POLÍTICA

Pedro Tobias: 'PSDB acabou e, se pudesse, me filiaria ao PT...'

Por André Fleury Moraes | da Redação
| Tempo de leitura: 5 min
JC Imagens
Pedro Tobias afirma que, apesar da proximidade com Alckmin, não quer cargos nem emprego: 'Eu vou ficar em casa'
Pedro Tobias afirma que, apesar da proximidade com Alckmin, não quer cargos nem emprego: 'Eu vou ficar em casa'

Ex-deputado estadual e médico mastologista, o antigo tucano Pedro Tobias está convicto de que o PSDB, partido ao qual foi filiado durante décadas, acabou. E, mais: se pudesse escolher uma legenda para chamar de sua, não tem dúvidas de que seria o PT, sigla que combateu durante anos e da qual se aproximou para apoiar a chapa Lula-Alckmin à Presidência.

Nascido no Líbano, onde também teve passagem pela política, Pedro Tobias ocupou uma cadeira na Assembleia Legislativa de São Paulo durante 20 anos e é chamado de "irmão" pelo vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB), a quem se refere apenas como "Geraldo".

Em entrevista ao JC, ele comenta os percalços da campanha e admite ter sofrido retaliações por ter apoiado a chapa petista nas eleições. E diz que tem mágoas de Bauru por não reconhecer o trabalho do ex-governador no município.

A seguir, os principais trechos da entrevista:

JC - Foi uma eleição muito acirrada, evidentemente. O próprio PT acompanhou com apreensão a apuração dos votos. Passada a campanha, qual avaliação o sr. faz a respeito da disputa?

Pedro Tobias - A eleição foi boa. Foi difícil, é claro. Infelizmente, vimos a extrema-direita como ela é. Não respeitam a democracia, a imprensa, não respeitam nada. Muita gente passou do limite, e nós ficamos acuados.

JC - O sr. articulou a vinda de Geraldo Alckmin a Bauru durante a campanha. Como ocorreram as tratativas?

Tobias - Liguei para ele e o convidei. Simples assim. Já trouxe ele várias vezes a Bauru. Não foi diferente desta vez. A Associação Comercial se recusou a receber o Geraldo. A regional da Fiesp também. E agora que ganhamos a eleição, tem gente se aproximando. Não houve isso na eleição, não fomos procurados. O que esperar de uma cidade cujas instituições rejeitam o debate político?

JC - A chapa do presidente eleito obteve mais votos em Bauru do que recebeu Haddad em 2018. Os dois obtiveram 38,96% do eleitorado em 2022, enquanto Haddad aglutinou 27% dos votos há quatro anos. Como o sr. enxerga este crescimento?

Tobias - Não houve aumento, o que houve foi uma votação baixa. Tudo o que o Geraldo fez por nossa cidade, Bauru, não reflete nessa votação. Foi uma votação mixuruca.

JC - O sr. pretende trabalhar para que o vice eleito, Geraldo Alckmin, aumente os votos em Bauru?

Tobias - Eu vou ficar em minha casa. Não quero emprego, cargo, nada disso. Vou, na verdade, torcer para que o Geraldo faça um bom governo. E tenho certeza de que vai. Será um governo melhor do que o de Bolsonaro, que deixou uma terra arrasada.

JC - Muito embora não queria cargos, o sr. não deixa de ser uma figura importante para Bauru. Como o sr. enxerga a cidade para os próximos quatro anos?

Tobias - Aqui nós precisamos de um líder, que é o papel da prefeita, que ela se aproxime do governo Lula. A prefeita acha que pode exigir do Governo Federal. Exigir coisa nenhuma, ninguém pode exigir nada de ninguém. Precisamos ter diálogo.

JC - O sr. guarda alguma mágoa com relação a Bauru pela baixa adesão à chapa Lula-Alckmin?

Tobias - Claro que sim. Em sua última semana enquanto governador, por exemplo, Geraldo me chamou e anunciou o curso de Medicina da USP. Quer um presente maior do que este? Ele foi lá e fez. O que Tarcísio e Bolsonaro fizeram por nossa cidade?

JC - O sr. conversou com Alckmin quando foi anunciada a vitória nas eleições?

Tobias - Eu falo com o Geraldo todo dia. Estava em casa no dia da eleição, acompanhando a apuração das urnas, e liguei para ele assim que foi anunciada a vitória.

JC - Não há como falar em Pedro Tobias sem mencionar o PSDB, partido do qual o sr. se desfiliou para migrar ao PSB. Os tucanos sofreram uma dura derrota neste ano. Qual é o futuro do partido?

Tobias - O PSDB acabou. Não sei o que vai ser do partido. Achava-se que Doria seria o quadro do partido, e o Doria se desfiliou. Agora fala-se no Rodrigo Garcia, que daqui a algum tempo pode sair do partido também. O Rodrigo, afinal, nunca foi do PSDB. Não sei o que vai ser do partido.

JC - O sr. sofreu alguma retaliação ou ataque por apoiar a chapa Lula-Alckmin?

Tobias - Sim, muitos xingamentos. Não tem respeito mais. Parece o regime de Saddam Hussein no Iraque. Tivemos a sorte de o Lula ganhar, porque não sei como ficaria o Brasil e os brasileiros num novo governo de Jair Bolsonaro. O fato é que eu nunca havia passado por isso numa eleição. Não imaginava que o Brasil fosse passar por isso. Fui atacado por amigos.

JC - Para além da aproximação entre Lula e Alckmin, houve também a união do sr. com o PT de Bauru, antigos adversários. Como se deu essa conciliação?

Tobias - Veja, hoje eu sou muito mais próximo do PT do que do PSB, meu atual partido. O PSB nunca me convidou para uma reunião. Tenho um relacionamento muito melhor com o PT. O PSB em Bauru praticamente não existe.

JC - O maior quadro do PSB em Bauru é o deputado federal Rodrigo Agostinho, que perdeu a disputa à reeleição.

Tobias - Ele nunca me convidou para uma reunião de partido. Não vejo isso como algo inteligente. Tanto que perdeu a eleição.

JC - O sr. cogita mudar de partido?

Tobias - Não. Entrei no PSB por causa do Geraldo. Se pudesse escolher, hoje me filiaria ao PT. Não acho que o centro exista mais. Precisamos de posições definidas.

JC - O Alckmin vai liderar a transição de governo. E tem sido sondado até para assumir um Ministério. O sr. tem conversado com ele a respeito?

Tobias - A transição está começando. Ele vai levar o prestígio ao lado do Lula. O Geraldo respeita muito o Lula, e vice-versa. Com relação ao Ministério, disse a ele que não há necessidade disso. Devemos respeitar o cargo de vice-presidente. Lula vai viajar muito, e o Geraldo vai assumir a Presidência várias vezes.

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