organização social vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). Seria possível pensar, contemporaneamente, em um país muito poderoso, mas sem um grande investimento em ciência?

É possível imaginar a expansão europeia ou chinesa sem a sua potente indústria? Acaso os Estados Unidos seriam tão imponentes sem os recursos destinados às suas armas, à sua tecnologia, às suas tradicionais universidades de Harvard, MIT, Stanford?

"O mesmo método científico que pode levar a uma dominação cada vez maior sobre a natureza proporciona, igualmente, uma dominação cada vez mais eficiente do homem sobre o próprio homem", afirma Jürgen Habermas, teórico nascido em 1929, em Düsseldorf, Alemanha, no livro denominado Técnica e ciência como ideologia (capítulo 2, parte I). Há uma relação direta entre a ciência e o poder. Entre o saber acadêmico e o poder político.

Deste modo, os países que conquistam maior tecnologia ficam melhor instrumentalizados para dominar, explorar e cultivar a natureza; e com a mesma invenção técnica e científica, tais países conseguem imporem-se econômica e militarmente sobre outros povos. Não é preciso, então, que haja necessariamente uma guerra para que um determinado país domine a outro.

Tal como uma pessoa treinada e armada não tem que agredir fisicamente a uma outra pessoa desarmada para, assim, demonstrar o seu poder de controle. Basta que um país mantenha-se na vanguarda científica, educacional e tecnológica para que o seu poder (em grande medida o seu poder cultural, inclusive) mantenha-se entre os que mais se impõem mundo afora.

Ora, se há poder político e simbólico atrelado ao poder racional e acadêmico, do mesmo modo é verdade que há desempoderamento e fragilização decorrentes do analfabetismo e do negacionismo científico. A ignorância fragiliza um povo e facilita que ele seja explorado, escravizado ou assassinado.

Por isso, de um lado há o historicamente conhecido perigo da radicalização cientificista - um risco que pode levar a posturas ditatoriais, imperialistas, e culminar em bombas atômicas e câmaras de gás para genocídio -, de outro lado, enfim, importa que o Brasil lembre-se sempre do valor estratégico, político, econômico e militar, do investimento em ciência, tecnologia e educação.

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