Geral

Efeito do câmbio

(*) Antonio Delfim Netto
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Ao contrário do que supunham os técnicos do governo e um grande número de analistas, a taxa de câmbio está produzindo resultados importantes nas exportações. Nos últimos 12 meses o volume físico de nossas exportações cresceu significativamente apesar da queda do ritmo de crescimento da economia mundial. Já temos algum saldo na balança comercial, mostrando os primeiros resultados positivos, depois de seis anos seguidos, em que acumulamos um enorme déficit e aumentamos o endividamento.

Obviamente, as exportações não dependem apenas do câmbio. Dependem também do comportamento da economia mundial: se ela está crescendo aumentam as compras no Brasil e se ela entra em ritmo lento fica mais difícil exportar. Mas o fator mais importante é a taxa de câmbio real, que é o mecanismo que temos para enfrentar os nossos competidores no mercado mundial. É por essa razão que o câmbio não pode ser amarrado a sistemas rígidos de taxa fixa, nem submetido a um processo de supervalorização de nossa moeda, como se verificou desde o início do Plano Real até janeiro de 1999.

No período de doze anos, de 1986 a 1998, tivemos três congelamentos da taxa de câmbio: no Plano Cruzado, no Collor I e II e no Plano Real. Ao término dessa etapa, o setor exportador brasileiro estava praticamente desmontado. Em 1984/1985, nossas exportações representavam 1.5% das exportações mundiais e hoje participam de apenas 0.9% desse comércio. Há dezesseis anos, exportávamos mais do que a Coréia e a China; hoje, a Coréia exporta duas vezes mais do que o Brasil e a China cinco vezes mais! A diferença é que eles não congelaram o câmbio. Se apenas tivéssemos mantido o nível de participação no comércio mundial, estaríamos exportando hoje algo como 100 bilhões de dólares e não os 60 bilhões atuais. Nosso retrospecto é terrível e é difícil acreditar que tenhamos suportado por tantos anos tamanhos equívocos na política cambial. O maior deles aconteceu na vigência do Plano Real: foram quatro anos de supervalorização cambial, sustentada por taxas de juros exorbitantes, o que produziu não apenas o agravamento da crise no setor exportador, mas também penalizou duramente todo o setor produtivo de nossa economia.

Com a mudança do regime cambial para um sistema de taxa flutuante, o setor exportador vem se recuperando lentamente. Não cresce mais rapidamente porque ainda não se libertou do peso excessivo da carga tributária e o crédito disponível continua escasso e com taxas de juros muito superiores às de nossos concorrentes. A taxa de câmbio vem fazendo a sua parte, revigorando as nossas exportações e estimulando nosso pessoal a reconquistar o espaço perdido para competidores que se beneficiaram de políticas de câmbio mais inteligentes e do suporte firme de seus governos. A verdade é que países como a China, Coréia, México, Chile e quase todos os asiáticos, souberam aproveitar um período de forte crescimento do comércio e da economia mundiais, por toda a década de 90. Nós perdemos a oportunidade e agora temos que recomeçar em circunstâncias difíceis, com o crescimento mundial em ritmo lento, o fantasma da recessão rondando as economias mais fortes do Planeta e em conseqüência um comércio menos dinâmico e muito mais competitivo.

(*) Antonio Delfim Netto é deputado federal pelo PPB-SP, professor emérito da USP.E-mail: dep.delfimnetto@camara.gov.br

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