Nem sempre o beijo foi o que sabemos ser hoje. O primeiro beijo que recebemos foi o sopro vital do criador, que com amor, através da respiração divina, nos deu o sublime beijo criando nossas almas e nossas vidas, destaca Eduardo Lambert, autor de A Terapia do Beijo. Ele lembra que na Suméria (região onde hoje fica o Iraque), as pessoas costumavam enviar beijos para os céus, endereçados aos deuses. E é no no oriente, mais especificamente na Índia, que estão as primeiras referências de beijos, esculpidas por volta de 2.500 nas paredes dos tempos de Khajuraho, cheias de imagens altamente eróticas
Na Antigüidade, o beijo materno, de mãe para filho, era bem comum. Entre gregos, os beijos na boca era observado entre todos os membros de uma família e entre amigos bastante íntimos. Os guerreiros no retorno de um combate também recebiam beijos, muitas vezes, com conotação erótica. Os gregos eram os maiores admiradores do beijo, Platão, inclusive declarava sentir gozo ao beijar.
Apesar disso, foram os romanos que popularizaram o hábito. Para explicar o beijo, o latim tem três palavras distintas: osculum, beijo na face; basium, beijo na boca; e saevium, beijo leve e com ternura. Os imperadores romanos permitiam que os nobres mais influentes beijassem o seus lábios, enquanto os menos importantes tinham que beijar suas mãos. Os súditos só podiam beijar os seus pés.
O beijo na boca, entre cidadãos da mesma classe social, era um tipo de saudação muito comum praticada pelos persas. Heródoto, no século V a.C., listou todos os tipos de beijos e seus significados entre persas e árabes. Na Idade Média, séculos XII e XIII, a saudação entre religiosos cristãos tornou-se o beijo de paz, que simbolizava a caridade e unia os cristãos durante a missa. O beijo de paz também era utilizado pela Igreja nas cerimônias de ordenação, na recepção de noviços, na missa etc., salienta Lambert. Entretanto, ainda neste mesmo período da história, a Igreja Católica proibiu o beijo caso este tivesse alguma conotação libidinosa. O beijo, afirmavam as autoridades religiosas, não tinha de ter ligação com o prazer sexual. Os fiéis passaram a beijar o osculatório e somente os clérigos da Igreja mantiveram o costume do beijo nos lábios para as cerimônias.
O beijo na boca passou também a representar uma espécie de contrato entre o senhor feudal e o seu vassalo. Era algo como dou minha palavra. Os burgueses adotaram o beijo na face como sinal de saudação; o nobres usavam o beijo na boca para o mesmo fim. Na Renascença, na Inglaterra, ao chegar à casa de alguém, o visitante beijava a boca do anfitrião, sua mulher, todos os filhos e até mesmo do cachorro e do gato. Na França, na mesma época, os nobres podiam beijar qualquer mulher que quisessem. Já na Itália, se um homem beijasse uma donzela em público, era obrigado a se casar com ela imediatamente.
Somente no século XVII que os homens deram fim ao beijo na boca, o substituíram, então, pelo abraço cerimonial. Uma das razões foi a peste negra, que assolou a Europa e deixou toda a população com medo de ser contaminada. Paralelamente, os religiosos substituíram o beijo na boca pelo beijo nos pés, o beijo nas mãos, chegando ao aperto de mão e ao abraço da paz.
Beijo romântico
Lambert lembra que, no século XIX, o surgimento do Romantismo, que dava ênfase ao individualismo, lirismo, sensibilidade e fantasias, com o predomínio da poesia sobre a razão, favoreceu aos ardentes romances e tórridas paixões. Conseqüentemente, os beijos ganharam tremendo espaço e popularidade. Com o feminismo, a mulher, muito mais liberada, não tem mais vergonha de expor seus desejos. A literatura desta época, os filmes produzidos em Hollywood (quem não se lembra das cenas protagonizadas por Vivian Leigh e Clark Gable em ...E o Vento Levou; Humphrey Bogart e Ingrid Bergman, em Casablanca; ou Burt Lancaster e Deborah Kerr, em A Um Passo Da Eternidade?), mudou hábitos tradicionais de vários povos. Por exemplo, entre os negros, amarelos, povos árabes e indianos, entre os quais o beijo não fazia parte dos costumes.
O beijo atinge seu esplendor e sua razão de ser, de existir, quando é dado com os sentimentos mais puros do amor, diz Lambert. O beijo de amor é uma forma de a boca exercer sua função de comunicar afeto, carinho, ternura e erotismo, numa demonstração da relação que existe entre oralidade e sensualidade.
Curiosidades
O beijo mais longo da História foi dado pelo casal israelense Dror Orpaz e Karmit Tsubera e durou 30 horas e 45 minutos. Depois do beijo, que aconteceu em 99, os dois foram para o hospital com esgotamento generalizado.
A escultura O Beijo, de Auguste Rodin, retrata o seu romance com Camille Claudel. Quando a obra foi exibida no Japão, foi colocada atrás de um biombo porque representava um detestável hábito europeu que não deveria ser cultivado.
O primeiro beijo do cinema foi filmado em 1896 nos Estados Unidos e foi um escândalo. O filme era um curta-metragem onde contracenavam os atores May Irvin e John C. Rice. O beijo durava 4 segundos apenas mas foi o suficiente para causar um alvoroço na imprensa, que sugeriu até a intervenção da polícia para evitar a exibição de tal espetáculo no limite da decência. Anos mais tarde, já liberado o beijo seria o grande show em Don Juan, de 1926, nele o ator John Barrymore deu 127 beijos em várias atrizes, um recorde até hoje. O beijo cinematográfico mais longo do cinema, porém, foi dado entre Steve MacQueen e Faye Dunaway, em 1968, no filme Crow - O Magnífico, durou 55 segundos. Mas quem beijou mais vezes em seus filmes no total foi Cary Grant, seguido por Clark Gable.
Segundo a sabedoria popular, olhar profundamente nos olhos de alguém é como pedir um beijo. E cada beijo tem um significado especial: - Na mão: eu te adoro - Na bochecha: eu só quero ser um amigo - No pescoço: eu te quero - Nos lábios: eu te amo - Nas orelhas: eu só estou fazendo joguinho
Fonte: Guia dos Curiosos de Marcelo Duarte