A Associação Paulista de Saúde Pública (APSP) realiza de 1º a 3 de outubro, em Santos, litoral de São Paulo, o VII Congresso Paulista de Saúde Pública. O evento propõe resgatar a agenda social da saúde sob os eixos da inclusão social, justiça e eqüidade. Para debater estas questões, o VII Congresso tem como tema central, Saúde e Democracia.
Coordenados pelo diretor técnico do Centro de Saúde Escola, Antônio Pithon Cyrino, profissionais da Saúde de Botucatu realizaram no último final de semana um pré-congresso para discutir os temas que serão abordados em Santos e, dessa maneira, levar novidades para o Congresso.
De acordo com a botucatuense representante da Fundação Uma Nova Iniciativa (UNI) ligada à saúde, Remédios Mira Fernandes, o encontro realizado em Botucatu é um avanço da preocupação dos profissionais da saúde em ouvir o que a população tem a dizer. Isso vai contribuir para o melhor atendimento e para as reformas políticas que ocorrerão na área de saúde, disse. Quanto as prioridades, Remédios destaca a falta de medicação. O desemprego é grande, as condições de moradia são precárias, e isso tudo traz problemas de saúde. Falta remédio e isso é uma das prioridades para essas pessoas que, quando têm problemas, querem resolver rapidamente, afirmou.
A socióloga e professora do departamento de Saúde Pública da Unesp de Botucatu, Ione Morita, que também participou do encontro, disse que o debate foi extremamente rico nas reflexões e faltou a presença de mais usuários da saúde pública. Nós temos a vantagem de contar com uma estrutura organizada do nível de assistência básica até atendimento especializado. Botucatu é uma cidade que tem uma capacidade muito grande para resolver os problemas existentes, tendo uma perspectiva bastante boa na área da saúde pública. Botucatu tem índices que indicam uma saúde relativamente boa que são superior ao do Brasil como um todo, como por exemplo o índice de mortalidade infantil, disse.
Ione disse ainda que a Unesp, por ter departamento de saúde pública e estar envolvida com a rede pública, tem papel fundamental no município e na região. A Universidade tem formado profissionais de saúde para nossa região. Várias pessoas passam pelos nossos cursos de especialização e, com isso, vão se aprimorando nessas questões políticas relacionadas à saúde pública, afirmou.
A professora da área de Saúde da Universidade de campinas (Unicamp) e da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas, Elizabeth Leoni M. Smeke disse que o debate realizado em Botucatu foi muito importante porque amplia uma discussão que é extremamente relevante e necessária que é a da participação do usuário na formulação das políticas públicas. Como saúde é um bem resultante das condições de vida e de trabalho estabelecidas, precisa da educação, da assistência social, do lazer, da cultura e isso apareceu aqui. Então, é importante que a gente mobilize as pessoas que estão diretamente envolvidas numa saúde melhor para todos, não como uma ausência de doenças, mas como qualidade de vida, afirmou.
Ela disse, também, que a saúde pública no Brasil está num momento de desenvolvimento. Eu vejo a questão da saúde pública com uma problemática, mas problemas teremos sempre. É um processo de construção, nós já estivemos em situação muito pior. Hoje, os problemas aparecem e, dessa forma, fica mais fácil a resolução dos mesmos. Países desenvolvidos optam pela saúde socializada, então eu sinto que, para o profissional da saúde, falta se orientar nessa lógica de que não é porque ele é trabalhador de serviço público que ele é menos importante. Nós temos serviços públicos de saúde da melhor qualidade. Se houver a capacidade crítica de construir um serviço melhor, estaremos produzindo uma qualidade de vida muito melhor, finalizou.
Infra-estrutura perfeita
O secretário municipal de Saúde de Botucatu, Valdemar Pinho esteve presente no pré-congresso, onde participou dos debates colocando a situação atual da Secretaria Municipal de Saúde. Ele afirmou que Botucatu tem inúmeros problemas, mas já começam a vislumbrar soluções. Essa discussão sobre o respeito a opinião do usuário, da democracia é muito importante. Não é fácil, não temos soluções mágicas, mas eu acredito que vamos poder ter um SUS mais resolutivo, a partir do momento em que equacionarmos as questões técnicas e financeiras, mas, principalmente, no momento em que os usuários poderem participar das decisões, dando opinião sobre o que é melhor. Para isso, eles precisam ter um maior conhecimento, mas nesse ponto, eu acho que vamos ter um sistema que é o previsto, onde a participação do usuário e a democracia são pilares desse sistema, disse.
Pinho lembrou que vários representantes de cidades da região participaram do encontro e isso foi muito importante, de acordo com ele. É extremamente importante trocarmos experiência para crescer e melhorar sempre, afirmou.
O secretário disse que é preciso mudar o modelo assistencial existente atualmente em Botucatu. Nós temos tudo para ter um sistema perfeito, mas não temos. É preciso organizar o modelo assistencial de forma que ele renda mais, que ele resolva mais os problemas, enfim, eu diria que nós temos a infra-estrutura necessária e agora precisamos trabalhar com isso para obtermos melhores resultados, explicou.
Discussão
O evento em Santos reunirá mais de uma centena de especialistas das áreas de saúde, educação, meio ambiente, trabalho, habitação, abastecimento, serviços, comunicação, dentre outras. São esperados cerca de 1.500 participantes, entre profissionais de saúde, professores, administradores e gestores públicos, representantes de organizações e movimentos sociais, além dos expositores dos cerca de 600 trabalhos científicos já inscritos. Destaque para as presenças de Eduardo Jorge, secretário de Saúde da cidade de São Paulo e de José da Silva Guedes, secretário Estadual de Saúde que participarão da mesa de abertura do evento, além de representantes do Conselho Estadual de Secretários de Saúde do Estado de São Paulo, de universidades e de organizações da área de saúde. O evento conta também com a participação do escritor Moacir Scliar, integrante da mesa Saúde, Cultura e Democracia.
O principal objetivo do encontro é buscar alternativas e soluções para os diversos problemas relativos ao acesso democrático e justo à saúde de qualidade.