Mistérios do tarot
Entrevista
Mistérios do tarot
Texto: Gustavo Cândido
Tido erradamente como uma maneira de saber do futuro e da vida de outras pessoas, o tarot, um oráculo milenar de origem oriental, tem outra função muito mais nobre: conduzir a pessoa que o "joga", ao auto-conhecimento. É isso que o tarólogo bauruense Ricardo Tavares ensina nos seus cursos sobre o famoso baralho que hoje em dia está em super evidência devido ao sucesso do personagem Uálber, na novela "Suave Veneno". Avesso a idéia de lucro que muitos esotéricos exibem por todos os cantos, Ricardo explica um pouco mais sobre a essência verdadeira do tarot, que está presente em sua vida desde a infância.
Jornal da Cidade - Como você começou a mexer com o tarot?
Ricardo de Oliveira Tavares - Foi através da minha avó, que era uma pessoa muito especial. Um dia tive um sonho com tarot e búzios e depois disso decidi ir fundo nisso. No começo foi meio complicado mas o meu pai e minha mãe me deram muita força. Com sete anos foi quando tudo começou, com treze eu estava participando de uma feira mÃstica em Barra Bonita, dai passei a escrever para revistas especializadas e o caminho foi se abrindo. Quando as pessoas me perguntam como eu comecei eu digo que não foi de agora, em outra vida eu já trabalhei com ele.
JC - Qual a origem do tarot?
Ricardo - Dizem que ele foi criado no Egito, uma cultura muito evoluÃda, onde era usado para as pessoas se auto-conhecerem e saberem como guiar o seu caminho. Na realidade o tarot contém toda a história da vida humana, qualquer pessoa que pegar o baralho e olhar da primeira carta que é "O Louco", até a 21, que é "O Mundo", vai poder se encaixar em alguma delas. Hoje o tarot foi muito vulgarizado, em qualquer lugar que você olha tem um anúncio dizendo:
"joga-se tarot" e o negócio não é por ai. As pessoas procuram o tarot para saberem do futuro e o futuro a Deus pertence.
JC - Por que então as pessoas acham que o tarot pode dizer o futuro?
Ricardo - Quando você procura o tarot as cartas podem inclinar você para alguma coisa mas não vão te dizer o que vai acontecer. O seu destino está na sua mão. As cartas só vai indicar como você pode se afirmar melhor. Esta é a verdadeira realidade do tarot, que já estava escrita no templo de Delfos: "conheça a ti mesmo". Inclusive muita gente diz que joga tarot mas a coisa também é mais complicada do que parece, cada carta tem vários simbolismos, como a letra em sânscrito, a letra em hebraico, o sÃmbolo zodiacal, tem toda a escritura cabalÃstica dentro de uma carta, não é uma coisa que simplesmente dê para "jogar", o tarot
é uma arte, um caminho. A própria palavra tarot significa roda ou caminho.
JC - O que você acha das pessoas que dizem "jogar" tarot como forma de adivinhação?
Ricardo - Eu não acho legal as pessoas usarem o tarot desta forma e deixo isso bem claro no meu curso, ninguém termina o curso sabendo da vida de ninguém, nem para ler para o vizinho. A pessoa que faz o meu curso sai dele sabendo só de si mesma e esse é o detalhe: "a partir do momento que você se conhece, você conhece cada pessoa que está na sua frente", inclusive essa foi a meta do curso na Oficina Cultural, o auto-conhecimento. Também não concordo com essa exploração que existe em torno de coisas como os búzios e outros oráculos. A pessoa diz lá que você tem um macumba nas costas e que precisa de R$ 500,00 para te livrar dela. Isso, no mÃnimo
é um desrespeito. Geralmente as pessoas que procuram pela opinião de um oráculo, seja ele o tarot, os búzios ou I Ching, estão com algum problema, explorar isso é demais, não concordo e já vi muita coisa por ai, muita mistificação. Há uma diferença muito grande entre ser mÃstico e mistificar, que é o que mais acontece hoje.
JC - Foi a primeira vez que a Oficina trabalhou com tarot?
Ricardo - Eu creio que tenha sido o primeiro curso desse nÃvel na Oficina. O interesse do curso foi visar o lado psicológico e o lado cultural do tarot, que passou pela Idade Média, pela Inquisição e continua o mesmo.
JC - O tarot é uma forma de análise, então?
Ricardo - Sim. Grandes psicólogos trabalharam em cima do tarot, como Jung, Freud, ele é uma chave para o inconsciente. Quando você puxa uma carta, abre uma porta de onde vão saindo informações sobre você.
JC - Outros oráculos também?
Ricardo - Também, todos eles.
JC - Como o tarot foi desviado dessa função original de instrumento de auto-conhecimento para um método advinhatório?
Ricardo - No Egito antigo, só os iniciados conheciam o tarot. Quando a biblioteca de Alexandria foi queimada por Júlio César, toda a história do tarot foi perdida e só esse iniciados detiveram o conhecimento, que foi passando até a idade média onde os Celtas, que cultuavam "a grande mãe", trabalhavam com tarot, dessa vez na mão das mulheres, as sacerdotisas. Após a Inquisição e todas as queimas de bruxas, o tarot foi se popularizando, uma pessoa séria às vezes ensinava para uma nem tanto e essa começava a comercializar a coisa. Foi ai que caiu na vulgaridade e foi onde se perdeu.
JC - Quando as pessoas te procuram para aprender sobre o tarot elas vêem com o intuito de se auto-conhecerem ou de conhecer a vida dos outros?
Ricardo - Eu tenho poucos alunos mas todos vieram aqui desejando se auto-conhecer. Eles não vai sair daqui e depois ler tarot de outras pessoas, eu não não formo profissionais, meu interesse não é isso.
JC O que você acha do Uálber da novela?
Ricardo - Ele é meio estereotipado, é uma caricatura. Se você me perguntar se o meu trabalho tem algo a ver com o dele eu te digo que não tem, embora o papel seja muito bem interpretado. Mas no geral ele não tem muito a ver com a realidade, ele na verdade é mais uma paródia ao Walter Mercado. É totalmente caracterizado, cheios de anéis, etc.
JC - É negativo tê-lo na novela falando sobre tarot?
Ricardo - Não, não chega a ser negativo, na novela e é sério, diferente na Fernanda Montenegro em "Cambalacho", onde ela fazia umas trambicagens para ganhar dinheiro. A procura pelo tarot aumentou depois que o Uálber apareceu na televisão. Mas é modismo, logo passa.