Jaú - De acordo com o tenente Malco Basílio, da Polícia Militar de Jaú, a idéia de realizar um treinamento específico sobre invasão e resgate de reféns surgiu no início do ano, após um curso de tiro em Bauru.
Segundo ele, o intercâmbio com os policiais do Gate só foi possível graças ao apoio recebido dos comandos da polícia em Jaú e Bauru. É a primeira vez que uma unidade militar do Interior do Estado recebe instruções sobre técnicas de invasões táticas, gerenciamentos de crises e negociação com refém.
A informação é do tenente Malco, que lembrou também o apoio recebido da comunidade e de clubes de serviços sociais que, segundo ele, custearam a vinda dos instrutores e a aquisição de materiais para o treinamento.
O tenente conta que foram quase seis meses de contato e trâmites burocráticos até ver o curso tornar-se uma realidade. Fui convidado para participar do curso em Minas Gerais, mas não tinha condições de levar um grande efetivo para lá, devido aos custos. Após vários contatos, eles (instrutores do Gate) se propuseram a montar uma equipe e vir até Jaú dar as instruções, revelou.
Além do subcomandante e capitão da PM Eduardo Lucas de Almeida, participaram do treinamento o 3º sargento Renato Diniz dos Santos Girão, 34 anos, o cabo Rolando Marcelino, 33 anos, e o soldado Heber Rodrigues de Paula, 34 anos. Todos há 15 anos no Gate.
No currículo do capitão Lucas estão vários cursos no exterior, principalmente na Swat americana. Desde que começou a ministrar cursos pelo País, há mais de quatro anos, ele diz já ter formado cerca de 4.800 policiais. Segundo ele, Jaú foi a primeira cidade paulista a recebê-lo como instrutor.
Apesar do Estado contar com equipes do Gate, tenente Malco explicou que a dificuldade de trazê-los até Jaú é bem maior. Deslocar policiais do Gate para cá, por uma semana, poderia comprometer até mesmo a segurança da Capital, acredita o tenente. De acordo com ele, a demanda na cidade de São Paulo pelos serviços do Gate seria muito grande, o que dificultaria o deslocamento de uma parte do grupo.
Segundo o tenente, novos treinamentos estão agendados para janeiro do próximo ano.
Gate nasceu no RS
O embrião do que viria a ser o Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) começou a se desenvolver em 1988, no Rio Grande do Sul. A informação é do major Heitor Sá de Carvalho Júnior, da polícia gaúcha.
No site www.militar.com. br ele conta que o Gate nasceu amparado apenas no idealismo. Segundo o major, analisando algumas ocorrências atendidas na época teria ficado evidente o despreparo técnico-profissional dos policiais para situações especiais, que necessitasse de equipes treinadas e equipadas para tal.
Entre essas situações o major cita ocorrências com refém, ações repressivas ao tráfico de drogas, motins em presídios. O despreparo policial para ações semelhantes, segundo o major, teria ocasionado resultados desastrosos, sem dar exemplos.
Em seu histórico sobre o nascimento do Gate, o major gaúcho, revela ainda que o uniforme utilizado pela equipe foi inspirado no fardamento usado por um grupo antiterrorismo inglês.
A cor preta era predominante no fardamento, composto pela farda, touca e luvas. Para o major, a cor preta era ideal para aproveitar o efeito da sombra, em áreas urbanas, e serviria até mesmo como fator psicológico.
O primeiro uniforme usado pelo Gate teria sido doado pelo Exército. Depois de ser considerado sem serventia, o fardamento foi todo costurado e tingido de preto, segundo relato do major.
A criação de uma equipe com treinamento específico para tratar de ocorrências com refém era tida como necessária. A meu ver, seria como mandar um médico oftalmologista coordenar uma operação no coração. Pode dar certo, mas eu não queria ser o paciente, disse o major referindo-se a uma suposta diferença entre o serviço do Gate e das unidades convencionais da polícia.